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Espaço Schengen – Grupo de Risco para a Covid-19

MARTA PEREIRA afirma que o Espaço Schengen, desde 1997, permite aos cidadãos a liberdade de atravessar as fronteiras internas sem qualquer tipo de fiscalização. Analisando os resultados do inquérito Eurobarómetro Especial de 2018, é possível concluir que grande maioria dos cidadãos definem a criação do Espaço Schengen como o maior e mais bem-sucedido projeto comunitário. No entanto, será que esta realidade de livre-circulação pode estar em perigo devido à pandemia?

O Espaço Schengen proporciona o movimento livre e estádia de muitos milhões de cidadãos pertencentes aos Estados-Membro que fazem parte desta organização. Embora seja normal existir uma associação entre Espaço Schengen e a União Europeia, mas não só os países pertencentes à UE podem aderir. Esta comunidade internacional integra também outros países europeus não pertencentes à UE.

Esta comunidade acaba com as verificações nas fronteiras internas da União Europeia, contudo estabelece um conjunto de regras que controlam as fronteiras externas do Espaço Schengen. No entanto, devido à abertura deste espaço ao resto do Mundo, também fica facilitada a entrada a ameaças externas aos Estados, e por essas razões, em casos de ameaça à política pública ou à segurança interna, é possível restabelecer o controlo das fronteiras internas de um país, de forma a garantir a segurança dos seus cidadãos, no entanto, deve ser algo atempadamente justificado e comunicado à Comissão.

A pandemia devido ao Covid-19 trouxe prejuízo e consequências negativas para grande parte dos setores da sociedade, principalmente para os custos para a economia e a vida humana. No entanto na lista de possíveis vítimas mortais pelo Covid-19, mas não tão evidentemente, encontra-se o Espaço Schengen, “the Europe's passport-free area”. Parte dos Estados Membros do Espaço Schengen viram-se obrigados a impor controlo nas suas fronteiras internas, ou até mesmo fechar o país ao Resto do Mundo, incluindo cidadãos da União Europeia, que outrora estavam permitidos a circular livremente pelo Espaço Schengen sem a necessidade de documentos ou fiscalização de entradas e saídas do país. Mas o que parece apresentar um atentado á principal premissa do Espaço Schengen (fechar e controlar fronteiras), já se encontrava previsto no próprio corpo normativo do Espaço em discussão, como uma exceção à regra em casos como este.

Contudo, a pandemia trouxe ao de cima duas problemáticas para o projeto europeu como: os Estados-Membros repuseram a obrigatoriedade de passaportes; e a  UE como um todo, impedir a entrada de cidadãos que não sejam parte da União Europeia.

Nos dias mais negros da pandemia, era inevitável e impensável não proceder ao fecho das fronteiras, de forma a evitar que os números relativos à pandemia se tornassem ainda mais catastróficos e, nesses casos o fecho das fronteiras era permitido por Schengen, no entanto teriam de ter um caracter temporário e os Estados teriam de seguir as suas restrições de atuação. Mas isso não se tem verificado em inúmeros membros do Espaço Schengen que por várias vezes desrespeitaram e desvalorizaram as regras impostas pela entidade intergovernamental. Exemplos como a Dinamarca, Finlândia e França prolongaram os seus prazos de fiscalização das fronteiras, e outros países acabaram por fechar as suas fronteiras sem ter qualquer tipo de motivo aparente para tal acontecer.

No entanto, a ação que pode simplesmente ser vista como um meio para salvaguardar a saúde pública, pode levar ao início do fim daquele que é o mais bem-sucedido projeto comunitário. A facilidade em que os países europeus, nomeadamente os exemplos dados anteriormente, tiveram em quebrar as regras sobre a restrição do fecho das fronteiras leva-nos a concluir que o Espaço é algo muito frágil e moldável em relação à vontade interna de cada Estado e os seus próprios interesses.

É obvio que o contexto pandémico obrigou ao fecho das fronteiras para que taxa de contágio tivesse oportunidade de diminuir, diminuindo também o número de casos ativos. Contudo, a falta de capacidade de ação do próprio Espaço Schengen perante a violação das regras impostas, acaba por traduzir a instabilidade a que a comunidade Schengen está sujeita, podendo ser desfeita com demasiada facilidade pelos próprios Estados-Membros. Neste caso, o pretexto para o fecho de fronteiras foi a pandemia, no entanto, o cenário pode vir a tornar-se mais grave, arranjando sempre mais pretextos, sem justificação aparente, para a proibição da entrada de terceiros externos no país.

Fonte do cartoon: Voxeurop

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