Rita Sousa salienta a relevância da teoria realista das relações internacionais, dominante no decorrer da guerra fria, que volta a ser aplicada numa guerra combatida noutra frente com um novo opositor.
A teoria realista defende que os assuntos internacionais consistem numa luta de poder entre estados com interesses próprios, apresentando uma perspetiva pessimista das relações internacionais. Hans e Niebuhr, acreditavam que os estados, como os seres humanos, tinham como principal objetivo a obtenção e o exercício do poder. esta ambição levaria ao conflito entre os estados. Esta teoria fornece explicações simples, mas poderosas relativas à guerra, às alianças, ao imperialismo, aos obstáculos e à cooperação, entre outros fenómenos internacionais, que provam ser relevantes no decorrer da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, tal como na guerra fria.
Com o final de 2018, parecia também chegar ao fim as exageradas taxas alfandegárias existentes entre os Estados Unidos e a China, atingindo centenas de milhares de milhões de dólares, no entanto esse não foi o caso, Trump subiu em 25% as tarifas num conjunto de produtos chineses. Ameaçou ainda, o aumento de tarifas a um novo lote de produtos chineses que não tinham sido ainda atingidos. Neste conflito, a China atribui a culpa ao opositor, os Estados Unidos, pelo agravamento da disputa. Desta forma, a China divulgou um relatório no qual afirma que não irá recuar nos seus princípios.
No centro deste conflito, encontra-se, o plano da China de tornar as suas empresas estatais em atores globais no setor tecnológico, em áreas como, a inteligência artificial, energia renovável e carros elétricos. Na visão norte americana, o plano de Pequim viola o compromisso do país de abrir o seu mercado, forçando as empresas estrangeiras a transferirem a sua produção e atribuir subsídios às organizações domésticas, enquanto são protegidas pela concorrência.
Ambos os países consideram defender o lado correto neste conflito, apresentando os seguintes motivos:
O motivo oficial por parte dos EUA para a guerra das tarifas com a China, prende-se, com a estratégia injusta adotada pelo seu opositor. As suas empresas aproveitam-se do mercado aberto americano, mantendo o seu mercado fechado a produtos e empresas americanas. Esta competição injusta leva á menor procura, ao fecho de fábricas e perda de empregos nas indústrias americanas mais afetadas por esta competição. Deparando-se com esta situação, os Estados Unidos viram-se obrigados a impor sanções a produtos e empresas chinesas.
Segundo Panos Mourdoukoutas, existem também motivos não oficiais para a guerra das tarifas. A principal razão apresentada é o rápido crescimento da China no setor tecnológico, pela primeira vez os Estados Unidos têm um opositor que o pode ultrapassar na corrida tecnológica.
A perspetiva chinesa face à guerra comercial, segundo Zhang Hanhui, é meramente reativa, afirmando que “somos contra a guerra, mas não temos medo dela”. Desta forma, a China opõe-se ao recurso sistemático de ações comerciais e ao protecionismo.
Trump colocou na lista negra a marca Huawei, restringindo esta marca nos EUA, e como reação, a China interrompeu a exportação de metais raros, essenciais para o fabrico de carros, smartphones e computadores. Este corte teve um forte impacto na economia americana, visto que 80% das suas importações desses metais vêm da China.
Com o início da presidência Biden, inicia-se também uma nova abordagem relativamente à política externa americana, no entanto, a estratégia utilizada para lidar com a questão chinesa não parece que vá mudar tão cedo.
Joe Biden, o atual presidente dos Estados Unidos da América, declarou, que não irá de imediato tomar qualquer decisão quanto às tarifas aplicadas sobre os produtos e empresas de origem chinesa. Considera necessário, em primeiro lugar, rever o acordo previamente realizado pelo presidente Trump, e de seguida, consultar os aliados dos EUA na Ásia e na Europa, de forma a desenvolver uma estratégia coerente. Para isso será necessário, reafirmar as alianças que ficaram fragilizadas com a anterior administração.
Biden afirmou, que para lidar com a China precisa de adquirir uma vantagem que considera não ter ainda. O investimento na indústria interna e no emprego dos americanos será prioritário, só quando a América estiver fortalecida internamente, poderá ser realizado outro acordo.
Para concluir, apresento algumas reflexões quanto ao que considero que serão os novos desenvolvimentos na relação entre os Estados Unidos e a China:
Biden tem uma decisão essencial a tomar, por um lado, pode manter-se nesta guerra que parece não ter sentido lutar (sendo que a manutenção desta situação é prejudicial para a conjuntura económica interna) ou em conjunto com os seus aliados, forçar a china a respeitar os princípios comerciais e deixar de realizar uma competição que considera injusta. Ora, esta última ideia parece ser demasiado otimista.
A China provou, vezes sem conta, que é capaz de fazer frente aos seus opositores, visto que é a fabrica do mundo, a economia mundial é dependente dos seus produtos e das suas empresas, principalmente no contexto pandémico que atravessamos, sendo a China o principal produtor de equipamentos de saúde, tendo como exemplo os ventiladores.
A estratégia de Biden, de fortalecer a economia nacional para quebrar a sua dependência da China, principalmente no que toca aos metais raros, pode atribuir aos Estados Unidos a vantagem que Biden procura, mas sem apoio o internacional poderá não produzir efeitos.
A única forma de a américa ficar a ganhar nesta situação, será, através da abertura do mercado chinês a produtos e empresas americanas, no entanto, esse acordo já foi realizado no passado e não foi devidamente cumprido, por isso, mesmo que seja realizado um acordo amigável com a china, nada garante que este seja cumprido.
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