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Brexit: a agravação do isolamento



 RITA SOUSA salienta o fim da facilidade que existiu de trabalhar e viver entre o Reino Unido e a União Europeia em 2021, tal como o fim do soft power que as potências tinham uma sobre a outra. 

  As questões estabelecidas no acordo sobre as relações futuras vão desde o intercâmbio de bens e serviços ao ambiente, à investigação e à educação. Uma das principais negociações diz respeito às condições e princípios para o comércio futuro, incluindo as questões das possíveis tarifas, normas de produtos, condições equitativas, pescas, respeito dos direitos fundamentais e forma de resolver os litígios.

  Mas nesta análise irei focar-me nas alterações sofridas na imigração.

  O Brexit prejudica também os trabalhadores mais jovens da Grã-Bretanha. Prevê-se que a Alemanha tenha uma escassez de mão de obra de 3 milhões de trabalhadores qualificados até 2030. Esses postos de trabalho não estarão tão facilmente disponíveis para os trabalhadores do Reino Unido após o Brexit. Os empregadores estão a ter dificuldades em encontrar candidatos. Este fenómeno atingiu mais as profissões de baixa e média qualificação. 

 O Brexit é um voto contra a globalização. Como resultado, enfraqueceu as forças na UE que favorecem a integração. Os membros dos partidos de direita anti-imigração são particularmente anti-UE em França e na Alemanha. Se ganhassem terreno suficiente, poderiam forçar uma votação anti-UE. Se um desses países saísse, a UE perderia as suas economias mais robustas e dissolver-se-ia.  

  Com a aprovação do Brexit a política migratória inglesa teve de ser radicalmente alterada. Talvez o passo mais significativo seja o fim imediato da livre circulação de pessoas entre o Reino Unido e a União Europeia, concluindo décadas de cidadãos que podem viajar livremente para trabalhar e estudar sem barreiras.


  Os cidadãos da UE que decidam viver no Reino Unido estão sujeitos ao novo sistema de imigração, baseado em pontos. Imigrantes que desejem viver no Reino Unido devem demonstrar que possuem um conjunto de requisitos específicos através dos quais vão marcas pontos. Estes pontos são adquiridos por exemplo, através do conhecimento da língua inglesa a um nível considerado aceitável, uma oferta de emprego com um nível de qualificação baixa, qualificações educativas, entre outros. 


  Para os turistas, as regras estipulam que os visitantes poderão vir ao Reino Unido por um período máximo de seis meses, mas não serão autorizados a trabalhar ou a aceder a apoios públicos.  

  As regras mudam para os cidadãos do Reino Unido que querem mudar-se para a UE. Cidadãos ingleses que já vivam num país da UE, têm certas proteções ao abrigo do acordo de retirada. De qualquer forma, as regras irão mudar de país para país, pode ser necessário solicitar residênciaadquirir novos documentos ou cumprir requisitos novos. Por exemplo, os cidadãos do Reino Unido que residam em França terão de obter novas licenças de residente.  


  Deixará de haver um reconhecimento automático das qualificações profissionaisas pessoas terão de verificar as regras de cada país para garantir que as suas qualificações continuam a ser reconhecidas. Embora as trocas comerciais com a UE se tornem mais complicadas, o Reino Unido é livre de negociar os seus próprios acordos comerciais com outros países, como os EUA. Os apoiantes do Brexit dizem que isso beneficiará a economia a longo prazo, embora os críticos digam que é mais importante permanecer perto da UE.  


  Com a finalização do Brexit termina também a participação do Reino Unido no programa ErasmusEstudantes e jovens britânicos deixarão de participar no programa de intercâmbio Erasmus a nível europeu, depois de o Reino Unido não ter conseguido chegar a acordo sobre a sua adesão pós-Brexit. Michel Barnier, o negociador-chefe da UE, disse que o governo inglês "decidiu não participar no programa de intercâmbio Erasmus" depois de as duas partes não terem conseguido chegar a acordo sobre os custos da continuação da adesão da Grã-Bretanha.

  

  Aqueles que pedirem asilo no Reino Unido continuarão a poder fazê-lo, mas algumas regras que regem o asilo mudarão. A responsabilidade do Reino Unido em relação àqueles que procuram asilo provém da Convenção das Nações Unidas de 1951 relativa ao Estatuto dos Refugiados, que o Reino Unido concordou. Mas o regulamento de Dublim- que permite que os Estados-Membros da UE possam pedir a outro país da UE que assuma a responsabilidade pelo pedido de asilo, normalmente o país da UE onde a pessoa chegou pela primeira vez, deixa de se aplicar ao Reino Unido. Isto significa que as reuniões familiares poderão tornar-se mais difíceis, aqueles que pedem asilo noutro Estado-Membro podem ter mais dificuldade em se juntar aos membros da família que já vivem no Reino Unido. Também dificulta a entrada de crianças não acompanhadas no Reino Unido para se reunirem com um pai, um irmão ou outro parente. 


  Para terminar, é na nova política de imigração entre o Reino Unido e União Europeia que se demarca o afastamento entre as duas grandes potências. Ambos os lados irão perder soft power sobre o outro, com a perda de mão de obra, que anteriormente se deslocava entre países com facilidade, com a perda de oportunidades de estudos para os jovens, como era o caso do programa Erasmuse com as dificuldades impostas à transferência de residência entre os dois blocos. Ambas as potências irão perder influência sobre a outra devido às restrições imigratórias. 


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