RAFAELA MONTEIRO ressalta as consequências do apoio Turco ao Azerbaijão, na luta pelo território fronteiriço de Nagorno-Karabakh. Há cerca de 30 anos que o confronto militar que tem impactado a balança de poder no Cáucaso do Sul, entre a Armênia e o Azerbaijão, parece não ter fim.
A
Rússia assumiu, no passado dia 10 de outubro de 2020, a liderança na mediação
do conflito no enclave de Nagorno-Karabakh. O acordo de cessar-fogo nesta região, assinado em Moscovo pelos chefes da diplomacia
da Arménia e do Azerbaijão, foi essencial no decorrer de uma onda de violência
que se fez sentir entre estes dois países, em setembro do mesmo ano, e que pôs
fim a quatro anos de relativa trégua. O acordo obrigou os armênios a desistirem das terras conquistadas no Azerbaijão assim como de um terço do território de Nagorno-Karabakh. Porém, este trato não foi suficiente para baixar a poeira da guerra.
Ora, para percebermos melhor o panorama atual da região do extremo leste europeu e os seus impactos na região e no mundo torna-se fundamental recuar às origens desta disputa. Quando em 1920-1921, a Arménia e o Azerbaijão tornaram-se repúblicas socialista soviéticas, viram as suas fronteiras definidas pela União Soviética, e a agregação da região de Nagorno-Karabakh ao Azerbaijão. O grande problema deu-se, pois, a maioria da população local desta região era de cristãos arménios que se distanciavam religiosamente dos muçulmanos do Azerbaijão. Desta forma, os armênios separatistas exigiram que Nagorno-Karabakh deixasse de pertencer ao Azerbaijão e se unisse à Armênia. Em 1988, deflagrou uma guerra de grande escala entre os separatistas armênios, apoiados pela Armênia, e o Azerbaijão. Os armênios ganharam o controle, não só de Nagorno-Karabakh, mas também das terras do Azerbaijão ao seu redor. Em 1992 a região acabou por se autodeclarar independente, mas nenhum país do mundo reconheceu essa independência. Um acordo de paz surgiu em 1994, mas acabou por vacilar em 2016 e, recentemente, em 2020.
Ora, para percebermos melhor o panorama atual da região do extremo leste europeu e os seus impactos na região e no mundo torna-se fundamental recuar às origens desta disputa. Quando em 1920-1921, a Arménia e o Azerbaijão tornaram-se repúblicas socialista soviéticas, viram as suas fronteiras definidas pela União Soviética, e a agregação da região de Nagorno-Karabakh ao Azerbaijão. O grande problema deu-se, pois, a maioria da população local desta região era de cristãos arménios que se distanciavam religiosamente dos muçulmanos do Azerbaijão. Desta forma, os armênios separatistas exigiram que Nagorno-Karabakh deixasse de pertencer ao Azerbaijão e se unisse à Armênia. Em 1988, deflagrou uma guerra de grande escala entre os separatistas armênios, apoiados pela Armênia, e o Azerbaijão. Os armênios ganharam o controle, não só de Nagorno-Karabakh, mas também das terras do Azerbaijão ao seu redor. Em 1992 a região acabou por se autodeclarar independente, mas nenhum país do mundo reconheceu essa independência. Um acordo de paz surgiu em 1994, mas acabou por vacilar em 2016 e, recentemente, em 2020.
