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Fake-News: Uma arma ao serviço do Kremlin.


 

    Beatriz Capão argumenta que as Fake-News, são uma arma ao serviço do Kremlin e que nos levam aquela que é a conduta preocupante do Sharp-Power Russo, que manipula e perfura os ambientes políticos das democracias ocidentais, alterando-lhes as narrativas domésticas de uma forma gradual e impercetível. 

A contemporaneidade que nos cerca, encontra uma realidade crescente de desinformação, que se tem proliferado não só nas redes sociais, como também nos media convencionais. Esta dinâmica, espelha cada vez mais uma “câmara de eco” alarmante e desafiante, acabando por colocar não só as dinâmicas do ambiente internacional em causa, mas principalmente o ambiente político doméstico dos estados democráticos, onde os estados autoritários, têm “usado e abusado” das fake-news, como uma arma silenciosa de propaganda e subversão. Olhando de forma atenta, para a ação da Federação Russa, é visível o impacto e as consequências causadas pelas fake-news nas democracias ocidentais, sendo uma das “matrioskas” de distração alimentadas pelo Sharp-Power desenhado no Kremlin, que perfura e cria tensões “dentro e entre democracias”.

O conceito de Sharp-Power, como uma abordagem das relações internacionais, espelha a perfuração subversiva e a manipulação de um Estado, que visa minar e gerar não só distorções no ambiente político do Estado alvo, como também arquitetar uma nova conduta para o ambiente internacional. Perante a realidade global fragmentada e saturada de informação, Moscovo tem orquestrado e investido num conjunto de estratégias e infraestruturas, que colocam em perspetiva a utilização dos media convencionais e das redes sociais, utilizando a desinformação como uma nociva arma ao serviço da sua política externa, que se reflete nos pilares que guiam a desinformação e propaganda russa

Esta estratégia russa, que se apresenta fundamentalmente no espaço cibernético, privilegia de um conjunto de fatores, que merecem um olhar atento dos restantes atores internacionais, visto que importa ter presente a natureza flexível e mutável da desinformação no ciberespaço. A fábrica de trolls, fake-news e bots, que emerge do Kremlin, não promove apenas um conjunto de valores, ideias e descriminações específicas para o alvo em questão, como também tem beneficiado o “lado da oferta” de fatores cruciais, como o tempo e a eficiência, camuflando o Kremlin no ciberespaço e disseminando um vírus insidioso, que alimenta as fragilidades das democracias, com especial foco na manipulação dos resultados eleitorais e na polarização da opinião pública.

As ideias e as narrativas construídas através das fake-news, acabam por ser poderosas armas, que intensificam a sua projeção e ação quando se fundem com o “mundo digital”, principalmente com a inovação da inteligência artificial (AI), tendo a subtil capacidade de inverter o percurso da narrativa prevista do país alvo. O Kremlin, ao investir e usar ferramentas cibernéticas refinadas, coloca-se em vantagem no campo da “tecnologia política”, que tende a ser cada vez mais um eufemismo, para a indústria que desenha campanhas de desinformação, articuladas com “medidas ativas” de subversão ideológica e de guerra psicológica.

A estratégia vinda de Moscovo, que contamina a política doméstica e o período intenso das campanhas eleitorais, sendo a título de exemplo o caso dos Estados Unidos da América em 2016, no mesmo ano o Reino Unido com o caso do Brexit e também os Estados-Membros da União Europeia, como foi o caso da Alemanha em 2017 e de Itália em 2018. A Rússia, emprega a sua estratégia de desinformação de forma articulada, com um conjunto de ferramentas cada vez mais sofisticadas e impercetíveis, visto que a desinformação de forma isolada acaba por carecer do efeito “bola de neve”, onde a instabilidade e manipulação vão impactado de forma duradoura.

Segundo o projeto EUvsDisinfo, do Serviço Europeu de Ação Externa, o Kremlin tem aplicado um conjunto de métodos e narrativas, onde manipulam as informações, tornando-as apelativas para os diferentes públicos-alvo, sendo combinadas e modificadas com base em eventos e atitudes predominantes dos indivíduos, controlando o engagement destes nas redes sociais, através da persuasão e monitorização do algoritmo. Somando a isto, acabam também por fazer intervenções externas e preparação política, disseminando mensagens erróneas, hackeando os serviços de segurança nacionais, fazendo uso da AI para fabricar narrativas, jogando com a realidade e o deepfake através da manipulação de vídeo e de áudio.

As vulnerabilidades e fragilidades internas das democracias, devido à sua abertura e acessibilidade, não podem ser totalmente modificadas, como é o caso das esferas culturais, académicas, editoriais e de imprensa, que têm sido alvos fáceis de subversão russa. O esforço necessário, para limitar a intervenção e influência do ecossistema de desinformação russa, deve responder com táticas que visem o “lado da procura” do problema. Neste sentido, os atores estatais, devem incentivar à alfabetização digital e mediática, onde a Finlândia tem sido pioneira, procurando criar uma imunidade nacional e uma literacia, que combata a longo prazo a desinformação, sendo uma ferramenta que se soma às estratégias legislativas e aos projetos de combate à desinformação, que começam a mostrar frutos do seu trabalho.

Assim, em jeito de conclusão, é visível ao longo da análise que o Sharp-Power, as fake-news e a crescente inovação da AI, de que o autoritarismo emergente no Kremlin tem beneficiado, representam uma presente ameaça à narrativa, que tem conduzido o Estado de Direito, a segurança nacional e também o ambiente internacional para uma crescente guerra de informação. A capacidade do Sharp-Power e do autoritarismo russo, em censurar, subverter e arquitetar as narrativas externas, da forma silenciosa como tem feito em diversos países, carece imperativamente de uma tática igualmente pensada e desenhada por parte dos países alvos.


Fonte da imagem: https://edition.cnn.com/videos/business/2019/10/21/facebook-russian-trolls-2020-election-orig.cnn-business


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