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O Espaço (também) visto da União Europeia.




BEATRIZ CAPÃO argumenta a importância da União Europeia se posicionar no espaço sideral, procurando afirmar a sua autonomia estratégica.

A corrida ao espaço, que marcou a segunda metade do século XX, refletia uma corrida política centrada entre dois grandes atores estatais, a União Soviética e os Estados Unidos da América. Atualmente, a corrida é muito mais ampla e competitiva caracterizando-se por um crescente número de agências espaciais e pela pressão em militarizar o espaço, como uma posição estratégica a garantir no ambiente internacional. A corrida, que se afirma na nossa contemporaneidade, tem vindo a tornar-se cada vez mais ambiciosa e acelerada à medida que a inteligência artificial e tecnologia vão avançando, permitindo aos atores estatais um maior domínio e ação nas dinâmicas geopolíticas na terra. Neste sentido, importa que o espaço também seja visto da União Europeia (UE), sendo fundamental que esta procure a sua presença, liberdade de ação e posse de informação, garantindo-lhe o prestígio e a soberania, mas principalmente uma autonomia estratégica e uma agency racional, que se reflete no uso do espaço como uma posição de soft-power crucial para o posicionamento e natureza da UE face aos desafios globais.

Neste sentido, estamos perante uma crescente democratização espacial, onde dos atores estatais às grandes agências privadas, existe uma consciência do proveito que o espaço sideral, em articulação com as baixas barreiras financeiras e o profundo desenvolvimento e inovação das tecnologias projetam, sendo um leque de oportunidades no domínio geopolítico. Esta realidade, onde a presença das nações no espaço, lhes permite afirmar uma posição estratégica e competitiva na Terra, coloca em causa a natureza da sua exploração espacial, ainda que afirmem que os seus investimentos visam uma narrativa pacífica, países como os EUA, a Rússia e a China, estão a desenvolver cada vez mais a sua militarização através da sua presença espacial, colocando as suas dinâmicas e diálogos na Terra em perspetiva. Para além disto, é importante que questões que envolvam a exploração espacial, não espelhem estratégicas de soma zero, visto que perante uma possível calamidade planetária, será fundamental uma resposta coletiva e não respostas unilaterais,

Perante esta exploração geopolítica do espaço, importa que a UE afirme a sua posição e visão, sendo legítimo que se envolva no crescente domínio espacial por uma questão de defesa, declarando uma posição no sistema internacional. Somando a esta implicação, a exploração espacial surge como uma ferramenta e instrumento de Soft-Power, que contribui para o prestígio e reputação da União e indiretamente da Europa, inclinando positivamente o seu lado da balança, procurando mudanças políticas que permitam que esta decisão seja lucrativa e que também almeje a construção da paz e da cooperação como narrativas espaciais.

A par, do prestígio e da legítima defesa, em que a UE se pode afirmar na corrida ao espaço, existe um conjunto de pontos estratégicos que garantem a segurança e independência da União, ajudando-a a enfrentar desafios como: as alterações climáticas; a crescente escassez de recursos; o crescente envelhecimento da população e também ao nível da saúde, levando sobre outra esfera a sustentar e estreitar as relações externas na ajuda humanitária. Neste sentido, os principais focos das políticas espaciais da União Europeia, sustentam o desenvolvimento da tecnologia espacial, fortalecendo uma base rentável, competitiva e equilibrada, permitindo uma autonomia eficaz e melhorias na vida dos europeus.

Para além disto, antes do espaço estar mencionado no Tratado de Lisboa, já se marcava um dos pontos fundamentais para um espaço também visto da União Europeia, falamos da cooperação, com outros dois pilares, a Agência Espacial Europeia e os seus Estados-Membros, existindo um reforço do papel da Europa como o ator, que agrupa três pilares e que é  presente e concorrente no ambiente internacional. O espaço, pode ser uma revigoração para a UE e para a Europa, os programas existentes, Copernicus, EGNOS e Galileo, mostram as capacidades e excelência da cooperação como mote de ação, ainda assim é importante que exista um esforço para alinhar estratégias, havendo reconhecimento não só dos pontos fortes, mas da principal vulnerabilidade, os investimentos financeiros, que em comparação com os restantes atores é diminuto e principalmente um obstáculo. Reconhecendo-se que a segurança da Europa é impensável sem investimentos em tecnologia de ponta e informação vinda da exploração espacial, permite uma reflexão mais pragmática entre os três pilares em cooperação na Europa, concretizando-se em políticas espaciais eficazes em vez de um crescente grau de incerteza e de uma inércia de exploração.

Assim, em jeito de conclusão, é crucial que o espaço seja uma realidade também vista da União Europeia, em cooperação com os diferentes agentes da Europa, visto que as ambições e as oportunidades, exigem uma posição audaz no ambiente internacional, mas crucial para a União, sendo aqui fundamental primeiro que desenhe uma estratégia à margem dos seus custos e ambições e segundo que o continuo uso do soft-power, seja um dos pilares do prestígio e da eficácia da sua presença no espaço. A UE e a Europa, estão perante um momento crucial e estratégico, de um forte e acelerado avanço tecnológico, sendo predominante que exista um reconhecimento e um reflexo das estratégicas aplicadas.


Fonte de imagem: https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/varios-relogios-atomicos-dos-satelites-galileo-estao-avariados-20790639

 
 

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