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África: Entre Egoísmo e Ajuda Disfarçada

 

    Margarida Marques incide sobre as contínuas disputas pelo domínio sobre territórios africanos pelas grandes potências mundiais, onde todas aparentam tentar ajudar, mas as suas ações demonstram apenas a concretização de interesses pessoais. 

    No século XX, o continente Africano conseguiu pôr fim à independência do domínio das potências mundiais com o fim da colonização, mas nunca teve realmente liberdade das influências ocidentais e das grandes potências mundiais da época. Atualmente, África é novamente um palco de competição, exploração e influência das atuais potências mundiais, principalmente pelos Estados Unidos (EUA), a China, a Rússia, países Europeus e do Médio Oriente. 

   Desde 2005 que a América tem vindo a aumentar a sua presença militar no continente africano, reforçada pelo estabelecimento da AFRICOM (Comando Militar dos EUA em África). 

    A administração Trump viu uma oportunidade de tentar ajudar o povo africano e, ao mesmo tempo, reforçar a sua estratégia de segurança e defesa. A estratégia americana nacional de segurança em África consiste no exercício de soft power sobre estes Estados, persuadindo-os, através da oferta de bens e serviços aos mercados africanos de modo a ajudar as suas comunidades e promovendo a competitividade com os produtos Chineses, que têm vindo a dominar o mercado económico de Estados africanos, gerando lucro para os EUA. Torna-se visível que o principal interesse americano não é o altruísta de ajudar as comunidades que precisam, mas sim a competição, mais uma vez, com o seu principal rival a nível mundial, a China. 

   Os EUA são um ator internacional de grande poder e influência. Em África, um continente cujos Estados são imensamente propensos a influências externas principalmente devido às instabilidades políticas, económicas e sociais, este tipo de agentes consegue exercer uma grande influência, nomeadamente alterar as suas capacidades internas, o que neste caso foi um dos objetivos. Através da utilização de sanções positivas, neste caso o fornecimento de equipamento e treino militar para combater a insurgência de organizações extremistas e terroristas em Estados Africanos, os EUA conseguem atingir o seu principal interesse sem ter que recorrer a instrumentos violentos de política mais diretos. Tendo como bónus a detenção de poder sobre os Estados africanos, através de intervenção económica e política, pela oferta de recursos que estes realmente necessitavam para se defender.

   Todo este interesse no continente, trouxe a atenção de mais atores de grande peso internacional, como a Rússia, países Europeus e do Médio Oriente. Todos estes têm vindo a disputar espaço e licenças para bases militares em Djibouti, que já alberga bases americanas e chinesas. 

    Não obstante dos esforços dos EUA para estabelecer a sua presença no mercado africano e perturbar a influência chinesa. Muito antes destes intervirem, a China já se instituíra como o maior parceiro comercial do continente Africano ao aumentar a indústria mineira e de petróleo em troca de acordos comerciais e investimentos lucrativos. Ainda que uma larga porção da população africana veja a presença chinesa como um benefício, as práticas controversas e as baixas condições laborais levam a que os mercados africanos estejam mais recetivos a parceiros e investimentos alternativos, como o americano. 

    De acordo com a narrativa do departamento de defesa americano, a sua principal missão no continente Africano é o aumento das capacidades de defesa dos Estados africanos para ações de paz e a estabilidade nacional, uma delas passando pela deslegalização de Estados Islâmicos e os seus ramos operacionais em África. Reforçando que este aumento de segurança nacional é em favor e respeita os direitos humanos e o Estado de Direito. Contudo, de uma perspetiva objetiva e realista, note-se que os regimes dos Estados Africanos nem sempre são os mais estáveis e seguros. Logo, tal armamento e treino militar que os EUA oferecem, poderá vir a ampliar os atritos existentes dentro das comunidades e entre comunidades em África ao invés de promover a paz nacional.

    Os EUA apresentam-se como os libertadores de África dos negócios mais ilegítimos que a China oferece e com que tem dominado o continente até ao momento, assim como dos negócios corruptos que a Rússia tem vindo a oferecer em troca de votos na Organização das Nações Unidas. Afirmando que estes dois países são uma ameaça para o crescimento económico e a independência de nações africanas. 

    Apesar de todo este interesse demonstrado no Continente Africano, a realidade é que este continua a não ser uma prioridade na lista da grande potência americana. E certamente, o povo africano em maior necessidade, sem acessos a bens e serviços essenciais, não é uma prioridade para todas estas potências que disputam por influência sobre o continente, mas o que realmente lhes interessa é a competição entre si, sem pôr em causa o seu território nacional. Apesar de estas ações em nada se aproximarem das utilizadas durante o período de colonização, o continente e o povo africano continuam a ser um objeto nas estratégias mundiais das grandes potências. 

Fonte da imagem: https://newz.ug/africas-traditional-devt-partners-eu-china-us-facing-increasing-competition-from-new-players-russia-the-gulf-states/ 

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