TÂNIA MELRINHO expõe a guerra silenciosa em Hebron, questionando quando o silêncio aterroriza mais do que uma granada, uma explosão, o que deve ser feito? Aqui a ocupação israelita não se esconde, a vida é marcada pela apropriação como em nenhuma outra cidade palestiniana.
A
história da cidade recua até 1929,com o massacre de Hebron, que moldou
a realidade com a qual a comunidade palestiniana é confrontada, o
princípio da separação, dado que a cidade se encontra dividida em três sectores: H1, vigiada pela Autoridade Palestina; H2, correspondente a cerca
de 20% da cidade que é administrada por Israel; a última zona está sob o controlo
total das Forças Defensivas de Israel.
A
comunidade palestiniana encontra-se subjugada ao domínio de Israel que, com a
construção dos assentamentos, expulsa diariamente palestinianos das suas
próprias casas, dos seus próprios negócios, da sua própria cidade. Vivendo aprisionados
para a sua própria proteção. O expoente máximo da rutura dos direitos humanos.
Segundo
a Declaração Universal dos Direitos Humanos no seu artigo 1º, “Todos os
seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de
razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de
fraternidade” e ainda no seu artigo 3º “Todo o indivíduo tem direito à vida, à
liberdade e à segurança pessoal.”, como podem os direitos que regem toda a vida
humana estar a ser esquecidos em Hebron? O desprezo pelos direitos humanos
continua a conduzir a atos de barbaridade inigualáveis, mas que continuam a ser
varridos para debaixo do tapete.
Apesar
de em 2017 a UNESCO declarar Hebron património mundial e território
palestino, nada se alterou. Enquanto atores internacionais continuarem a
perpetuar a sua influência, como é o exemplo dos EUA que para além de
censurar esta decisão, não considera que os colonatos israelitas em territórios
palestinianos sejam uma transgressão do direito internacional, tudo continuará
igual. A própria inação da Organização das Nações Unidas e do Tribunal
Internacional de Justiça permitem a eternização da realidade em Hebron, não basta
considerar os assentamentos judaicos ilegais, escrito na própria Convenção de Genebra a proibição de um país transferir a sua população para o
território que foi ocupado militarmente.
O
caminho para uma comunidade internacional parece apenas ser trilhado em pontos
estratégicos, estamos interligados e somos interdependentes, neste
sentido deveríamos ser capazes de identificar as áreas onde é necessária a ação
coletiva para proteger o direito internacional. O que une a comunidade
internacional deve ser, tal como está escrito na Carta das Nações Unidas, uma
visão partilhada de um mundo melhor para todos. É preciso não deixar que este
caminho seja utilizado como instrumento de conveniência. Os conflitos de interesse são
imutáveis, mas não pode valer tudo quando se joga com a vida humana, o que deve
prevalecer é uma lógica de cooperação e não de competição.
A situação de Hebron já ultrapassou todas as etapas de uma ameaça, passando à agressão, empregando formas de coações violentas e opressoras, para com o povo palestiniano. É urgente restabelecer e valorizar os direitos humanos no Médio Oriente, respeitar a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Carta das Nações Unidas. A ONU, graças ao seu poder e caracter internacional sui generis, tem um papel fundamental para a resolução, regendo-se sempre pelo princípio da justiça, da igualdade e da dignidade humana. É preciso a construção da paz, ajudando não só Hebron, como o próprio país que emerge do conflito.
Sendo
uma das regiões mais conflituosas, com uma história marcada pela segregação, um
forte simbolismo e a carga do passado, os obstáculos para a paz são igualmente
colossais, mas a intervenção de atores internacionais, Estados e Organizações, podem
significar um ponto final nesta realidade, ao apoiar a presença internacional
em Hebron com o objetivo de garantir ao povo palestiniano a proteção
internacional a que têm direito. Ao reconhecerem e condenaram em declarações
e relatórios que a ação feita em Hebron cria um ambiente opressivo que obriga
palestinos a abandonarem o seu lar e ao cumprir com a obrigação para com este
povo, ao abrigo do direito internacional. Coloca-se como pressuposto que o reconhecimento da Palestina seria a condição basilar para a resolução desta rutura na
humanidade.
Como
defende Donald Houston é necessário ver o mundo de diferentes perspetivas, sendo
que a avaliação de cada ator internacional é feita de maneira distinta, tendo
cada situação um significado específico. Uma disputa territorial, um conflito,
um acordo de cooperação, posições que se transformam em ações políticas.
Contudo, Hebron trata-se de uma luta contra a violação dos direitos humanos,
não há perspetiva que o possa negar, mais necessário do que uma ação política,
é uma ação humanitária.
Comentários
Enviar um comentário