Os países de África precisam de
ter acesso a vacinação de larga escala para progredir para uma normalidade
pós-pandémica, o que não será algo propriamente fácil atendendo às implicações
económicas que a pandemia abarcou para os países africanos, especialmente
países que exportam petróleo, como Angola, Nigéria e África do Sul, cuja
economia demorará a recuperar.
De acordo
com o Economist,
só em 2023 é que África terá acesso às vacinas necessárias para vacinar os profissionais
de saúde, idosos e outros grupos vulneráveis. E só em 2025, é que se conseguirá
cobrir o universo da população africana. Até fevereiro de 2020, o continente
africano garantiu 270
milhões de vacinas, das 1.5 biliões necessárias para cobrir 60% da
população africana, provenientes da Pfizer, AstraZeneca e Johnson & Johnson.
Um dos principais fornecedores da vacina é o COVAX, Covid-19 Vaccine Global
Access, mas ainda não entregou uma única dose a nenhum país.
Para além
da falta de stock da vacina, surgem outros problemas associados à vacina, entre
eles económicos, uma vez que África está a recorrer
a créditos para financiar a compra das vacinas o que se traduz num aumento
da dívida pública. Outro problema que os países africanos enfrentam é a falta
de material para manter
as vacinas na temperatura necessária, ou mesmo o sistema de saúde ineficiente
e a constante desinformação acerca da vacina.
A situação
africana é uma oportunidade para a luta de poderes entre China e EUA. África
encontra-se entre a diplomacia do soft
power da China e o nacionalismo do ocidente.
Numa fase inicial, a China
ofereceu as vacinas aos países africanos, mudando posteriormente o seu discurso
para um acesso a preço baixo. De qualquer das formas, a China tenta apresentar-se
como uma potência benigna que ajuda e que investe no combate ao coronavírus. A China
ultrapassou a tragédia e rapidamente se tornou um modelo de sucesso.
À semelhança da China, a Rússia
ofereceu à União Africana 300 milhões de doses das vacina Sputnik V
em conjunto com um pacote financeiro para os países que quisessem garantir a
compra da vacinas.
O nacionalismo
da vacina, nos países mais ricos, está a criar barreiras ao acesso à vacina.
Uma proposta feita pela Índia e pela África do Sul, para partilha intelectual
da pesquisa da vacina do coronavírus, ao World Trade Organization, OMC (Organização Mundial do Comércio),
mas foi recusada pelos países ricos como Canadá, a União Europeia, Noruega, EUA
e o Reino Unido, sob o argumento de que os objetivos da proposta podem ser
atingidos através do COVAX. Este nacionalismo levou a que países da África se
encontrem no fim da corrida à vacina.
O continente
africano tornou-se um instrumento para a disputa de poder entre as potências dos
EUA e da China, onde a estratégia da diplomacia do soft power da China é olhada
com desconfiança, o que impulsiona o nacionalismo da vacina criando barreiras à
distribuição equitativa da vacina entre países. E o programa
COVAX só consegue alcançar cerca de 20 por cento das populações mais
vulneráveis e ainda não se mostrou eficaz.
Emmanuel Mácron,
Presidente Francês, posicionou-se contra o nacionalismo da vacina, o que levou
a um aumento do investimento, dos países do G7, no COVAX. A nova
liderança do WTO, deve tornar prioridade coordenar o relaxamento das
proteções da propriedade intelectual da tecnologia farmacêutica, para um acesso
universal mais acessível.
Atendendo
às características africanas, a melhor aposta seria a vacina Americana, da
Johnson & Johnson, mediante condições como distribuição atempada e economicamente
acessível.
Neste palco de forças geopolíticas, os EUA têm a oportunidade
de formar ou reforçar as alianças com o continente africano, caso os EUA parem
de impedir a cooperação multilateral nos assuntos de saúde pública.
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