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Estados Unidos, Rússia e as Alterações Climáticas. Discórdia ou Aliança?

 


Sofia Fernandes analisa os efeitos das alterações climáticas que crescem mais intensos todos os anos e comportam efeitos inevitáveis que irão afetar a balança do poder. A Rússia será, a curto prazo um dos beneficiários destas alterações, o que pode ser o canal para uma aliança entre a Rússia e os EUA.
 

Com um futuro voltado para uma transição de emissões de carbono net-zero, liderada pela China, EUA e UE, a Rússia destaca-se pela permanência da sua dependência na exportação de hidrocarbonetos. Os EUA começam já a adotar mudanças estruturais e vão passar a considerar ameaças aos EUA e à estabilidade global quem prejudicar os esforços para o clima. A Rússia é o quarto maior emissor de gases com efeito de estufa e, portanto, apresenta-se como uma das maiores ameaças ao acordo internacional para o futuro da humanidade.

Vladimir Putin está ciente dos perigos das mudanças climáticas. Estes efeitos já se fizeram sentir na Rússia em 2020 com o verão mais quente já alguma vez registado e com os incêndios florestais que arrasaram a Sibéria. Ainda assim, a Rússia não parece estar a preparar-se para a transição. Putin admite um futuro brilhante para a Rússia, fruto das alterações climáticas, assumindo a transformação do país numa potência agrícola num mundo dominado pela fome e onde o Ártico vai tornar a posição estratégica da Rússia nas rotas de trocas indisputável. No entanto, John Holdren, professor de Ciência e Política Ambiental na Universidade de Harvard, afirma que a Rússia se juntou ao Acordo de Paris, por perceber o problema que as alterações climáticas representam, e é por isso que cientistas e diplomatas procuram envolver-se em colaborações internacionais para perceber o desafios do clima.

            Os benefícios que as alterações climáticas podem representar para a Rússia, poderão não se materializar, em parte devido à competição injusta, a proibições diretas ou sanções, como as que os EUA implementaram para impedir o progresso do Nord Stream 2.

        O combate às alterações climáticas é essencial tanto para os EUA como para a Rússia. Procurando maneiras de implementar o Acordo de Paris. Segundo Alexander Kislov, professor na Moscow State University, as alterações climáticas podem ser suportadas por países mais ricos, deste modo os EUA estão mais capacitados para aguentar as anomalias negativas do que a Rússia as positivas.

        A mudança do poder na Rússia vai depender do cenário e do tempo. Olivia Lazard pondera que a competição pelo poder é uma coisa do passado. E que qualquer país que acredita que pode beneficiar das alterações climáticas em termos económicos está sob uma lógica errónea.

O poder vai-se balançar entre a China e os EUA. Os EUA e a União Europeia estão dependentes da China para uma transição digital e limpa, e estão a tentar retificar este facto. Aqui é que se mostra a importância de trabalhar para criar um acordo com a Rússia para que esta se alie aos EUA e não à China.  Biden com a sua nova administração quer duplicar os seus esforços para o clima global, o que pode levar a que muita atenção recaia sob a Rússia. Isto pode tornar-se mais um dos assuntos para discórdia entre os EUA e a Rússia, ou vai proporcionar uma aproximação de Washington a Moscovo, com propostas de suporte económico futuro e, deste modo, o problema do clima pode tornar-se uma área proativa de cooperação. Então, os EUA e a Rússia tornar-se-ão os dois maiores atores influentes a manter o Ártico seguro da exploração extrativa e do conflito. Como forma de cooperação com a Rússia, os EUA podem começar com uma proposta de cooperação em pesquisa científica no Ártico e evoluir as estratégias de cooperação.

            Ao invés de encarar Biden e as suas políticas climáticas como uma ameaça potencial à economia da Rússia, Moscovo poderia mudar a sua estratégia e começar a sua transição, à semelhança do resto do mundo. Moscovo tem que demostrar que é capaz de cooperar com a administração de Biden na ação climática. Cessando as campanhas de desinformação contra os EUA e a UE e pode começar a preparar-se para contribuir para o Acordo de Paris.

Tanto os EUA como a Rússia são dos maiores contribuintes para as alterações climáticas devido à sua economia de exploração de combustíveis fósseis. Tudo depende de como Washington vai abordar Moscovo na matéria das alterações climáticas, e do seguimento que fazem desta relação. Independentemente das alterações climáticas representarem um futuro próspero, ou não, para a Rússia, o seu impacto vai representar uma mudança nas relações entre a Rússia e os Estados Unidos da América.

Fonte da Imagem: Google Imagens

 

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