Renata Rocha analisa o prolongamento da presidência de Vladimir Putin e as implicâncias do “modus operandi” do Eterno Putin no cenário internacional.
A
7 de Maio de 2000, Vladimir Putin assumiu o cargo de Presidente da Rússia,
sendo o primeiro do que parece ser um infinito número de mandatos , que se
prolonga até 2036, ano em que consagra 83 anos de vida e, possivelmente, o título
de presidência mais longa.
Um
novo sucessor estava em mira para 2024 mas, Putin com o seu reinado de punho de
ferro enganou a sociedade civil que, até aqui depositava toda a sua confiança neste,
e reformulou o sistema de maneira a que não existam limites de mandatos, permitindo-lhe
continuar com a coroa na cabeça por tempo indefinido, argumentando que não existe mais ninguém capaz de
governar o país como ele. Afirmou que um novo sucessor correria o risco de expor
a Rússia à manipulação ocidental.
Assim,
tendo em conta as prioridades e valores projetados pelo presidente que, de uma perspetiva
realista[1] da política externa significa
que o país como ator racional persegue os seus interesses nacionais geopolíticos. O que significa, então, este prolongamento, para a Rússia e para o cenário
internacional? Convém salientar que este país é visualizado pela maioria dos analistas e teóricos
como um ator imperialista com um caráter de expansão agressivo que segue as
lógicas da escola do realismo, na qual o poder político e militar são o ónus do
interesse imperial.
Contudo,
este comportamento segue uma lógica de ação-reação em que a federação defende
os seus interesses e reage, constantemente, ao alargamento do espaço de esfera
de influência da União Europeia e da NATO e do comportamento do unilateralismo
americano.
A Rússia é uma autocracia pelo que os assuntos estrangeiros e de segurança são de
domínio privado do presidente Putin, estabelecendo assim a importância do seu
prolongamento para o cenário internacional dado que as suas ações são bem
calculadas.
A
Federação Russa, tendo uma enorme extensão geográfica e uma longa história, é
considerada um dos principais atores do cenário da estratégia territorial
mundial, contrariando Francis Fukuyama, filósofo e economista política estadunidense que, em “O fim da história e o último homem” , com o fim da segunda guerra mundial
e consequente hegemonia mundial dos Estados Unidos da América fruto do colapso
da União Soviética, argumenta que [2] a democracia liberal
ocidental seria o ponto final da evolução humana e a forma final de governo
humano. Prevalecendo a questão se a Federação Russa herdou o grande poder da
antiga URSS ou se os sonhos de Putin são inalcançáveis no novo palco mundial.
É devido a estas questões e considerações que Vladimir Putin afirma, desde o inicio da sua conjuntura, que o seu principal objetivo é lutar para conquista e assegurar o lugar da Federação na nova estrutura de poder multipolar, outrora bipolar na era da guerra fria, consolidando-se com um papel de ator principal no contexto global e alcançando os tempos de glória da URSS, maximizando os interesses nacionais.
Em
duas décadas no poder, Putin, com o inerente receio e preocupação com os outros
agentes que compõem o sistema internacional advindo da história mundial,
consolidou e fortaleceu o poder do país no contexto internacional
essencialmente entre os estados pós espaço soviético que tem vindo a perder
influência como a Ucrânia ou entre países como a Síria – local onde os
interesses russos colidem com os interesses americanos – demonstrando a
segurança e o sentimento de ligação derivado da sua experiencia imperialista
histórica como principal guia de conduta das suas ações.
Este
sentimento, fruto da Guerra Fria, é comum entre o povo russo que reafirma a necessidade
da política externa da Rússia em ser mais dura com o ocidente, nomeadamente com
os Estados Unidos, dado que os próprios ressalvam e denunciam a federação Russa
como a maior ameaça não só para estes mas para a manutenção da ordem liberal no
mundo.
Assim,
apesar de todo o aparato imperial é notável o afastamento da Rússia do próprio padrão histórico, assumindo o seu papel e a sua solidão para perseguir os seus
próprios interesses e necessidades, outrora negligenciados em nome de missões
ideológicas e geopolíticas. É através de alianças económicas como a “The
Eurasian Union”, um bloco militar, económico e geopolítico na Eurásia, que
persegue as suas ambições e através da entrada no G-8 e a pertença no conselho de segurança
da ONU mas, também através de alianças energéticas, ressalvando a geopolítica da energia como um
dos principais vetores da Rússia de Putin.
Em
forma de conclusão, é visível que, de um jeito maquiavélico, o “eterno Putin”
continuará a posicionar a Rússia e os seus interesses nacionais em primeiro lugar
que, nasceu ameaçada por povos hostis, forçando este a seguir os princípios da “realpolitik”
e reforçando a sua segurança, mantendo os tradicionais valores e a soberania
nacional, concentrando, desta forma, a sua política externa em cálculos realistas
de poder, evidente nos seus esforços no aumento do poder militar como forma de
repor o equilíbrio no mundo.
[1]
[2] FUKUYAMA, Francis (1992). O fim da história e o
último homem. Tradução de Aulyde S. Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco.
Referências adicionais:
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