Na
década 30 do século XIX, sob a influência neocolonialista e em prossecução
dos seus interesses tanto industriais como de poder – para se tornar uma
potência europeia- França inicia a sua onda colonizadora no continente africano
invadindo a Argélia. Uma invasão que se viu confrontada com a resistência popular
existente, também, durante os anos de ocupação. Os desejos pela independência fazem-se
sentir e impulsionados pela classe alta argelina e pela fundação da
Frente de Libertação Nacional (FNL) que convergiram na
Guerra da Independência Argelina, iniciada entre 1954/1955.
O
governo francês, sem querer abdicar de um território que nunca foi dele,
realiza ações terroristas e crimes de guerra contra o povo argelino. Uma
brutalidade impulsionada pelos pied-noir (colonos que tinham imigrado
para a Argélia) que não queriam perder os seus negócios com base na exploração.
Uma guerra que dura até 1962, quando, finalmente, Argélia ganha a sua
independência e funda a República Popular Democrática da Argélia com
princípios socialistas.
O
horror vivido durante a guerra, fica conhecido anos mais tarde com a publicação
do livro Les tueurs de la République do jornalista Vincent Nouzille.
São expostos documentos sobre o aparelho repressivo que o governo francês
desenvolveu para a sua supremacia. Posto isto, é percetível que as relações
interativas na vida internacional entre estes dois Estados têm como base elos
históricos. Em que se assiste a uma França que molda a sua relação com a Argélia
para realizar os seus interesses, ou seja, continuar a sua exploração,
principalmente, ao nível económico na exploração dos hidrocarbonetos.
Desta
maneira, Macron (presidente francês) pede a Benjamim Stora, um pied noir
e historiador, um relatório “com
recomendações ao Estado francês para a promoção da verdade sobre o conflito
franco-argelino”. Tem como objetivo o reconhecimento de
todos os atos cometidos, porém Stora continuou a narrativa de minimização
da violência francesa na Argélia. Para além disto,
Macron ainda diz que não haverá um pedido de desculpas, preferindo seguir os
atos simbólicos de um relatório que, segundo
Afaf
Zekkour and Noureddine Amara, contém um certo
revisionismo.
Como
resposta a esta ação, os parlamentares da Argélia recolhem assinaturas “para
pressionar o governo a instituir uma lei que criminalize a ocupação colonial”.
Uma lei que já foi proposta no ano passado e volta a ganhar força para condenar
os crimes coloniais e recuperar arquivos e arte que foram saqueadas. Exige-se,
também, que França se responsabilize pelo lixo nuclear deixado no Saara
argelino. “O
estado da Argélia e organizações da sociedade civil exigem”
que seja revelado as coordenadas do lixo nuclear. Isto porque, França, outra
vez, recusa reconhecer e indemnizar as vítimas d exposição à radiação. Para
além disso, foi um dos Estados que recusou a assinatura do tratado da ONU que
iria pôr em ação o princípio da responsabilidade de quem polui.
A
Argélia distancia-se de França até de questões militares ao não
integrar a coligação criada pela França no combate ao
terrorismo. Defende, portanto, a rejeição de intervenções militares
estrangeiras na zona do Sahel. Assim, esta relação bilateral é bastante instável
com entraves para a concretização dos objetivos estatais de ambos os Estados. O
que acaba por os unir é a relação ao nível económico. Visto que, encontram-se
sediada mais de 500
empresas francesas em território argelino e, em 2017, mais de 6500
empresas desejam entrar no mercado da Argélia.
Será
que podemos dizer que este este elo de ligação económica é um perpetuar do
neocolonialismo?
Em
jeito de conclusão, esta reconciliação nunca será conseguida através de uma
diplomacia cultural que apela às ligações históricas e humanas deixando, assim,
o trauma do colonialismo sem reconhecimento. Foram anos de ocupação e de destruição
da memória argelina que culminaram numa guerra brutal que desrespeitou a própria
vida humana. Um período histórico que não é ensinado com fidelidade e rigor aos
acontecimentos reais, imperando uma narrativa eurocêntrica de atenuação das ações
colonialistas: enquanto que os franceses pretende virar a página “o
povo argelino ainda reivindica justiça e reconhecimento formal de Paris sobre
seus crimes coloniais no país”.
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