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Vazio de Poder nos Balcãs - caso de estudo para a UE

 


CATARINA MATEUS problematiza a questão dos países Balcãs e como estes podem ser fonte de um grande interesse para o Kremlin e para Vladimir Putin e como o Ocidente e a UE devem marcar a sua posição na Península. 


Os Balcãs são um conjunto de países localizados na Península Balcânica, localizada no sudeste europeu e composta por doze países: Bósnia e Herzegovina, Bulgária, Croácia, Eslovénia, Grécia, Kosovo, Macedónia do Norte, Moldávia, Montenegro, Roménia, Sérvia e a parte europeia da Turquia. 
A área dos Balcãs é de extrema importância, sendo considerada uma zona estratégica tanto a nível comercial devido às ligações com o Mar Mediterrâneo e o Mar Negro, como também a nível militar e geopolítico sendo, por isso, alvo de interesses geopolíticos por parte da Rússia. 
Vladimir Putin pretende manter a sua influência na região balcânica, forçando estes Estados a manterem-se do lado russo e não do lado do Ocidente, não vendo com bons olhos a Organização do Tratado do Atlântico Norte (doravante NATO) e a União Europeia (doravante UE).


Segundo o Professor Zlatko Hadzidedic, os interesses geopolíticos da Rússia apontam para duas direções distintas. De um lado, a ideia estratégica de império do século XIX, onde a Rússia se deveria expandir para a região dos Balcãs para poder ter um acesso ao Mar Mediterrâneo. Por outro lado, a ideia de que a Rússia é influência na zona dos Balcãs muito devido às várias relações com cristãos ortodoxos da região, usando a religião como uma forte componente de ligação entre eles. A verdade é que, desde o século XIX até hoje, a influência russa enfrenta o grande peso da influência do “eixo Anglo-Francês”, com forte presença nos nacionalismos sérvios e gregos, construídos com base em ideais anti-Otomano, anti-Islâmicos, anti-Habsburg e anti-Católicos, com o propósito de criar vários “Estados-Nação” enfraquecidos, no lugar de uma grande superpotência russa. No entanto, e apesar do esforço por parte da Rússia, a região dos Balcãs manteve-se separada do poder russo, virando-se para a zona do ocidente europeu, mais propriamente as cidades de “Londres e Paris”, onde se encontram os seus “true patrons”. 


Infelizmente, a posição russa no que toca aos Balcãs, é de um grande apoio à Sérvia e a todo o seu programa/ideia de unir todos os sérvios num único Estado etnicamente homogéneo (o que nos leva a questionar como isto será possível e de que forma se pretende realizar esta união). Assim, e comparando com a questão sérvia, podemos pensar se a opção da política externa russa será unir todos os territórios onde se situam russos. Poderá ser uma realidade esta união “in some mythical Greater Russia”? A questão da zona da Crimeia e a sua anexação por parte da Rússia poderá ser uma explicação e o princípio desta vontade por parte do Kremlin de Moscovo. É importante destacar que esta ideia de um grande Estado russo é precisamente aquilo que a Sérvia pretende e que a Rússia tem vindo a apoiar “na cena internacional” ao longo dos anos. 


Zlatko Hadzidedic destaca ainda a principal ideia de que a Rússia não tem por hábito intervir nos países que não pertenceram à extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, portanto o interesse russo na Sérvia é algo questionável e até uma possível “simulation of influence”. Uma das possíveis razões desta simulação, poderá ser o interesse dos Estados Unidos da América pelo poder e influência na zona estratégica dos Balcãs (muito relacionado com os recursos naturais disponíveis), o que levaria a Rússia a simular um possível interesse e influência apenas para afastar e atenuar a influência norte-americana no território em questão. A verdade é que, independentemente do papel da NATO e da União Europeia na região dos Balcãs, a Rússia tem permanecido como o principal ator influenciador na região, mantendo a sua influência, recorrendo sobretudo ao seu “soft power”. 


Segundo o investigador Dimitar Bechev, e tendo em conta a perspetiva de Moscovo, o objetivo russo é mesmo dar ao Ocidente “a taste of its own medicine”, remetendo para a influência europeia e norte-americana em territórios como a Moldávia, Ucrânia e Geórgia, entendendo a Rússia que assim também pode influenciar a região dos Balcãs e tirar dela o que melhor assegura os seus interesses estratégicos a vários níveis. Assim, na região dos Balcãs, a Rússia pode promover e desenvolver recursos escassos para obter algum tipo de retorno, tanto a nível diplomático ou comercial, como também ao nível da afirmação de Moscovo na cena internacional.


É imperativo reforçar a importância da adesão dos países dos Balcãs à União Europeia e a uma aproximação com o Ocidente, sendo que o atraso desta união poderá ser sentido nos Balcãs como um abandonar por parte do Ocidente que, a longo prazo, irá resultar numa perspetiva anti-Ocidente, dando um vantagem considerável ao Kremlin. 
São vários os europeus que se demonstram cautelosos quanto à questão de um possível alargamento da União Europeia aos países dos Balcãs, muito por culpa dos problemas que vários Estados membros da UE demonstram ao nível da recessão democrática e ao desrespeito pelo Estado de Direito que, imperativamente, tem que caracterizar os Estados membros da UE. Mais uma vez, a influência russa é uma clara realidade nos Balcãs, explicada pela incapacidade dos Estados Unidos da América e da União Europeia em abordarem os Balcãs como uma região importante e aliada do Ocidente. 


A verdade é que a Rússia não está preparada para um confronto direto com a NATO, tanto por questões económicas como por recursos militares, o que obriga Putin e a sua política externa a optar por explorar as fraquezas do Ocidente e manter uma posição forte na região Balcânica, que, a longa prazo, poderá servir como “strategic bargaining chip with the United States and Europe”. 

Para concluir, os países nos Balcãs precisam de uma posição forte por parte da NATO e da UE para resistir à influência russa, podendo a cibersegurança ser uma das principais áreas a investir e a criar uma relação/aliança com as democracias do Ocidente. Para prevenir a ação russa, os Estados Unidos da América e a União Europeia, com uma possível ajuda da NATO, têm que desenhar uma estratégia que demonstre cooperação e comprometimento com os países dos Balcãs. 




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