Maria Batista discorre sobre o significado do acordo New Start para a comunidade internacional.
Se olharmos para o sistema internacional de uma perspetiva realista, como Kenneth Waltz, é impossível dissociar a ideia de anarquia dessa realidade a que denominamos comunidade internacional. Uma realidade implica uma constante convivência entre potências, sejam estas grandes ou pequenas, muito ou pouco influentes. Neste sentido cada Estado procura a sua sobrevivência, cada passo dado é no sentido de garantir a segurança nacional o que implica uma estratégia que tenha como objetivo o aumento da sua hegemonia.
O acordo bilateral New Start, assinado pelos Estados Unidos da América e a Rússia representa esta procura de segurança, ao mesmo tempo que demonstra uma prossecução pela estabilidade. reconhece a ambas potências um poder considerável que ameaça não apenas a sua própria segurança , mas a do mundo. De acordo com um relatório do Instituto Internacional de Investigação para a Paz de 2019, a Rússia e os Estados Unidos juntos possuem mais de 90% das armas nucleares no mundo, apesar da produção ter vindo a reduzir é precisamente neste ponto que acordo atua. A grande vantagem em termos de armamento nuclear destas duas potências faz com que este acordo seja do interesse geral, como prova disso a NATO (Organização do Tratado do Atlântico do Norte) demonstrou o seu total apoio e realçou a importância do mesmo para a estabilidade estratégica internacional, sem nunca esquecer a tendência comportamental agressiva da Rússia que representa uma particular ameaça para a segurança euro-atlântica.
A administração de Joe Biden pretende seguir um caminho diferente de Donald Trump, durante a administração anterior os EUA, em 2019, saíram do INF(Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio) o que demonstrou que a estabilidade internacional é bastante sensível. Com a atual administração a segurança nacional e internacional é um dos objetivos primordiais na agenda política, por isso este acordo transmite uma mensagem de extrema importância dosEUA para o mundo. O Secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken declarou que o acordo New Start é de facto do interesse nacional mas que também não irão hesitar em responsabilizar o parceiro russo por atos que vão contra os valores democráticos ou contra os direitos humanos, também defendidos pelos parceiros do país. É importante compreender que apesar de existir um acordo o mesmo baseia-se no facto de a Rússia constituir um adversário não só em matéria de armamento, como na diferença de atuação e valores.
Para a Rússia este acordo visa atenuar tensões internacionais e talvez reconstruir um pouco a sua imagem, de forma a demonstrar que a estabilidade internacional é uma preocupação que integra a agenda política do país, e que pretende caminhar lado a lado com os seus parceiros.
New Start dá primazia ao interesse nacional, nenhuma das potências que o integra colocaria a opção de participar se assim não o fosse, os países poderão continuar a pesquisar e desenvolver tecnologia nesse sentido. A sua estratégia nuclear não irá desaparecer será apenas limitada, terão a flexibilidade necessária para prosseguir os seus interesses nacionais. Já são antigos parceiros e a união só traz beneficíos para ambos, até porque esta estabilidade beneficia também as suas dinâmicas comerciais.
A prorrogação do acordo irá vigorar até 5 de Fevereiro de 2026 e estabelece um limite de 1.550 ogivas nucleares e restringe para 800 o número de aviões bombardeiros com capacidade de lançar mísseis nucleares. O acordo também inclui inspeções periódicas e notificações obrigatórias em caso de exercícios ou alterações estratégicas abrangidas pelo acordo.
O que se procura com este acordo, para além de controlar a produção de armas nucleares, é previsibilidade com um especial foco na Rússia que nos últimos anos tem vindo a demonstrar comportamentos antagónicos ao que este acordo representa. Este acordo é um passo considerável no sentido da desconstrução de um sistema internacional anárquico e o esperado é que outras potências caminhem neste sentido , o próprio acordo pretende desenvolver-se e, mais tarde, integrar a China.
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