Em 2011, uma devastadora guerra civil irrompeu na Síria, estendendo-se até aos dias de hoje, com a influência de grandes potências mundiais nas duas frentes. Milhões de cidadãos sírios foram despejados das suas casas quer pelo bombardeamento ou ataques, quer pela ameaça dos mesmos pela proximidade da guerra.
Atualmente, estima-se que cerca de 1.5 milhões de refugiados sírios estejam a viver no Líbano. O país era um bom porto de abrigo para refugiados e imigrantes até 2020. O abrandamento da economia, a inflação exponencial, o estabelecimento da pandemia no país e a explosão no porto da capital em agosto de 2020 levaram a população ao limite, com os números de famílias de refugiados sírios a viver em pobreza extrema a chegar aos 89% em 2020. O preço de bens essenciais triplicou desde outubro de 2019, os postos de trabalho disponíveis são cada vez mais escassos, aumentando a hostilidade entre as comunidades de refugiados sírios e naturais.
Mireille Girard, uma representante da Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) afirma que a situação dos refugiados sírios no Líbano tem vindo a deteriorar-se ao longo dos anos, mas os eventos de 2020 vieram agravar acentuadamente a sua situação. Face à grave crise sanitária e económica que enfrenta, o Governo do Líbano tem colocado pressão sobre as comunidades de refugiados e imigrantes sírios que abriga, para que retornem às áreas seguras da Síria, uma vez que este não consegue dar resposta e auxílio a toda a população, aliviando assim a pressão sobre o governo e sobre a sociedade, apesar do Departamento do Estado Americano ter afirmado que não é seguro.
Este retorno não é uma opção viável para os refugiados sírios. Se a sua situação no Líbano é de sobrevivência face à escassez de recursos, na Síria a população tenta sobreviver no centro da guerra civil, que tem também vindo a ameaçar a paz militar no Líbano. Acabam por se ver entre as ameaças e maus tratos no Líbano, ou a constante insegurança no ambiente de guerra na Síria.
Dos cidadãos sírios que não conseguiram fugir do país, grande parte encontra-se hoje em campos de refugiados na Síria. E aqueles que os evitam, encontram-se em situação de extrema pobreza, após a grande queda económica que a Síria sofreu em 2020. O Governo Sírio não demonstra capacidades de contribuir para a ajuda dos seus próprios cidadãos, enquanto se ocupa de impedir o ressurgimento de movimentos anti estatais, ameaçando os direitos humanos com detenções e tortura dos cidadãos. Tem confiscado propriedades e restringido o acesso a áreas públicas, dificultando o retorno pacífico da população desalojada durante a guerra.
Devido à inércia de ambos os países perante esta população, ignorando a responsabilidade de proteger a sua população, sobrepôs-se-lhes a intervenção humanitária assumida por várias organizações. A World Food Programe (WFP da ONU), é o maior fornecedor direto de comida e bens essenciais para as comunidades mais vulneráveis de refugiados Sírios no Líbano. A Agência de Refugiados das Nações Unidas (ARNU) tem fornecido bens e serviços essenciais, como comida, água potável, roupa quente, assim como cuidados médicos e dinheiro a todas as famílias e refugiados desde o início do conflito. A UNICEF e a World Vision têm-se focado e ajudar as crianças, sendo que estas constituem cerca de metade dos refugiados na Síria, e em todos os países onde se encontram. Mas isto não impede que várias outras crianças não tenham de trabalhar, em atividades precárias e completamente desprotegidas, arriscando a vida por muito pouco dinheiro, ou sejam obrigadas a casar demasiado cedo. Os próprios adultos são levados a adotar ações extremas como pedir nas ruas ou aceitar empregos de maior risco, descartando outros essenciais como a saúde ou a educação em favor da alimentação e sobrevivência.
Contudo, mesmo esta ajuda humanitária encontra obstáculos a chegar às pessoas que realmente necessitam. As influências internacionais sobre o Governo Sírio e as suas ações têm prejudicado cada vez mais o povo. De acordo com o Conselho de Segurança das Nações Unidas, potências mundiais como a Rússia têm atrasado ou impedido ajudas humanitárias, da ONU e de outras entidades de chegar à Síria. O próprio Governo Sírio tem impedido a chegada de ajudas a territórios do seu domínio. Considerado todos estes problemas nestes territórios, é natural que esta população necessite, adicionalmente à ajuda de emergência, de ajuda para a reabilitação e desenvolvimento (de longo prazo), o que implica uma dedicação não só das organizações internacionais, mas também da população e do próprio Governo, cujo principal objetivo teórico será a proteção da sua população e atender às suas necessidades básicas, sobre os interesses pessoais de quem o dirige.
Em suma, o Governo Sírio não demonstra preocupações ou qualquer interesse em reintegrar a sua população desalojada e em más condições. O Governo do Líbano foca-se em gerir as suas próprias crises internas, tentando desmarcar-se da responsabilidade de acolher mais pessoas com necessidades, uma vez que não consegue dar resposta às nacionais. E no cerne encontramos pessoas despojadas de tudo o que é considerado essencial, a tentar apenas sobreviver um dia de cada vez, sabendo que a única ajuda que consegue obter é internacional, uma vez que para os governos locais, não parecem existir. A população Síria precisa de ajuda imediata humanitária, mas o próprio país precisa de assistência prolongada ao desenvolvimento.
Fonte da imagem: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/1636627/cerca-de-270-familias-de-refugiados-sirios-fugiram-do-norte-do-libano
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