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A reconstrução da relação da União Europeia com os Estados Unidos

 



A relação entre os Estados Unidos da América e a União Europeia deve ser reconstruída, defende Kyara Barros. 
A eleição de Donald Trump custou à política externa norte- americana a sua relação com a União Europeia. Agora com a eleição do Presidente Joe Biden, novas oportunidades surgem. Chega a altura de reconstruir a relação da União Europeia com os Estados Unidos, com a administração Biden, que apresenta os seus interesse e objetivos. A Europa por sua vez, também tem as suas prioridades de política externa. Ambos podem convergir ou divergir ao abordar as prioridades de política externa.  Face a isso, as relações entre atores estatais, são necessárias propostas com efeito de curto e longo prazo para uma relação mais cooperativa, é necessário reconstruir uma confiança e trabalho em conjunto, através da construção de um diálogo entre ambos os lados.

Esse é o panorama da primeira fase, após a eleição de Joe Biden, após os danos causados no passado, isso tudo no contexto atual. É o primeiro choque onde são apontados os pontos convergentes e divergentes. A segunda fase é mais benigna, dá-se uma mudança de panorama em que os Estados Unidos poderão ajudar a UE a amadurecer a sua política internacional. Aqui fica comprovada a relevância da relação transatlântica, e o porquê de ser necessário que essa relação recupere a sua estrutura e confiança.  As opiniões europeias sobre os EUA e a sua liderança têm declinado continuamente ao longo do tempo, e com a administração do antigo presidente dos EUA, Donald Trump a situação agravou-se, ao ponto de os alemães ficarem divididos entre os EUA e a China como seu parceiro preferido.

 O mundo pós-pandemia vai impor à Europa e aos EUA a responsabilidade de promover a saúde como bem comum global, e de contrariar o impacto da recessão económica nos países de baixos rendimentos. Ambos os atores no caso, nos seus países, abraçam uma economia verde e digital como forma de renovação, ou seja, partilham das mesmas visões para o futuro.

Na sua agenda o Presidente Joe Biden inclui a cura das divisões de polarização e as deficiências democráticas da América. O Estados europeus e a UE também enfrentam os retrocessos democráticos e pela ascensão do autoritarismo e do populismo. Torna-se necessário que os Estados Unidos e a Europa reformem vigorosamente as suas democracias para contrariar o atrativo do modelo autoritário.  Uma agenda partilhada que proporciona muitas oportunidades para dar um novo valor à cooperação do outro lado do atlântico, mas independente de qual seja a visão para o futuro, a UE precisa reforçar o seu empenhamento internacional e assumir a responsabilidade. O transatlântico e a autonomia estratégica não são mutuamente exclusivos.

Dadas as atuais circunstâncias de Pandemia, no âmbito da saúde pública global, a luta contra o coronavírus e a reforma da Organização Mundial de Saúde, é uma oportunidade única para demonstrar responsabilidade e solidariedade na distribuição de vacinas e prevenir a politização da saúde pela China e Pela Rússia no mundo em desenvolvimento. Outras instituições internacionais estagnadas também podem obter um impulso, como é o caso da Organização para a segurança e a Cooperação na Europa, a Organização Mundial do comércio e a NATO.

Para que a relação entre estes dois atores funcione e prospere são necessários esforços de ambas as partes. No caso dos Europeus, podem agir rapidamente para criar um contexto que permita o regresso dos EUA ao acordo nuclear Iraniano de 2015, apesar da política de terra queimada das últimas semanas da administração Trump. É necessário beneficiar a administração Biden com um voto de confiança. Muito se perdeu com a administração Trump, é necessário uma cooperação e confiança para ultrapassar os danos e prosperar. Biden não só voltou a juntar-se ao acordo, como também declarou um compromisso de trabalhar em iniciativas de não proliferação e controlo de armas. Essas são áreas que poderiam contar com o apoio dos Estados Europeus.

A UE deve aproveitar os seus pontos fortes como o seu papel global e de normalização, o seu poder económico e a sua rede diplomática de representações da UE e dos Estados- Membros em todo o mundo e em instituições globais. Salientar os pontos fortes irá mostrar como pode ser vantajoso a sua cooperação, torna a EU um parceiro mais atrativo para a cooperação.

Outra estratégia que a UE pode seguir é tornar mais flexível e ágil os formatos de cooperação, dado que os seus mecanismos podem ser complicados para terceiros. EUA e Reino Unido são os dois parceiros mais próximos da UE, apesar dos descarrilamentos de Trump e do Brexit, mas mesmo assim exigirá que a UE esteja unida enquanto opera em formatos flexíveis. A UE tem um fator em falta, que uma melhor capacidade de unidade, face a isso a UE deve adotar uma estratégia para melhorar essa falha, que no caso seria, debates inclusivos para os países mais pequenos da União Europeia, enquanto esta estiver a ser representada pelos seus maiores Estados-membros em reuniões internacionais.

O ideal é uma cooperação com esforços de ambos os atores, EUA e UE. A diplomacia dos EUA pode atuar no caso dos países que têm o comum objetivo de enfraquecer a influência europeia e norte-americana. Esses países são nomeadamente, Israel, China, Rússia, Arábia Saudita e Turquia, e têm tido sucesso a realizar esse objetivo com recursos militares e híbridos. Apesar de neste ponto a diplomacia norte-americana poder atuar mais, exigirá que a Europa mantenha a Rússia à distância e forneça liderança no Mediterrâneo Oriental e na Líbia. Desse mesmo modo, os aliados transatlânticos convergirão para a necessidade de manter a relevância da NATO, ao mesmo tempo Washington espera que os membros europeus da NATO assumam uma maior parte dos encargos com a defesa.

A União Europeia e os Estados Unidos, formam a espinha dorsal do ocidente, e a Europa é o parceiro júnior, daí os apelos a uma maior autonomia da EU serem recebidos com ceticismo por parte dos atores de ambos os lados do Atlântico, que consideram prejudicial para a relação União Europeia e Estados Unidos, e para o ocidente em geral. A fraqueza do ocidente deve-se ao privilégio de hegemonia global, que se manteve enquanto o ocidente proporcionasse os dividendos de paz e prosperidade ao resto do mundo. Mas o problema é que esse mundo deixou de existir há muito tempo. É necessário desligar-se dos contextos passados, e focar no futuro da cooperação que será alcançada entre a União Europeia e os Estados Unidos, que deverá ser inclusiva e aberta ao envolvimento e à parceria com países de todo o mundo.

Fonte imagem: https://www.dw.com/pt-br/ue-mostra-alívio-com-biden-mas-futura-relação-não-deve-ser-livre-de-conflitos/a-55545301


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