A hostilidade entre as duas nações sucedeu-se após a ocupação do
território helénico por parte do Império Otomano, que após vários confrontos,
foi liberto em 1828. O território turco surge em 1923 com o fim da I Guerra
Mundial, e o Estado sucessor do Império Otomano perdeu todas as ilhas do Mar Egeu para a Grécia, e desde então,
helénicos e turcos disputam a Zona Económica Exclusiva (ZEE) entre as ilhas
gregas e a costa turca. Mesmo a Grécia e a Turquia aderindo à Organização do Tratado do Norte
Atlântico (OTAN) em 1952, tornando-se aliados militares, as tensões não reduziram.
Um dos pontos de discórdia entre Turquia e Grécia relaciona-se com o Chipre, dividido desde 1974, que envolve a obtenção dos recursos minerais em torno da ilha e domínio do Mar Egeu e do Mar Mediterrâneo Oriental. A tentativa ultranacionalista de cipriotas gregos pretendia unir a ilha à Grécia. A reação turca aconteceu quando a região Norte foi ocupada e autoproclamada de “República Turca do Norte de Chipre (RTNC)”. Os ânimos intensificaram-se devido à exploração turca dos recursos marítimos e petrolíferos da região Norte, a qual os helénicos argumentam que se encontram em águas gregas. Para além disso, Turquia e Líbia celebraram um acordo bilateral em 2019 que permite que Ancara explore os recursos existentes no fundo do mar desde a Ilha de Creta até o leste de Rhodes graças à redistribuição da ZEE feita neste acordo. Os gregos responderam ao acordo bilateral com a formalização de um tratado com o Egito para cooperarem na obtenção de gás natural no Mediterrâneo Oriental.
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As ZEEs sobrepõem-se |
As iniciativas de exploração de recursos energéticos e pesquisa sísmica turca em águas gregas aumentaram a tensão. Após a interrupção das negociações em 2016, Erdogan retomou-as para acalmar a UE, depois desta tê-lo sancionado. Atenas pretende discutir as delimitações da sua “plataforma continental” das suas ilhas no Egeu, pois consideram que a presença turca promove ameaça à integridade territorial e, também à paz e à segurança e o recurso à força é uma opção. Ancara tem intenção de aumentar a sua ZEE e o espaço aéreo através daquela região e o Chefe da Diplomacia turca acredita que há motivos para um confronto. Tanto a OTAN como a Organização das Nações Unidas (ONU) realizaram esforços para acalmar os ânimos. A OTAN tem atuado para prevenir qualquer incidente no local onde estão os navios turcos e o Secretário-Geral da OTAN expressa a imprescindibilidade de ambos em matéria de segurança comum e que existem “conversações técnicas” para solucionar as divergências assentes na disputa. Os Estados europeus que fazem parte da Organização maioritariamente simpatizam com os gregos, mas a UE encontra-se dividida sobre como enfrentar a crise.
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A tensão também é presente na recente crise migratória. A Grécia foi o país europeu mais afetado pelo fluxo migratório de 2015 a 2016. Em 2016, a Turquia e a UE fixaram um compromisso para pôr termo à migração irregular do território turco para o bloco europeu em troca de recursos financeiros. Os helénicos acusam os turcos de usarem os refugiados como “peões num jogo político”, enquanto Ancara afirma que há brutalidade dos gregos contra estes cidadãos fragilizados. Erdogan anunciou que deixará de impedir a travessia e para além disso, o Presidente turco relembrou aos europeus que alberga mais de 4 milhões de refugiados e que não continuará como “guardião” da Europa. Grécia e Turquia ainda têm travado uma infoguerra, seja quanto ao número previsto de migrantes que chegariam à fronteira, seja sobre o surgimento de vídeos em que as autoridades gregas usam gás lacrimogéneo para dispersar os refugiados. Este último foi negado pelo porta-voz do governo grego, chamando o ocorrido de “fake news” turcas.
O conflito na relação greco-turca pode ser analisado à luz da teoria realista das Relações Internacionais. A Turquia deseja expandir a sua influência geopolítica no Mediterrâneo Oriental e no Médio Oriente. O Estado questiona e ameaça a soberania dos helénicos sobre determinados territórios e direito de exploração de recursos destes. No que tange à segurança e a sobrevivência, a Grécia é vista pelos turcos como mais fragilizada, por ser militarmente mais fraca que a Turquia. Erdogan ainda usa a crise migratória como arma de arremesso. As ambições turcas em serem potência hegemônica regional e um ator de destaque no sistema internacional pressionam os gregos. A Grécia é arrastada para a equação militar. Enquanto ferramenta de política externa, defende a sua segurança, soberania e interesses e procuram cada vez mais apoio político e diplomático para enfrentar os turcos, enquanto se militariza para conter a hostilidade que defronta.
Conclui-se que, as divergências e tensões nas relações Greco-Turcas são históricas e seguem-se em questões diversas. A Turquia tem utilizado o “sharp power” para afetar a credibilidade das autoridades gregas com intuito de legitimar os seus ataques. O país ainda conta com um “hard power” superior, pois possui o segundo maior exército da OTAN, e também é uma economia mais saudável que a grega. Em contrapartida, os helénicos possuem uma maior credibilidade diplomática no sistema internacional, por várias razões, como por exemplo, pela democracia consolidada. Neste momento, a tensão está a criar o “efeito bola de neve” e está a hipotecar a ação de outros atores. A UE encontra-se a enfrentar dilemas e um confronto entre aliados da OTAN poderia colocar grande parte da Europa em conflito. Perspetiva-se que a escalada armamentista poderá ser uma realidade caso estes países não negoceiem ou não encontrem uma solução para as suas disputas. Para que as conversações resultem na resolução do conflito, as partes primeiro precisam convergir sobre a pauta em discussão. Se o impasse entre helénicos e turcos persistir, a estabilidade do sistema internacional poderá ficar comprometida.
Fonte
Imagem 1: Greek City Times
Fonte Imagem 2: IstoÉ Dinheiro
Fonte Imagem 3: Euronews
Fonte Imagem 4: Monitor do Oriente Médio
Fonte Imagem 5: CNN
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