CAROLINA MARINHEIRO escreve nesta análise sobre o crescimento da extrema-direita por toda a União Europeia, e alerta para o perigo que este crescimento constitui à segurança internacional.
O
politólogo especialista no estudo do populismo Cas Mudde,
define o populismo como a ideia de que existe um povo ou uma raça pura, que
contrasta com uma elite corrupta que não segue a vontade geral. Esta é uma premissa
utilizada por vários políticos na sua oratória, de modo a convencer a sua audiência de que são eles a parte pura da nação,
enquanto a elite ou, como veremos adiante, as minorias que pretendem atacar,
são corruptas ou impuras.
Esta é uma
ideia fundamental a reter, para compreender a dimensão da presente análise –
por toda a Europa, líderes políticos de extrema direita têm vindo a aliar o seu discurso
nacionalista e conservador a este populismo, fazendo
assim crescer o seu apoio por grande parte do eleitorado.
Em termos
práticos, o que estes líderes fazem é aproveitar-se do descontentamento da
população e recorrem à narrativa do povo puro para apelar aos
sentimentos da sua plateia; afirmam que apenas os nacionais são dignos de viver
no seu país, que a sua cultura é mais valiosa, que a religião que profanam é a
única religião aceitável, e que todos os restantes são impuros e não devem
portanto ter os mesmos direitos e liberdades. Argumentam que refugiados,
muçulmanos, comunidade LGBTQI+ e imigrantes, entre tantos outros, não são puros
e portanto não são bem-vindos no seu país.
Espalham-se assim ideais racistas, xenófobos, apelando à alegada superioridade
da raça ariana e da fé cristã, e criando uma onda de ódio contra tudo o que é
diferente do nacional. Elevam-se orgulhos nacionalistas e não se deixa espaço
para nada nem ninguém que seja diferente.
Este
fenómeno verifica-se atualmente por toda a Europa, com partidos de extrema-direita que perfilham estes ideais a eleger
deputados e a conquistar assentos parlamentares.
Para
chegarem ao eleitorado e propagarem as suas ideias, vários grupos nacionalistas
servem-se de diversas redes sociais e do seu alcance; espalham desinformação
e fake news da forma que lhes for mais conveniente, para validar os seus
argumentos e aumentar o apoio popular, sem se pensar em quaisquer consequências
de tais atos.
Este crescimento representa um perigo a nível nacional, comum a cada Estado, já que está a abrir
caminho para a chegada destes valores nacionalistas e extremistas aos parlamentos
e, já em alguns casos, aos governos. É o caso da Hungria, por exemplo, em que o
Primeiro-Ministro é Viktor Órban – o líder do partido de extrema-direita Fidész.
No que
toca à dimensão internacional, o problema é igualmente grave . Tanto os partidos de extrema-direita como os grupos nacionalistas, apesar de
preferirem a sua cultura nacional a qualquer outra, não têm qualquer problema
em aliar-se a outros partidos e grupos de outras nacionalidades com que
partilhem ideais, de modo a aumentar o seu poder no contexto internacional e a
apoiarem-se na persecução dos seus objetivos. Prova desta colaboração é o
movimento alt-right, que reúne nacionalistas de vários países (não só da União Europeia) para
concretizarem manifestações e ações em diversos países e espalharem os seus
ideais. No caso da alt-right, países europeus alinham-se com os Estados Unidos da América, na tentativa de propagar a sua ideologia à escala global.
Além do
perigo iminente desta corrente internacional de ideais não só nacionalistas mas
também racistas, xenófobos, homofóbicos, islamofóbicos e de supremacia branca,
este crescimento representa um considerável perigo para a União Europeia. Estes partidos são, na sua maioria, contra a inclusão do seu país na União Europeia, uma vez que entendem que enquanto Estados Membros a sua identidade e soberania
está comprometida. Daqui podem surgir, com a sua chegada ao poder – que pode
acontecer num futuro não tão longínquo quanto gostaríamos – novas ameaças à
continuidade do Projeto Europeu nos moldes que conhecemos atualmente.
Uma
possível saída destes países da União Europeia motivada pela sua posição
antieuropeísta coloca em causa a segurança internacional porque os governos nacionalistas
sentirão maior liberdade para começar guerras e conflitos em nome dos seus
interesses, começarão a ter alguma impunidade para perseguir e constranger
todos os que consideram diferentes e portanto inferiores, e cada um de nós
poderá ver a nossa segurança condicionada. A União Europeia foi construída com
o propósito de manter a paz no continente, e é essencial que esta
paz se mantenha entre nós.
Para isso,
é essencial que consigamos combater a desinformação, alertar para o populismo e
para as falácias presentes nos discursos populistas, educar as diversas faixas
etárias e, acima de tudo, relembrar as lições de um passado negro e recente. A
extrema-direita não pode vencer, e não pode haver espaço na União Europeia nem para
o ódio nem para novas guerras.
Fonte da
imagem: https://www.eurekastreet.com.au/article/the--far--right-stuff
Para mais informações sobre este tema, aconselho a visualização deste documentário, a leitura deste artigo, e deste livro, bem como a visualização do filme The Hater, disponível na plataforma de streaming Netflix.
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Para aprofundar este tema, decidi durante esta semana partilhar um pequeno inquérito online, onde procurei investigar sobre a perceção que os cidadãos têm do crescimento e presença da extrema-direita na União Europeia, e o sentimento que nutrem pela ideologia extremista. Foram registadas 98 respostas, de cidadãos portugueses, espanhóis, franceses, italianos e russos.
Eis algumas conclusões deste estudo:
-14,4%
assume concordar total ou moderadamente com a ideologia de extrema-direita;
-4,4%
diz pertencer a grupos nas redes sociais de partilha e apoio à extrema-direita;
-73,3%
confirma já ter visto publicações e/ou grupos nas redes sociais que promovem a
extrema-direita;
-72,2%
diz já ter encontrado nas redes sociais publicações a partilharem fake news
e/ou desinformação, de modo a tentar validar os argumentos extremistas; 22,2%
diz não ter a certeza;
-92,2%
dos inquiridos considera-se consciente do crescimento da extrema-direita por
toda a Europa, mas 8,3% destes não vê este crescimento como um perigo;
-por
último, 93,3% considera que o crescimento da extrema-direita compromete a
segurança a nível nacional e internacional.
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