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Nord Stream 2: uma Alemanha egoísta?

 




          Maria Batista reflete sobre os verdadeiros interesses que estão por trás do projeto ao Nord Stream 2.

           NordStream 2 consiste num gasoduto que irá transportar gás russo para a Europa pelo Mar Báltico, sendo o ponto de entrada a Alemanha. Para além da sua extensa dimensão física, para ser mais preciso 1224 quilómetros de comprimento, revelou-se um extenso problema diplomático porque joga com interesses de vários atores. No decorrer da construção do gasoduto situações como o envenenamento do líder da oposição russo Alexei Navalny , a repressão de manifestações neste sentido e também sanções que foram implementadas a ambas potências envolvidas. Este projeto tanto pode ser uma bênção como uma completa armadilha geopolítica.

Com a implementação deste gasoduto a quantidade de gás natural que irá chegar ao mercado alemão e europeu irá duplicar. Isto materializa-se em duas importantes questões: o facto de implicar uma grande dependência da europa face a Moscovo em matéria de combustíveis; e o facto de este projeto não estar em linha com os objetivos e legislação da União Europeia. De facto, desde a detenção de Alexei Navalny a União Europeia e França apelaram publicamente ao abandono do acordo, devido à resposta deplorável por parte do país. Já os Estados Unidos e a Polónia demonstraram a sua oposição não só por esse motivo, mas também pelo facto de  significar que a europa ficará refém.

              Apesar da contestação de vários atores, o governo alemão manteve a sua posição e sempre demonstrou publicamente a sua intenção de prosseguir com o projeto. É um importante passo estratégico para a Alemanha e trará beneficíos políticos e económicos significativos, mas esta decisão parece estar apenas centrada na vontade das elites políticas alemãs e ignorar todo o seu redor. O facto de o acordo depender somente da resposta da Alemanha deixa os restantes atores de mão e pés atados, obrigados a aceitar um destino que não lhes convém. Todos os pequenos cortes com outros países representam mais poder e independência russa. Nada poderá garantir a estes países que Moscovo vai cortar o fornecimento de gás ou não , e por isso é que é tão perigoso, porque liberdade que têm para fazê-lo.

                     A verdade é que o debate em torno do tema assume diversas vias, como o facto de existirem outras fontes por onde a Alemanha poderia recorrer para aumentar o volume de gás natural , como os Estados Unidos, a Noruega e  países do Norte de África. Este acordo prejudicou particularmente a Ucrânia e a Polónia porque o novo trajeto do Nord Stream 2 vai da Rússia diretamente para a Alemanha e foge assim aos custos extra que teria pela passagem por esses dois países, impede-os de ganharem mais uma fonte de lucro, as taxas de trânsito. É neste sentido que os EUA sancionaram a entidade russa KVT-RUS, por contribuirem para transformar a Rússia num instrumento de pressão política. O descontentamento público também provém da preocupação ambiental comum, a verdade é que a construção do gasoduto pode ser prejudicial para a fauna e flora do mar báltico.     

                             Quando se fala em Nord Stream 2 vê-se uma Alemana e Rússia de mãos dadas contra o mundo. Constitui um acordo nocivo para todos aqueles que não o integram diretamente, é impossível acreditar que é só uma jogada económica com tanto que implica, com a tensão que cria ao redor de Berlim. Os impactos deste acordo só parecem piorar, se pensarmos na situação como se de um livro se tratasse isto era apenas o prefácio.


Fonte da imagem:     https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.fx.co%2Fen%2Fforex-humor%2F33851&psig=AOvVaw3eSgWQDC8bsR8NGTXFcBvY&ust=1613859042567000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCKjhzcv79u4CFQAAAAAdAAAAABAD                   


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