Ana Bento constata que a vacina contra o Sarscov 2 não irá chegar a toda a Síria, as mortes vão aumentar, não só devido à Guerra, mas também porque o Governo Sírio não coloca a saúde à frente do conflito.
A República Árabe Síria, país situado na Ásia Ocidental
enfrenta também a crise pandémica provocada pelo Sarscov2, mesmo que tal não
seja noticiado em televisão nacional portuguesa.
Segundo dados oficiais da Organização Mundial de Saúde, existem hoje 14 611 casos e 961 mortes devido ao Sarscov 2.
O governo da Síria não protege de forma adequada os seus
profissionais de saúde, não apresenta soluções para a proteção dos mesmos ou
dos cidadãos e depara-se atualmente com o problema da vacinação.
A Amnistia Internacional teve conhecimento destes factos
através de familiares de pessoas infetadas, de médicos e trabalhadores do setor
da saúde do país.
Não se pode falar da Pandemia na Síria sem falar da Guerra,
aliás, falar da Síria sem falar da Guerra brutal, iminente, seria falacioso.
Existem milhões de pessoas refugiadas em países vizinhos e
milhões de pessoas deslocadas dentro do próprio país. A fuga ou deslocação leva
necessariamente a problemas de saúde dada a escassez de água ou alimentos e
claro a falta de condições para subsistir.
Mesmo com o predomínio da Guerra a situação é inaceitável. É inaceitável que a saúde fique para trás e que os conflitos permaneçam. A Guerra começou em 2011, permanece até aos nossos dias. É um dos maiores conflitos anível global, tanto a nível de duração como a nível de mortes e destruição dosdireitos humanos, os poucos que restavam da população que reside no país. Segundo a ONU e outras organizações internacionais, crimes de guerra e contra a humanidade são perpetuados pelo país por todos os lados de forma desenfreada.
Na fase inicial da
guerra, as forças leais ao governo foram os principais alvos das denúncias,
sendo condenadas internacionalmente por incontáveis massacres de civis. Milícias
leais ao presidente Assad e integrantes do exército sírio foram acusadas de
perpetrarem vários assassinatos e cometerem inúmeros abusos contra a população.
Contudo, durante o decorrer das hostilidades, as forças opositoras também
passaram a ser acusadas, por organizações de direitos humanos, de crimes de
guerra. O Estado Islâmico, desde 2013, passou então a chamar a atenção pelos
requintes de violência e crueldade nas inúmeras atrocidades que cometiam pelo
país.
O egoísmo cego da síria e a sua vertente violenta são
conhecidos, mas nada disso justifica que perante uma Pandemia a nível mundial,
o descurar dos direitos humanos relativos à saúde seja uma realidade, tal comoo desrespeito pelos profissionais de saúde que tanto lutam para salvar vidas, incluindo as suas.
A organização Human Rights Watch (HRW), organização internacional não governamental, fundada em 1978, sediada nos EUA pediu há dez dias, apoio para as organizações de ajuda humanitária na Síria, de forma a garantir uma distribuição e administração "equitativa" da vacina contra a covid-19, acusando o regime de práticas discriminatórias.
"Os que fornecem as vacinas à Síria devem fazer todo o
possível para garantir que elas chegam aos mais vulneráveis, onde quer que eles
se encontrem no país", disse Sara Kayyali, especialistada HRW para a Síria, num comunicado.
Em finais de janeiro o governo sírio aprovou a adesão do país ao sistema Covax, sistema criado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Aliança Global para as Vacinas (GAVI) para garantir que as vacinas chegam aos países mais pobres.
O problema são as áreas, que devido à guerra escapam ao
controlo do regime. Serão estas pessoas vacinadas? O governo distancia-se da
problemática enquanto que a HRW se preocupa com uma eventual exclusão do plano
de vacinação de áreas do território que escapam ao controlo do
regime.
Para além da exclusão de alguns no plano de vacinação mal
estruturado no país, surge também o problema do rastreio, os dados provenientes
da Síria quanto ao número de casos ativos, ou mortes causadas pelo Sarscov2. É
inadmissível que tal aconteça sendo que agências como a ONU propuseram-se a
instalar laboratórios de rastreio na região nordeste do país, região esta
controlada pelos curdos. O governo sírio, devido aos conflitos existentes, nega
tal ajuda.
Há ainda o caso do último grande bastião 'jihadista' e
rebelde de Idlib (noroeste). A HRW garante que as
"autoridades locais" da região apresentaram um pedido oficial para
aderir ao Covax.
Por último, a HRW destaca os "desafios
logísticos" da distribuição da vacina em todo o país, apontando
nomeadamente a gestão da cadeia de frio, dado que o clima mediterrânico e árido
da região se torna também um problema na distribuição e armazenamento de
vacinas.
Ninguém sabe a data de término da Pandemia que assola o mundo, tal
como ninguém sabe tudo acerca da vacinação pois esta é recente e os países
ainda estão a delinear os seus planos e estratégias. Mas uma coisa é certa. A
Síria vai continuar em Guerra, destruindo lares. famílias e vidas, dificultando
todo o processo de vacinação, tornando-o desigual em comparação com a maioria
dos países mais desenvolvidos.
A vacina não irá chegar a todos os que dela precisam, as mortes vão aumentar, não só pelas causas anteriores à situação atual, mas também porque o Governo Sírio não coloca a saúde à frente do conflito.
O poder não pode ser mais importante que o rastreio, os
cuidados ou a vacinação da população, mas no fundo, é.
Seria esperançoso acreditar que o problema será amenizado
com o passar do tempo e a ajuda externa, mas pensar de tal forma seria cair por
completo na utopia.
Fonte da imagem: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/1680401/covid-19-hrw-pede-distribuicao-equitativa-da-vacina-na-siria
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