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Filipinas e Estados Unidos: o fim de uma aliança

 

BIANCA LUDOVINO pondera o futuro das relações entre os Estados Unidos da América e as Filipinas. Após a suspensão do acordo de cooperação militar o presidente Rodrigo Duterte explora uma nova aliança com a China.

    As Filipinas, oficialmente República das Filipinas, são um arquipélago com mais de 7 000 ilhas localizadas entre Taiwan e a China. Este território tem presente vários aspetos e sinais americanos deixados após o domínio colonial. Para além de terem encorajado o desenvolvimento de partidos políticos, os Estados Unidos da América serviram como fonte de inspiração na criação do sistema político filipino que permanecem até aos dias de hoje.           

    Embora tenha proclamado a independência em 1898, esta só foi reconhecida pelo governo norte americano em 1946, tornando-se na primeira democracia constitucional na Ásia. O interesse estratégico em manter relações com as Filipinas foi consolidado em 1951 através da assinatura do Tratado de Defesa Mútua onde se estabeleceu uma aliança de cooperação militar entre os dois países.

    De acordo com o Tratado de Defesa Mútua, Washington e Manila têm permissão para realizar exercícios de treino militar de forma a reforçar a preparação das Forças Armadas Filipinas em resposta a crises, conflitos ou desastres humanitários. Ou seja, as forças militares dos Estados Unidos da América serão uma fonte de segurança para as Filipinas em caso de tensões relativas à soberania marítima, mas também uma preocupação para o exército filipino. Esta aliança é vista como um dos pilares do reequilíbrio estratégico dos Estados Unidos da América na Ásia sendo que também é um ponto de apoio para promover a estabilidade num país cada vez mais oscilante.

    Porém, na década de 90 tudo mudou. Devido à Guerra Fria, as bases americanas permaneceram operacionais até 1992, tal situação levou ao surgimento de um sentimento antiamericano que resultou na rejeição de renovação das instalações americanas por parte do senado filipino. Este ato foi considerado um marco simbólico para o fim do legado do colonialismo americano, porém não afetou a cooperação em questões de defesa. Segundo Richard Heydarian, professor na Universidade De La Salle em Manila, “The Philippines is among the most enthusiastic (nations) for a more proactive global role for the United States”.

    Seria expectável o presidente filipino concordar com a opinião pública, no entanto, não é o que se verifica. A eleição de Rodrigo Duterte, em 2016, originou dúvidas na resiliência da aliança entre as Filipinas e os Estados Unidos da América. Ao longo do mandato, Duterte assumiu uma posição anti-américa exprimindo várias vezes o seu desejo da retirada de tropas americanas do território nacional e esforçou-se em aumentar o distanciamento entre Manila e Washington, abrindo portas a um possível novo aliado, a China.

    Como muitos, Duterte chegou ao poder pela via eleitoral e ganhou vários seguidores com o seu discurso populista. Num tempo em que as vontades e necessidades das pessoas não eram satisfeitas, ele apresentou-se como um man of the people e como o único líder forte e decisivo para salvar a nação, sendo que cumpria as suas promessas, mesmo de maneiras suspeitas. A política de Duterte é marcada pela guerra contra as drogas, algo que apresenta como sendo uma ameaça social ao país, mas que é manipulada como pretexto para prender, e em alguns casos, eliminar os seus opositores. Apesar das críticas internacionais, o presidente acelerou este processo “assassino”, que, segundo Donald Trump, é a “maneira correta” de lidar com a situação.

    Porém, o apoio do ex-presidente americano não se estendeu à administração Biden. Em janeiro de 2021, o senado americano invocou o Magnitsky Act e procedeu ao cancelamento do visa do Senador filipino Ronald “Bato” Dela Rosa, responsável pela Polícia Nacional Filipina e conhecido pelo seu papel nas mortes relacionadas com as operações anti-drogas, e impôs sanções a agentes filipinos envolvidos na detenção da senadora Leila de Lima, membro da oposição e crítica da war on drugs de Duterte.

    Estes acontecimentos foram a gota de água para Duterte que, após várias ameaças, declarou o término do Visiting Forces Agreement (VFA) sem ter consultado os secretários de defesa. Este acordo efetivado em 1999, declara que membros das forças americanas que cometam crimes considerados de pouca importância nas Filipinas serão julgados seguindo as leis americanas.

    Mark Valencia, adjunto no Instituto Nacional do Sul da China para Estudos do Mar, afirma que a decisão do presidente não foi inesperada. Perante a diminuição da influência americana na região face ao crescimento do poder chinês, Duterte teme que as forças americanas não sejam suficientes caso haja um conflito com a China, que ao longo dos anos se tem tornado num aliado mais apelativo a longo prazo.

    Esta aproximação à China, pode ser vista por Duterte como uma solução à presença americana, segundo o presidente: “They (China) do not mean harm (as long as) we do not also do something harmful to them”. Porém, tal poderá significar a exposição a outra grande potência hegemónica e não o apoio que idealiza.

    No entanto, ainda há esperança de que a suspensão do VFA não seja permanente, uma vez que são necessários 180 dias para que se torne vinculativo.

    Podemos concluir que embora o regime de Duterte tenha vindo ameaçar a aliança com os Estados Unidos da América, ainda há um longo caminho a percorrer até se separarem por completo; visto que não é uma opinião partilhada pela população filipina, especialmente pelas forças militares e políticos, que advogam o apoio americano invés de uma aproximação à China.



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