SOFIA RODRIGUEZ argumenta que a Bielorrússia é um aliado estratégico da Rússia, e que os protestos que ocorreram durante Agosto podem vir a alterar significativamente esta aliança e área.
A Bielorrússia, também conhecida
como Rússia Branca, ao contrário dos restantes estados que pertenceram, à
antiga União Soviética, era o que possuía menor raízes culturais próprias, não
tendo uma identidade nacional tão forte e poderosa, devido a estar sob o
controlo da Rússia há mais de 200 anos, daí que a população fale “preferencialmente a
língua russa, com o idioma bielorrusso como segunda língua.”.
“Set up in 1999 to help mitigate the consequences of the breakup of the Soviet Union” cria-se um tratado entre a Rússia e a Bielorrússia chamado de Union of State, e a sua ideia principal era os dois países de modo progressivo e paulatino unirem-se e passar a existir um único Estado. Porém, na realidade esta união nunca foi concretizada, e acabou por ser mais uma relação económica, para ajudar e controlar a Bielorrússia por parte do Kremlin, tornando a Rússia Branca dependente, especificamente em energia.
A Rússia Branca, no domínio
da geopolítica é considerada uma ”zona-tampão,
uma área estratégica fundamental para a (…)segurança” da Rússia, daí que o
mesmo tenha bastante relevância para a política externa formulada no Kremlin. A
Bielorrússia faz fronteira a Norte e a Oeste com estados-membros da União
Europeia e da NATO como a Polónia, Letónia e Lituânia, isto implica que existem
tropas inimigas da Rússia muito perto da sua fronteira, caso a Bielorrússia deixe
de cooperar com a mesma. E as suas fronteiras a sul são com a Ucrânia que teve
um conflito armado com a Rússia durante esta década.
A Bielorrússia nos anos mais recentes tem se vindo aproximar mais do ocidente, para começar a perder a sua dependência relativa à Rússia, e com isto a classe média deste país tem vindo a ser influenciada pelos valores neoliberais de uma sociedade consumista ocidental. Porém também não se deve assumir que o povo da Rússia Branca ao ter esta aproximação ao ocidente signifique que queira implementar necessariamente o modelo económico neoliberal, visto que nos estados pós-soviéticos “traz ainda maior degradação econômica, desigualdade social e impotência política das massas do que os sistemas anteriores”.
Deste modo, 2020 foi um ano crítico
para a Bielorrússia, pois em agosto houve eleições presidenciais que foram
consideradas fraudulentas não só pelo Ocidente, como também pela população bielorrussa
que fez os maiores protestos da história do seu país e que o principal motivo
de revolta “é
a estagnação econômica e a desigualdade social, e não apenas a ausência de
liberdades políticas e
de expressão”.
Putin no início do conflito teve
alguma relutância em ajudar o seu vizinho a oeste, uma vez que a mesma possui
uma política externa de “não
ingerência” no qual, acredita que não devem existir intervenções
estrangeiros nos assuntos internos de um estado. Todavia, a doutrina de Putin
considera que a instabilidade em países vizinhos, é uma ameaça para a paz e
prosperidade da Rússia, o que lhe dá o direito de intervenção nesta situação.
Todavia não se pode dar ao luxo de
perder um aliado do Union of State, nem que na sua esfera de influência
geográfica se implemente um regime democrático, visto que isso levanta questões
para com a sua própria legitimidade. “He
does not want to set a dangerous precedent”. Para além de que se o mesmo
não tivesse intervindo, os protestos poderiam ter escalado rapidamente e
colocar um novo líder, eleito de modo democrático, na Bielorrússia e o Kremlin “would
be facing a figure with divided loyalties who would be much less predictable”.
Porém,
o presidente russo sabe que “sticking
with Lukashenko is not a winning strategy either” uma vez que isso implica
para a Bielorrússia, tornar-se escrava de Moscovo algo não desejado pela
população, como também pelo Lukashenko, para além de que para tal acontecer o
governo russo teria de investir bastante dinheiro a nível militar de modo a
controlar a situação.
Deve-se acrescentar que para a nova
geração bielorrussa, “there is
no place for the unification of the peoples of Russia and Belarus” , ou
seja, pretende afastar a ideia ocidental no qual o seu estado não passa de uma outra
‘comunidade russa’, sem raízes e identidade culturais próprias, porém a mesma não
só as possui como quer traçar um caminho de modo independente.
Por fim, o desejo de um novo líder
na Bielorrússia é uma exigência pelo povo, mas muito dificilmente se tornará
uma realidade, devido não só à elite que protege Lukashenko como também à
necessidade de Putin manter alguém no poder político neste estado tampão que
lhe seja leal.
Fontes:
Figura 1: https://www.reuters.com/article/us-belarus-election-breakingviews-idUSKCN25E16B
Figura 2: https://www.todamateria.com.br/mapa-da-europa/
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