IANIRA VIEIRA analisa o fenómeno de "hallyu" ou onda coreana como elemento de política externa ou "soft power" da Coreia do Sul e explora a sua potencialidade tendo em conta as limitações impostas pelo cenário geopolítico do país.
O termo “soft
power” cunhado por Joseph Nye , é uma extensão de “hard power” e
refere-se à capacidade de um Estado influenciar o comportamento de outros Estados sem
que seja necessário o uso de alguma forma de coerção. A eficácia de “soft
power” é frequentemente um tema de debate nas Relações Internacionais por causa
da dificuldade em quantificar os seus resultados. O próprio Nye reconheceu os
limites de “soft power”, ou seja, a dificuldade em ser utilizado para obter resultados específicos e os seus efeitos difusos na política externa.
A República da Coreia ou Coreia do Sul é um país da Ásia Oriental situado no sul da península da Coreia. A Coreia de Sul, já foi uma antiga colónia do Japão com o qual faz fronteira a leste, partilha a sua fronteira terrestre com Coreia do Norte, e a oeste com a China. Por outras palavras, a Coreia do Sul é uma nação entre Estados muitos poderosos, com os quais já travou diversos conflitos, no sistema internacional com o acréscimo de Estados Unidos de América e a Rússia.
Hallyu, um neologismo criado por jornalistas de Pequim, diz respeito ao aumento de popularidade de elementos da cultura coreana, como pop coreano e dramas coreanos, desde a década de 1990. No primeiro período, a onda coreana expandiu para os países mais próximos como a China e o Japão. Na primeira década do século XXI, alastrou para o resto de países asiáticos e alcançou estatuto global com o aumento de popularidade na América Latina e Oriente Médio com estrelas de hallyu como Girl´s Generation, 2NE1 e a música popular “Gangnam Style” de Psy. Atualmente, a onda coreana é um fenómeno popular globalmente reconhecido. Em 2020, o filme Parasitas venceu quatro das seis nomeações na 92.ª cerimônia de entrega dos "Academy Awards" e a série distribuída pela Netflix "Crash Landing on You" foi um grande sucesso mundial. O pop coreano abrange vários géneros musicais como dance-pop, baladas pop, techno, rock, hip-hop, R&B e tem como um dos representantes o conceituado fenómeno global musical, BTS vulgo Bangtan Sonyeondan. Até à data, BTS é o mais bem-sucedido expressão de hallyu tendo alcançado feitos impressionantes nos gráficos musicais e nomeados à prémios ilustres do "maior mercado musical" como MTV Video Music Awards, Billboard Music Awards e Grammy Awards. Em Portugal, BTS tem liderado a lista de álbuns mais vendidos no país em continuidade com o que é verificado no resto mundo. Um estudo recente de Harvard Business School analisa o grupo musical e o seu impacto na Coreia do Sul e no mundo. Consequentemente, a língua coreana, segundo Statista em 2019, é a língua estrangeira que os estudantes universitários estadunidenses têm aprendido mais. E por isso, a revista britânica Monocle classificou a Coreia do Sul em segundo lugar na sua pesquisa anual de "soft power " em 2020.
Décadas após o fim da Guerra da Coreia, a Coreia de Sul para maior parte das pessoas ainda só aparece em relação à Coreia de Norte. Não existem dúvidas que hallyu contribui para uma imagem mais positiva da Coreia do Sul. Mas, a questão é se hallyu ou onda coreana é capaz de ultrapassar as questões geopolíticas. Embora hallyu já tenha sido utilizado como elemento de "soft power" antes, particularmente como elemento de troca nas relações entre Coreia do Sul e Coreia do Norte, as suas limitações são conhecidas. Assim, relembro o grupo sul coreano Red Velvet se ter apresentado para o líder norte-coreano Kim Jong-un em 2018. Por exemplo, entre a Coreia do Sul e o Japão, apesar dos japoneses apreciarem hallyu, segundo uma pesquisa de opinião pública, continuam a ter más impressões da Coreia do Sul principalmente por causa de disputas sobre o passado colonial como o caso de "Comfort Women". Contudo, também em 2020, um acontecimento mostrou a capacidade de hallyu. Em 2020, quando BTS recebeu "James A. Van Fleet Award" o discurso do líder do grupo foi interpretado como unilateral e desmerecedor da intervenção chinesa na Guerra da Coreia. Muitos esperaram uma reação adversa e um incidente diplomático, mas a ofensiva nacionalista chinesa não durou dois dias. Na China, apesar de apelo ao boicote de produtos de BTS, fãs chineses continuaram a suportar o grupo.
Findo a análise para afirmar que hallyu tem a capacidade de ser uma fonte de "soft power" se for bem aproveitada pelo governo coreano. Hallyu como elemento de política externa da Coreia do Sul não consegue ultrapassar a questão geopolítica. Porém, no mundo anárquico de relações internacionais em que os acordos são sempre provisórios, os Estados que não são grandes potências não devem relegar o potencial de "soft power".
Imagem: O fenómeno sul coreano, BTS, no concerto virtual Map of the Soul ON:E, que estabeleceu um novo recorde de audiências, que anteriormente também pertencia ao grupo, com 993 mil ingressos vendidos em 191 países e regiões.
Fonte da imagem: 방탄소년단
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