Kyara Barros aponta que com a eleição de Joe Biden em 2021, espera-se o fim da guerra no Iémen e a restauração da paz no Médio Oriente.
Os Estados Unidos da
América conseguem administrar a paz e a guerra à volta do mundo. Quando a paz
está a seu favor eles servem de mediadores e providenciam discursos para provar
o seu envolvimento na manutenção da paz mundial. Mas, quando a guerra favorece
a sua luta e conquista pelo poder eles recorrem a todos os meios necessários
para esse fim. Providenciam armas, manipulam informações e controlam as marionetas
que são as outras nações que se rendem a sua política externa, e posteriormente
enfrentam as consequências, ou então são simplesmente apanhados no fogo cruzado
como foi o caso do Iémen, que se tornou a maior vítima da política externa
Americana no contexto da aliança de 75 anos entre a Arábia Saudita e os Estados
Unidos. As duas nações tinham o acordo dossauditas fornecerem petróleo aos americanos, e os americanos venderem armas aossauditas, e outros aliados no Médio Oriente. Para os americanos, a venda de
armas aos sauditas era uma vantagem e um impedimento aos soviéticos de entrarem
no Oriente Médio
Esse acordo de vendas
seria a origem de algo muito maior, que representou um claro erro de cálculo da
política externa americana, quando a Arábia Saudita altamente armada com armas americanas
faz uma intervenção à guerra civil no Iémen em 2015, com um discurso de
restauração do governo, mas o que resulta dessa intervenção é o agravamento do
conflito, juntamente com a intervenção do Irão para apoiar os rebeldes. Essas
intervenções dos Estados Unidos, Arábia Saudita e Irão enquanto atores estatais
transforma o Iémen numa guerra por procuração, com ataques agressivos dos
Sauditas, apresentando a pior crise humanitária ao resto do mundo. Verdadeiros
crimes de guerra.
As vendas de armas não cessaram com a
administração Obama, muito pelo contrário, com a administração Obama foi
aprovada a maioria das vendas das armas aos Sauditas na história dos Estados
Unidos. Entre as vendas aprovadas estava a bomba que atingiu o autocarro
escolar no Lémen em 2018. Por essa altura Presidente Barack Obama ao entregar a
«caixa de pandora» com os fantasmas da política externa americana à
administração Trump o problema de estabelecer a paz no Oriente Médio agravou-se,
pois agora estava nas mãos do Presidente Donald Trump remediar essa situação,
algo que ele já havia declarado não ter interesse, pois o seu foco eram os
benefícios económicos da venda de armas
O fato é que independentemente do seu trabalho, a administração terá de ser firme com a decisão de retirar os Estados Unidos da maioria das atividades relacionadas com a guerra em relação à Arábia Saudita. Acabar com a guerra pode ir além da influência da nova administração, mas acabar com a cumplicidade do Estados Unidos na guerra não é, e muito menos é acabar com a destruição do Iémen. Percecionando a situação os EUA têm em mãos uma lista enorme ações diplomáticas a fazer em relação ao Oriente Médio, o que não é nada mais que o mínimo, dado que são eles os patrocinadores deste cenário catastrófico. Biden poderia começar por reverter a decisão de última hora da administração Trump de designar os Houthis como uma organização terrorista. Depois poderia anunciar o corte da ajuda militar dos EUA ao esforço de guerra Saudita, e estipularia que as relações bilaterais dependeriam maioritariamente da forma como os Sauditas contribuem para encontrar uma solução prática de pôr fim à guerra.
Embora a restauração da paz no Iémen seja oponto crucial na lista de coisas para fazer no Médio Oriente que os EUA têm,
nada garante que o esforço seja bem sucedido, mas a equipa de Biden tem a
grande vantagem de saber onde os seus antecessores erraram ao tentar isso, de
ver o que não funcionou durante a administração Obama, e pode preparar um
abordagem mais contida sobre as circunstâncias em que está disposto a prestar
assistência. Pois, por mais que os Sauditas cooperem no processo de paz, após
tanto tempo, pode revelar-se insuficiente. Os obstáculos à paz são numerosos e
a guerra agora se desenrola em múltiplas frentes, cada uma com a sua própria
dinâmica política e linhas de comando e controlo, e sem a entrada de todos os
intervenientes é pouco provável que um acordo de paz se sustente (Robert
Malley, 2021).
O cenário de destruiçãoirreversível no Iémen deve servir para recordar os custos de entrada de taisconflitos, e responsabilizar os envolvidos pelos crimes de guerra. Não apagar a
história, mas sim aprender com ela, e isso cabe à administração Biden que tem a
hipótese de diminuir a intensidade do compromisso com a Arábia Saudita, num
esforço para reduzir o risco de consequências prejudiciais, mesmo que isso
signifique reduzir uma ligação anciã crucial para proteger os interesses energéticos
e de segurança dos Estado Unidos no Golfo. A administração ao elaborar o equilíbrio
dos riscos, deverá rever as garantias de segurança dos EUA, para proporcionar
mais espaço de manobra em situações como no Iémen, que embora graves, ficam
muito aquém de uma ameaça existencial
O envolvimento dos Estados
Unidos na guerra é marcado por parcerias envolventes, ambições e ações por
conveniência. O desastre no Iémen é uma clara denúncia das falhas da política
externa dos Estados Unidos, e evidencia que a dita política externa necessita
de ser reavaliada. Cabe a Biden aprender com os erros dos seus antecessores e
mudar o curso da história. A maior questão é saber se a Administração Biden
realmente fará isso, ou se as promessas feitas seriam apena uma ilusão de um
futuro melhor para o Médio Oriente e principalmente para o Iémen, a maior
vítima do desastre.
Fonte imagem: Mohamed al-Sayaghi, Reuters Media Express.
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