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Cyber Terrorismo: Como a Coreia do Norte lucrou mais de 300 milhões de euros com a pandemia

    


 LUÍS RODRIGUES apresenta uma análise onde expõe vários cyber ataques feitos pela Coreia do Norte nos últimos anos bem como desde que a pandemia começou, e como beneficiaram dos mesmos. Irá ainda mostrar algumas reações por parte dos EUA e da ONU. 


    A Coreia do Norte, como toda a gente está familiarizada, é um regime extremamente fechado e onde a Política Externa é praticamente inexistente. Por outro lado, a sua "não Política Externa", ou seja, os atos criminosos para com outros países, está regularmente nas notícias, desde tentativas de quebrar pactos para conseguir armas nucleares até cyber ataques que rendem milhões de euros aos cofres coreanos. A verdade, é que sem serem estas situações onde outros países estão direta ou indiretamente envolvidos, pouco se sabe do regime e da economia norte coreana. Sabe-se que é um regime anti democrático onde Kim Jong-un faz literalmente o que quer, e que a economia do país está estagnada há décadas devido à sua política.

    A o longo da última década estima-se que a Coreia do Norte tenha desviado mais de 2 Biliões de dólares através de cyber ataques feitos a bancos, empresas, Estados, entre outros. Alguns episódios desta saga foram os cyber ataques à Sony, à National Health Service na Grã-Bretanha e à Pfizer. Apesar de os cyber ataques serem, por norma, para obter dinheiro ou informações sobre outro Estado, o último ataque à Pfizer foi com o intuito de tentar roubar a vacina, ou seja, tentar roubar informações que permitisse à Coreia do Norte de produzir uma vacina igual.

    O mais intrigante na maioria dos ataques é que a Coreia do Norte não tenta desviar atenções ou mesmo negar a sua autoria. Em 2018 dois analistas britânicos responsabilizam a Coreia do Norte por um cyber ataque a um banco chileno onde os hackers cobriram o seu rasto destruindo milhares de sistemas na rede do banco, deixando assim operações bancárias indisponíveis durante dias e dando tempo para executar o crime e apagar qualquer evidência de quem o fez. 

    Com a pandemia, a maioria das empresas e instituições ficaram expostas a este tipo de ataques, com milhões de pessoas por todo o Mundo em teletrabalho e utilizando redes não seguras que permitem a hackers de entrar nos sistemas e praticarem crimes como roubar de informação de uma determinada empresa ou instituição de um Estado. Esta oportunidade não passou ao lado da Coreia do Norte com o recente ataque à Pfizer. O Serviço Nacional de Inteligência de Seul alegou um cyber ataque feito pela Coeria do Norte à Pfizer e à BioNTech de modo a roubar tecnologia sobre a vacina e o tratamento da Covid-19. A questão por trás desta situação é de que, supostamente, a Coreia do Norte ainda não teve qualquer tipo de caso de Covid-19, tendo a fronteira com a China fechada desde janeiro do ano passado. Resta a pergunta, para o que é que a Coreia do Norte queria a tecnologia? As respostas possíveis são várias, mas certezas nem tanto. 

    Este tipo de ataques causam uma grande preocupação em países como os Estados Unidos e em organizações como a ONU. Para além disso, o próprio Banco Central Europeu já mostrou o seu medo, com Christine Lagarde a vir publicamente dizer que um cyber ataque bem organizado numa grande Instituição financeira pode causar uma crise financeira. A verdade é que os últimos ataques foram rastreados e vinham de norte coreanos e iranianos, uma aliança que já vemos a ser construída há alguns anos, pondo em causa as democracias ocidentais.

    Recentemente a ONU veio expor uma situação onde acusa a Coreia do Norte de roubar mais de 300 milhões de dólares em criptomoedas de modo a contornar as sanções de que o país é alvo e para financiar os seus programas nucleares. O grupo responsável pelo controlo das sanções elaborou um documento onde estima que tenham sido roubados 316,4 milhões de dólares entre 2019 e novembro de 2020 sendo que, com a pandemia, houve uma abertura e uma oportunidade para esta prática. Segundo os Estados Unidos e a ONU, as habilidades dos hackers norte coreanos surgiram em 2014 aquando do cyber ataque à Sony depois de ter sido lançada uma sátira sobre Kim Jong-un. Desde aí que os ataques têm sido constantes por todo o Mundo, exemplos disso mesmo são o ataque ao Banco Central do Bangladesh onde foram roubados 81 milhões de dólares e o ataque ao banco taiwanês Far Eastern International onde foram roubados 60 milhões de dólares. É neste contexto, que os Estados Unidos pedem que haja uma maior vigilância ao Governo norte coreanos e sanções mais rigorosas nomeadamente ao programa nuclear.

    Em suma, ao longo desta análise foram expostos vários casos de cyber ataques realizados pelo Governo de Pyongyang que resultaram em lucros superiores a 2 biliões de dólares na última década e a 300 milhões de dólares desde 2019. Apesar da pressão feita por vários países e instituições, a Coreia da Norte continua a não reivindicar nenhum dos ataques, mesmo depois de já terem sido apanhados e acusados vários hackers. A pandemia só beneficiou a Coreia do Norte que, dada a situação, aproveitou as fraquezas dos planos de contingência, nomeadamente do teletrabalho, para executar vários ataques com diferentes objetivos, desde dinheiro a tecnologias relacionadas com a vacina e o tratamento da Covid-19. Estas situações criam um impasse ainda maior entre as relações do Ocidente, nomeadamente os EUA, e a Coreia do Norte. Apesar das sanções de que já foi alvo, continua a tentar arranjar maneiras de ter uma fonte de rendimento ilegal para permitir o financiamento dos seus projetos nucleares. 



Fonte de Imagem : fotosearch.com 

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