DIOGO LOPES alega que o COVAX, a solução liberal para diminuir as desigualdades na distribuição de vacinas, é a única forma de resolver a atual situação pandémica.
As desigualdades entre países desenvolvidos e em desenvolvimento não são algo de agora, porém a atual situação pandémica veio aumentar esses desequilíbrios. Ainda assim, o grande desafio do nosso tempo, para além do desenvolvimento de vacinas contra a COVID-19 em tempo recorde, é o acesso equitativo de vacinas por todo o globo, uma vez que neste caso “ninguém vence a corrida até que todos ganhem”.
Para garantir o fim da pandemia é necessário que se coordene a utilização do recurso escasso que são as vacinas, priorizando a proteção dos que estão mais suscetíveis à contaminação. É por isso importante destacar que todos os países do mundo necessitam de ter acesso às vacinas ao mesmo tempo, de forma a proteger, simultaneamente, todos os cidadãos do mundo com risco mais elevado de infeção.
Deste modo, a GAVI, Aliança Global de Vacinação, presidida pelo português José Manuel Barroso, está a ter um papel fulcral no futuro da evolução pandémica, pois é a promotora do COVAX, um programa de colaboração à escala global para desenvolvimento, produção e acesso equitativo a testes, tratamentos e vacinas para a COVID-19. É importante destacar ainda que a UE representou uma grande fonte de legitimidade a esta iniciativa através do interesse em participar, e em financiar, anunciando em agosto de 2020 a “contribuição de 400 milhões de euros, de forma a apoiar o mecanismo COVAX e os seus objetivos no contexto da Resposta Mundial ao Coronavírus”.
Este programa é liderado ainda pela Aliança para Inovações em Preparação para Epidemias (The Coalition for Epidemic Preparedness Innovations – CEPI), e a Organização Mundial de Saúde (World Health Organization - WHO), sendo que o Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (United Nations International Children's Emergency Fund – UNICEF) também representa um parceiro fundamental.
Espera-se que com este programa à escala global, seja possível restringir o açambarcamento de vacinas por parte de alguns países, e promover uma abordagem de cooperação à escala global, para que não se empurrem para o fim da fila os países que não têm meios para negociar diretamente com os fabricantes de vacinas.
Para que este programa seja bem sucedido, é necessário que através de doações financeiras se garantam doses de vacinas para as economias de nações com médio e baixo rendimento. Neste momento, o COVAX envolve mais de 170 países e seis mil milhões de dólares em fundos, sendo que ainda faltam mais dois mil milhões de dólares para atingir o objetivo de vacinação global para 2021, que por si só não garante o fim da pandemia.
Contudo, apesar de alguns países estarem a apoiar o COVAX, continuam simultaneamente a negociar a compra de vacinas diretamente com as empresas farmacêuticas, como é o caso do Canadá e do Reino Unido. Este tipo de ideia nacionalista está a proporcionar que países ricos comprem quantidades de vacinas muitas vezes superiores ao número de cidadãos, o que por sua vez promove preços ainda mais elevados, e que prejudica aqueles que já têm dificuldades em adquirir as vacinas.
Um dos casos mais marcantes foi o da recém empossada administração Biden, defensora acérrima desta nova iniciativa internacional com o objetivo de proporcionar uma distribuição igualitária de vacinas para a COVID-19 pelo mundo, denominada COVAX. Porém preferiu manter o lema do seu antecessor “America First” no que diz respeito à compra direta de mais 200 milhões de doses de vacinas para os Estados Unidos, número esse que perfaz o valor total de 1,2 mil milhões de doses, o suficiente para inocular duas vezes a população, colocando assim em risco a oferta deste mesmo bem para países menos prósperos.
Ainda assim, do meu ponto de vista, devemos depositar a nossa confiança no programa COVAX para garantir uma vacinação equilibrada, principalmente após o apoio quase generalizado das nações do globo. Uma vez que através dele têm sido estabelecidas relações entre países que são adversários em diversas áreas, mas que se uniram para conseguirem ajudar-se mutuamente na luta pela possível superação da pandemia. É esta cooperação internacional, descrita na Teoria das Relações Internacionais como Liberalismo, que deve existir para alcançarmos uma imunização universal. Claro que as quantidades de vacinas disponíveis pelo COVAX serão insuficientes para parar a transmissão do vírus, mas conseguirão ao menos salvaguardar os mais vulneráveis ao serem imunizados.
É claro que é “compreensível que os governos procurem salvaguardar as suas populações primeiro, uma vez que é para eles que governam, no entanto a resposta a uma pandemia global tem de ser coletiva”. O nacionalismo das vacinas é autodestrutivo pois não promove o equilíbrio de vacinação conseguido pelo COVAX, ou seja, por uma política externa comum à escala global.
Em suma, esta resposta internacional coletiva é necessária e possível, pois é a única forma de resolver a atual situação pandémica, ainda que aparentemente se coloquem os interesses nacionais em segundo plano. É interessante destacar que, ainda que hoje se verifique uma predominância da abordagem realista em alguns países, nomeadamente através de políticas (relacionadas com o atual contexto pandémico) que colocam prioridades nacionais acima das internacionais, o que se verifica é que estas num plano mais alargado se verificam ineficazes, pois de nada serve imunizar os cidadãos de apenas um país. Assim é necessário no mínimo “combinar o Realismo com os Direitos Humanos”.
Fonte imagem 1 - https://cartoonmovement.com/cartoon/under-bridge
Fonte imagem 2 - https://cartoonmovement.com/cartoon/vaccine-nationalism-1
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