Na verdade,
já não faz sentido dizer que a divisão atual destes países passa pela religião,
etnia, cultura, história ou tradições; mas sim pelas diferentes visões,
ambições, e aspirações defendidas pela Armênia, pelo Azerbaijão e por atores
externos. Na verdade, as potências regionais Rússia e Turquia dominam cada vez mais o espaço de gestão de conflitos o que confere novas dependências para a
Armênia e para o Azerbaijão. Vejamos, no caso da Rússia,
que atua como um negociador de ambos os lados, tem vantagens distintas que superam a influência
turca uma vez que, tem envolvimento direto com os dois lados do conflito. Apesar de ter uma base militar e um tratado de
defesa mútua com a Armênia, esta mantém também relações diplomáticas com o
Azerbaijão. É impossível negar a sombra que a Rússia mantém sobre o
Cáucaso. O que quer que estes países decidam, devem sempre ter em conta o “fator
Rússia”, cuja importância influencia, naturalmente, as orientações e
prioridades de política externa dos seus vizinhos. Porém, a Rússia não tem interesse
em agravar esta situação, pelo contrário, pretende defender o Cáucaso como sua
área de influência de maneira a ter os dois países sob a sua dependência. Por
outro lado, a Turquia tem o seu lado bem definido sendo a principal aliada do
Azerbaijão, esforçando-se, constantemente, por alcançar os seus objetivos
estratégicos utilizando as situações políticas mais convenientes. Mas, afinal, que interesses tem a Turquia por este conflito? Ora, para além das grandes semelhanças
étnicas e culturais entre os países de língua turca, existem aspetos mais
relevante. Primeiro, há anos que a Turquia tenta, de forma intensiva, tornar-se
independente do gás natural russo. Seja através de acordos na Líbia, de
explorações no leste do Mediterrâneo ou simplesmente de grandes negócios com os seus parceiros em Baku- Capital do Azerbaijão- com quem tem fortes ligações às
fontes de energia. Assim, a Turquia e o Azerbaijão podem vir a controlar o petróleo e o gás natural que têm a Europa como destino, tonando a Europa dependente da Turquia. Outra razão, passa pelo
desejo que esta tem em recuperar o seu papel como principal fornecedor militar da
região, algo que agora cabe à Rússia e a Israel. A Turquia recrutou, inclusivamente, mercenários na Síria
para apoiar o Azerbaijão neste conflito contra a Armênia.
É neste ponto que se torna possível dar uma resposta à questão supra colocada. O caminho para a paz está muito além dos esforços da Armênia e do Azerbaijão. Para além destes, também a Turquia é um importante interveniente na guerra, isto é, para além de alimentar a guerra com o apoio ao Azerbaijão, mantem-se constantemente afastada dos acordos de paz. Estes factos apresentam-se como prova da Teoria Realista que aponta o uso da política externa como um instrumento veiculador dos interesses domésticos. A Turquia, perante a condição anárquica de política internacional, luta constantemente pela pela maximização do seu poder face aos outros Estados, de forma a alcançar uma hegemonia regional e, posteriormente, mundial. Enquanto a Turquia não vir os seus interesses de política externa alcançados, a guerra por Nagorno-Karabakh não terá fim.
É neste ponto que se torna possível dar uma resposta à questão supra colocada. O caminho para a paz está muito além dos esforços da Armênia e do Azerbaijão. Para além destes, também a Turquia é um importante interveniente na guerra, isto é, para além de alimentar a guerra com o apoio ao Azerbaijão, mantem-se constantemente afastada dos acordos de paz. Estes factos apresentam-se como prova da Teoria Realista que aponta o uso da política externa como um instrumento veiculador dos interesses domésticos. A Turquia, perante a condição anárquica de política internacional, luta constantemente pela pela maximização do seu poder face aos outros Estados, de forma a alcançar uma hegemonia regional e, posteriormente, mundial. Enquanto a Turquia não vir os seus interesses de política externa alcançados, a guerra por Nagorno-Karabakh não terá fim.
Contudo, a meu ver, estre problema torna-se, sobretudo, um desafio para o Grupo de Minsk da OSCE, copresidido pela França, Rússia e Estados Unidos, que surgiu em 1992 para
encontrar uma solução pacífica para o conflito de Nagorno-Karabakh. Porém, este grupo tem sido amplamente ineficaz nos
últimos anos. É necessário que o Grupo de Minsk adote, urgentemente, uma postura de
intermediário sério e assertivo que consiga levar a cabo uma vital operação de
manutenção de paz. Para isto, torna-se necessário que comecem por persuadir os Turcos para a colaboração nesta missão.
Fonte da Imagem 1: Publicado a 2de outubro,2020
por Paresh Nath politicalcartoons.com
Fonte da Imagem 2: http://ambitointernacional.com/turquia-no-quiere-guerras-frente-de-sus-fronteras/
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