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BIANCA LUDOVINO analisa o futuro de Nagorno-Karabakh que foi, mais uma vez, alvo de conflitos entre a Arménia e o Azerbaijão em 2020. Apesar do acordo de cessar-fogo ter sido alcançado,
as tensões permanentes entre os países vêm ameaçar a paz (temporária) do território.
O conflito de décadas entre a
Arménia e o Azerbaijão sobre o país independente de facto de Nagorno-Karabakh
eclodiu no final de setembro de 2020, sendo o pior conflito desde a década de
90 a atingir a área.
A 1ª guerra de Nagorno-Karabakh decorreu entre 1988 e 1994. Esta deveu-se à anexação de Nagorno-Karabakh a Azerbaijão a
mando da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), tal acontecimento
despertou um sentimento de descontentamento na Arménia pois tratava-se de uma
região onde a maioria da população era de nacionalidade arménica. A religião
veio também provar ser uma divergência, pois, o povo azerbaijano segue a fé
muçulmana enquanto que o povo arménico segue a religião cristã, o que levou à
emergência de movimentos arménios separatistas que exigiam a união dos
territórios cristãos.
Em 1988, esta situação atingiu
níveis proporcionais iniciando-se uma guerra entre os dois países. Durante o conflito as forças arménias ganharam
controlo de vários territórios sendo um deles Nagorno-Karabakh, no entanto este
provou ser um controlo efémero. Após várias negociações guiadas pela Rússia e
pelo Grupo Minsk, criado pela atual OSCE (Organização para a Segurança e
Cooperação na Europa) para resolver o conflito pela via diplomática foi
convencionado um acordo de cessar-fogo em 1994, todavia este mostrou ser
ineficaz pois nenhum queria prescindir do controlo da área que para além de ter
uma posição estratégica poderá servir como vantagem num confronto militar
perante o terreno montanhoso.
Concomitantemente, o território em
disputa declarou independência como República de Artsakh mais conhecida por
República de Nagorno-Karabakh visando uma reunificação à Arménia. Porém, a
declaração foi rejeitada pelo Azerbaijão impulsionando o conflito.
Deste modo, após o acordo de 1994, a
região de Nagorno-Karabakh ficou reconhecida internacionalmente como territórioazerbaijano, mas na realidade trata-se de um país independente de facto ocupado
por arménios étnicos acabando por se tornar uma linha de separação entre os
dois países em disputa.
A ligação com a Arménia é intensificada pela dependência e harmonia entre os dois. Este ambiente proporcionou várias hostilidades entre o Azerbaijão e a Arménia ao longo dos anos, sendo que em 2020 a disputa territorial deflagrou, algo que Oleg Chupryna, estudante na Universidade de Maynooth, designou como a 2ªGuerra de Nagorno-Karabakh.
O segundo conflito não foi uma
surpresa. Com o falhanço das negociações de paz, o Azerbaijão continuou com
ameaças de guerra e a preparar-se para tal. Apoiado pela Turquia e com uma
grande capacidade bélica, incitou um conflito armado contra a República da
Artsakh que contou com o apoio da Arménia visando a recuperação total dos
territórios que tinha perdido décadas antes.
Após 44 dias de guerra, a Arménia, o
Azerbaijão e a Rússia assinaram outro acordo de cessar-fogo no dia 10 de novembro.
Mas tal como no passado, a questão do futuro de Nagorno-Karabakh não ficou
resolvida.
Em concordância com o acordo, a
região será dividida seguindo o status quo, ou seja, o Azerbaijão
recuperou o controlo de Nagorno-Karabakh e efetuou-se a retirada das forças
arménias das regiões circundantes. Para além disto, a Arménia concordou em
abrir uma linha de transporte para o Azerbaijão através da Arménia para a
região de Nakhichevan, repúlica autónoma do Azerbaijão. Porém, esta cedência de território não
atingiu o corredor de Lachin, que fornece uma ligação entre a Arménia e
Nagorno-Karabakh que atualmente se encontra sob proteção das forças de paz
russas
O cenário incerto do território
juntamente com os danos de guerra não oferece um bom futuro para os arménios
étnicos que escolhem permanecer na região. Tal situação aumenta as
probabilidades de a paz nunca ser atingida até que um dos países seja derrotado
definitivamente, o que poderá causar milhares de mortes não só dentro do
círculo militar, mas também civis inocentes. Tal como Roya Talibova, professora na Universidade de Michigan, afirmou “Frozen conflicts don´t stay frozenforever (…) they thaw at some point”.
De
modo a evitar este caminho é necessário revitalizar o Grupo Minsk da OSCE e
reforçar a sua atividade de modo a alcançar-se uma resolução próspera e
duradoura. Outra prioridade será a ajuda humanitária pois perante o domínio
azerbaijano a população de Nagorno-Karabakh está a ser obrigada a deixar o país
e os seus bens. Perante a situação, podemos afirmar que a União Europeia
necessita de reforçar a sua posição em matérias de seguranças e na resolução de
conflitos dos países do Cáucaso caso contrário irá perder a sua influência nas
políticas regionais dos mesmos.
Tendo em conta o que foi mencionado,
podemos inserir este conflito na teoria do realismo. Tal como a mesma indica, o
permanente conflito de interesses entre Estados poderá levar ao conflito, de
certa forma é que aconteceu entre a Arménia e o Azerbaijão que lutam pelo
controlo de Nagorno-Karabakh desde a sua fundação.
Enquanto muitos esperam o fim
permanente do conflito de Nagorno-Karabakh através da via diplomática, podemos
concluir que perante os acontecimentos recentes este apenas teve uma pausa e
não uma resolução profunda, tornando a paz algo efémero e longe de alcançar. O repórter, Alex Ward descreve a situação como
“a wholly different and ruinous flareup and ruinous flareup with no end insight”.
Fonte da imagem: https://cartoonmovement.com/cartoon/frontier-war
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