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Segundo Beatriz Capão, as relações bilaterais entre Pequim e Nova Deli, não ficaram alheias à narrativa desafiante de 2020, espelhando os climas de hostilidade no ambiente internacional, acabando o seu histórico e febril “romantismo” por entrar novamente em rutura.
As relações bilaterais entre Pequim e Nova Deli, não
ficaram alheias à narrativa desafiante de 2020, espelhando os climas de hostilidade no ambiente internacional, acabando o seu histórico e febril “romantismo” por entrar novamente em rutura. Desta forma, é emergente que os impasses entre
estes dois grandes asiáticos, encontrem espaço na mesa de debate da vida internacional,
procurando perceber o papel preponderante da Índia, na manutenção do modus
vivendi regional, com fortes projeções no sistema internacional.
A crescente evolução indico-pacífica, coloca a Índia e China sobre os holofotes da importância das dinâmicas regionais asiáticas, sendo fulcral perceber em que pano de fundo é que estes dois atores dialogam. As relações entre Pequim e Nova Deli, dificilmente tiveram um tom de cordialidade, acabando por arrastar ao longo dos anos tentativas de compensações diplomáticas, sendo ambos conscientes de que uma guerra desencadearia inúmeros pontos inflamatórios, para as políticas domésticas de ambos e para o papel que cada um procura espelhar a nível regional.
Durante a segunda década do século XXI, as tensões bélicas ao longo da fronteira intensificaram-se, desencadeando em 2017 o impasse de Doklam, que aproximou os dois gigantes de um continuo e aceso confronto “frente a frente”. No ano de 2018, sobre uma cúpula informal, o presidente chinês Xi Jinping e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, procuraram através de uma narrativa baseada no “espírito de Wuhan”, colocar a Linha de Controle Real (LCR), na zona cinzenta, procurando investir em políticas de cooperação. Ainda assim, a presente posição unilateral de Pequim, levou a que em 2020, as tensões bélicas se reacendessem novamente na LCR, colocando esta na zona vermelha de ambos os territórios, levando o espírito de Wuhan a um estado de inércia diplomática.
Os pontos inflamatórios do romantismo sino-indiano, têm encontrado inúmeros palcos de confronto, onde os dois países asiáticos, procuram afirmar-se como fortes pivôs regionais, fortalecendo as suas narrativas comerciais e diplomáticas comos seus países vizinhos. Diante dos vários cenários, é fundamental perceber as prioridades, subtilmente vincadas, nas políticas externas de cada um, sublinhado o papel fundamental do agente estatal dentro desta relação, reconhecendo a forma como ambos influenciam a estrutura regional e global. Contudo, importa reconhecer também, que as dinâmicas da sua política doméstica, influenciam fortemente aposição que cada um adota, procurando assegurar a sua credibilidade política através de influências fortemente nacionalistas, sendo uma força mobilizadora estratégica.
Perante os impasses dos últimos anos, a China tem apresentado uma dualidade de objetivos, ainda que esta projete uma narrativa de cooperação e uma unidade global, tem investido largamente numa estratégia unilateral, expansionista e coerciva, como também numa narrativa propagandista maquiavélica, procurando alterar o status quo regional. A intensificação da hostilização na LCR, mesmo sobre o pano de fundo pandémico mundial, pauta um dos maiores objetivos de Xi, em procurar desviar a presença e atenção da Índia do Oceano índico, visando cimentar-se fortemente a nível comercial e militar no conhecido “Colar de Pérolas”, espartilhando a atuação marítima indiana, tendo uma maior presença e poder a nível regional.
Do outro lado da fronteira, perante a assertividade chinesa, a Índia pautou desde início uma resiliência e empenho em travar as incursões vindas de Pequim e em encontrar meios que mantivessem o modus vivendi equilibrado a nível regional. Neste sentido, o ministro indiano da Defesa da União, a Índia lidera a narrativa em termos de soft-power, através de uma diplomacia cautelosa e silenciosa, procurando desviar a sua ação das “paixões” cegas. Contudo, desde o impasse de 2020, e necessidade de redesenhar as políticas externas indianas, espelhando assim, uma necessidade de gerir e enfrentar os desafios estratégicos de Pequim, pautando-se por um papel mais proativo na região, ampliando a sua esfera de influência, continuando a moldar a presença do Indico-Pacífico, no discurso global, bem como a persistência de Xi em moldar o status quo regional.
A soma das tensões, entre Nova Deli e Pequim, espelham um conjunto de pontos a ter em consideração, nesta análise, na medida em que, a China apresenta-se cada vez mais como um ator de narrativas oscilantes, sendo a sua agressividade cada vez mais palpável, assumindo como prioridade das suas políticas externas, um continuum das suas políticas domésticas, espartilhando a influência da Índia, procurando ser o único pivô regional, agindo de forma estratégica ao largo da costa marítima para se projetar a nível global. Perante as dinâmicas de intimidação chinesas, a Índia deverá ter em consideração a sua posição histórica de independência, sendo fundamental adotar políticas externas prudentes, questionado a longo prazo as tentativas de isolamento que Xi procura projetar para o país vizinho.
Assim, em jeito de conclusão, é possível conferir não só a crescente riqueza dos atores estatais asiáticos, como também a alteração da narrativa do equilíbrio internacional, onde segundo Gideon Rachman, se pauta por uma crescente orientalização. Somando a esta galopante tendência da era global contemporânea, a Índia assume uma forte capacidade de moldar o futuro regional e global, podendo criar desvantagens na balança de poder de Pequim, sendo o impasse entre ambos, uma preocupação a ter presente na mesa de debate, onde qualquer decisão ou narrativa de cooperação com países de interesses semelhantes, irá agudizar o romantismo sino-indiano, sendo fundamental que a Índia assuma o seu equilíbrio cuidadosamente calibrado em confrontos futuros.
Fonte de imagem: https://theprint.in/last-laughs/last-laughs-modi-xi-talks-and-historic-step-by-kim-jong-un-moon-jae-in/53489/
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