Henrique Coelho acredita que a História ensina-nos que são vários os motivos pelos quais a União Europeia deve ter como prioridade a integração dos países dos Balcãs Ocidentais.
O processo de integração dos países Balcãs Ocidentais na
União Europeia não é recente, sendo que Montenegro, Sérvia, Albânia e Macedónia
do Norte já se encontram em processo de negociação para adesão à UE há vários anos. Temos
ainda a Bósnia e Herzegovina, bem como o Kosovo, dois países da região que são
reconhecidos como potenciais candidatos à adesão. Oficialmente, a UE está em
permanente fase de alargamento, mas também é verdade que os sinais
dados por líderes políticos representantes da União dão a entender que não
há, neste momento, grande interesse dentro das instituições europeias em alargar o número de
Estados-membros. Há vários factores que justificam esta atitude: tanto questões
internas de opinião pública dentro dos Estados-membros, bem como a constatação
de que alguns dos países que entraram nos últimos processos de alargamento não
cumpriram com questões essênciais no âmbito da UE, em matérias relacionadas com
corrupção ou níveis de democraticidade das instituições nacionais.
Não obstante, é importante que a União Europeia olhe para
esta região e saiba interpretar os sinais e fenómenos que têm vindo a acontecer
nos Balcãs Ocidentais, dando a relevância devida a uma região que já mostrou
por diversas vezes ao longo da história ser um ponto estratégico ao nível comercial,
militar e geopolítico. Não esquecendo, também, que cada um destes países se
encontra em níveis diferentes no que toca aos objetivos delineados pela UE para
a adesão à organização, pelo que é imperativo que este processo seja feito
passo-a-passo, de forma gradual.
A última
eleição para o parlamento montenegrino teve resultados históricos: a
derrota do partido que se perpetuou no poder durante 30 anos e a formação de um
governo liderado por um primeiro-ministro que coloca a adesão à União Europeia
como medida prioritária para o seu mandato. Zdravko
Krivokapić deixou um sinal claro aquando da sua visita a Bruxelas, duas
semanas após a tomada de posse – a primeira visita oficial realizada pelo novo
chefe de governo do Montenegro.
O discurso do novo governo relativamente à União Europeia
é uma consequência dos indícios dados pelos cidadãos montenegrinos. Estes
indícios não se cingem apenas ao Montenegro mas a toda uma região que olha para
a União Europeia como sinónimo de progresso e desenvolvimento. Assim, cresce
por toda a região o sentimento no seio das sociedades balcânicas de integrar
o projeto europeu, com especial ênfase nas gerações mais novas. Para estas
populações, a UE representa um farol de prosperidade e de mudança nos seus
países. Cansados de líderes com tendências autocráticas, corrupção generalizada
e pouca transparência das instituições públicas, cada vez mais cidadãos olham
para as instituições
europeias como o garante desta tranformação desejada.
Isto representa algo muito importante para a União
Europeia, uma vez que, por questões históricas, alguns países desta região
sempre mantiveram uma visão bastante negativa em relação ao ocidente. A
alteração deste paradigma oferece à UE a possibilidade de aumentar a sua esfera
de influência sobre países como a Sérvia, que contam com laços centenários com
a Rússia, e que parecem procurar cada vez mais uma aproximação junto das
instituições europeias. Sendo certo que esta aproximação não se deve apenas ao
sentimento das populações em relação à Europa, mas também porque os líderes
destes países têm se vindo a aperceber das vantagens económicas que estão
associadas à pertença ao “Clube dos 27”. Persuadidos pelos fundos europeus, mas
relutantes em relação às reformas requeridas pela UE, a situação pandémica a
nível global veio acelerar esta aproximação dos líderes balcânicos junto das
instituições europeias. Sendo perceptível que os interesses das lideranças
políticas destes países não são necessariamente os mesmos que os das suas
populações, importa também que a UE tenha esse factor em consideração.
É muito importante que a UE esteja à altura de responder
aos anseios destas populações. Por diversos motivos: porque a História nos
demonstra que esta é uma região bastante volátil, alvo de vários interesses
geopolíticos, e onde a UE não pode deixar de ter influência. Porque os
alargamentos do passado, especialmente aqueles que integraram os países surgidos
da queda da União Soviética, permitiram apaziguar conflitos históricos entre
povos, promovendo a estabilidade e a paz nessas mesmas regiões. Algo que se
pode suceder na região dos Balcãs, região onde ainda hoje é possível sentir a
hostilidade e marcas de ódio deixadas pelos conflitos armados que se fizeram
sentir ao longo de séculos e até recentemente. E, principalmente, porque a UE
não deve fechar a porta a nações com quem partilha valores e heranças
culturais, desde que o desejo dessas mesmas nações seja o de progredir no
caminho da democracia, justiça social e liberdades individuais.
Fonte da imagem: Deutsche Welle
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