O mais recente presidente dos Estados Unidos da América (doravante EUA) possuiu poucos pontos em comum com o seu antecessor Donald Trump, porém poderá ser a relação entre EUA e Índia o ponto de ligação entre estes dois presidentes? Estará Narendra Modi, primeiro-ministro indiano, disposto a negociar com Biden? Quais os planos da nova administração dos EUA para a sua relação com a Índia?
A amizade destes dois países corporizou-se a 27 de outubro de 2020, ainda com Donald Trump no poder, através da assinatura de um tratado militar que permitiu às Forças Armadas de ambas as nações terem acesso à informação cartográfica recolhida pelos respetivos satélites. Este acordo foi uma tentativa de os países juntarem forças contra a China, pois, se por um lado, temos a Índia numa disputa antiga com Xi Jinping, Chefe de Estado da República Popular da China, em relação à fronteira dos Himalaias; por outro lado, temos Trump numa guerra comercial aberta com Pequim. Assim, os dois países optaram por contruir uma frente comum face ao mesmo inimigo – a China.
No mesmo dia da tomada de posse de Joe Biden, foi atualizado o documento do “U.S Departement of State”, referente ao futuro da relação entre EUA e Índia e às diretrizes que Biden se guiará nos próximos quatro anos, definindo uma relação de cooperação, não só política, como também cultural e económica. No geral, podemos esperar uma cooperação internacional com destaque na promoção da segurança global e da estabilidade económica. Os Estados Unidos da América dão enfâse à emergência da Índia como superpotência, de modo a voltar a assegurar relações Indo-Pacificas estáveis, uma vez que neste momento ainda existe alguma tensão entre os EUA e o continente asiático. Podemos então esperar uma cooperação bilateral, com interesses multilaterais flexíveis.
No entanto, até que ponto não podemos considerar esta promoção da Índia, por parte dos EUA, uma forma de controle de uma futura superpotência asiática? Da parte do antigo presidente Trump, tínhamos esse desejo de controle expresso no relatório de Defesa e Estratégia Nacional de 2017. Em relação a Biden, mesmo acreditando no seu bom intuito no que diz respeito à diplomacia internacional, não devemos ignorar que na política existem sempre segundas intenções e, portanto, estas ajudas têm na sua gênese a intenção de controlar a Índia através de financiamentos ou até de acordos bilaterais, de modo a que os EUA ganhem algum tipo de supremacia não só no continente asiático, como também (numa perspetiva internacional) mostrarem à China que têm aliados na Ásia. Talvez Biden não seja assim tão diferente de Trump, e apenas consegue esconder as suas intenções de uma forma mais diplomática, trazendo também alguns benefícios para a Índia (como acordos económicos e educacionais).
A nível da cooperação internacional em prol do bem-estar democrático, podemos esperar que Biden, em conjunto com Modi, se foque em garantir «a resiliência democrática na região do Indo-Pacífico, e a resiliência da ordem internacional baseada em regras». Isto é, em termos de estratégia económica é vantajoso para ambas as potências que haja democracia nos países asiáticos, uma vez que as democracias (principalmente as democracias liberais) são mais abertas em negociar trocas comercias internacionais. Podemos deduzir que a lógica de pensamento adotada será que o crescimento da Índia (com a ajuda dos EUA) que levará a que países asiáticos dependam da mesma (consequentemente, deixando de depender gradualmente da China), e desta forma comessem a depender dos EUA – neste caso o mercado internacional entre a Ásia e o Ocidente poderia ser controlado por ambas as potências.
Outro ponto a salientar, e bastante importante para Biden, é a existência da diplomacia internacional, isto é, a necessidade de que todos os jogos políticos terem de seguir as regras e as leis estabelecidas no contexto internacional, de modo a não só assegurar a ordem entre as potências, como também a preservar a transparência dos tratados, atendendo sempre à agenda internacional e às necessidades de cada país.
A Educação é também um grande elemento de ligação entre os EUA e a Índia. No ano de 2019, mais de 200 mil alunos indianos estudaram em universidades americanas. Contudo, em 2020, devido à pandemia mundial, este número diminuiu. Assim, a administração de Biden tem como objetivo fortalecer a cooperação educacional com a Índia através: da criação de fundos ou financiamento direto de pesquisas de áreas de interesse mútuo; do incentivo do intercambio entre os dois países de investigadores e estudantes; e da criação de empregos em áreas especializadas.
Em termos teóricos, Biden (e por muito estranho que pareça também Trump), no que diz respeito à sua relação com a Índia, parece, para já seguir uma Abordagem Liberal (Walt, 1998, p.32). Isto é, acredita que através da cooperação internacional, como a assinatura de tratados ou acordos internacionais é possível a manter uma relação bilateral estável entre EUA e a Índia… E quem sabe estabelecer uma relação duradora entre os dois países.
Podemos concluir que a nova administração dos Estados Unidos da América (que será a quarta administração a prosseguir esta cooperação) se encontra empenhada em fortalecer as relações com a Índia, e que a longo prazo estas relações podem trazer benefícios para Biden tais como: uma supremacia dos EUA no continente asiático, apresentando-se como oposição mais ou menos direta à China de Xi Jinping; um melhor desenvolvimento económico com possíveis futuros negócios transatlânticos (para ambas as partes) - uma vez que a Índia é a ponte asiática que os EUA sempre quiseram alcançar, e os EUA são a ponte do Ocidente e novas oportunidades que a Índia nunca teve acesso. Desta forma, considero que esta cooperação irá continuar a ter um impacto significativo, tanto no campo da educação, da economia, da tecnologia, da saúde, como no do comércio.
Fonte imagem de capa: Getty Images/AFP/R.Schmidt
Referencias adicionais:
Walt, Stephen M. (1998). International Relations: One World, Many Theories. Foreign Policy, No. 110, Special Edition: Frontiers of Knowledge.
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