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Política externa do Chile: um futuro indefinido

DANIELA SANTOS apresenta a política externa chilena acabando por se questionar como será o dia de amanhã do Chile no sistema internacional

Salvador Allende, eleito em 1970, presidente da esquerda socialista e defensor do regime cubano tornou-se num obstáculo para os EUA. Desta forma, a CIA impulsiona a oposição a realizar um golpe de Estado a 1973, encabeçado pelo General Pinochet, que instaurou uma ditadura brutal durante dezasseis anos. Este regime tinha como objetivo pôr em práticas as políticas neoliberais de Milton Friedman e da Escola de Chicago que eram espalhadas pelo imperialismo americano.

Este regime chega ao fim em 1990, o que levará a uma democratização do país e mudanças na forma como este se relaciona e se posiciona internacionalmente. Desta forma, surgem novos atores ligados aos assuntos externos, como também, os temas internacionais ganham novas feições: o Chile assina tratados de comércio, integra organizações mundiais, cria relações multilaterais e bilaterais. Assim, a política externa chilena assenta em três princípios: respeito pelo direito internacional, promoção da democracia e respeito pelos direitos humanos e a responsabilidade de cooperar.

Posto isto, o Chile para interagir no sistema internacional tem que esclarecer as suas prioridades de relacionamento e ação. Começa, pois, por fortalecer as suas relações junto dos países vizinhos cimentando relações bilaterais com a Argentina sendo um dos principais parceiros económicos, com a Bolívia apostando numa diplomacia de cooperação na educação e na cultura e com o Peru em termos económicos, históricos e culturais. De forma mais regional, tem um grande foco na América Latina onde possui laços históricos, culturais e económicos materializando estas relações através da diplomacia cultural, reuniões, cimeiras e tratados como o “tratado da Aliança do Pacífico com o Peru, o México e a Colômbia”. 

Este, também, age no contexto europeu estabelecendo ligações com a UE com o propósito de promover a “coesão social o fortalecimento das instituições democráticas e a estabilidade económica da região”. No contexto asiático foi adotada a estratégia de política de Estado através da instalação de embaixadas e consulados. Por sua vez, esta política conduziu à integração em organizações económicas regionais como a APEC. O Chile também interage com países africanos através da abertura de embaixadas em território chileno e através da cooperação em variados temas que são imperativos para o desenvolvimento sustentável.

Com uma política externa focada e empenhada no desenvolvimento, o Chile na estrutura internacional, continuava a ser elogiado “pelo FMI e pelo Banco Mundial” devido ao seu modelo económico neoliberal implementado por Pincohet e aprofundando ao longos dos anos com sucessivas privatizações. Uma vez que, o Chile está nas mãos de multinacionais, por exemplo 90% da água pertence a transnacionais como a Endesa (empresa espanhola). Vemos um país moldado pela forma que o sistema internacional, assim o deseja, que sobre a pressão de ser considerado um milagre económico esquece-se que a política externa devia ser um “continuum” da política interna.

Isto porque, os interesses chilenos apresentados na vida internacional representam uma minoria rica que explora maioria chilena.  O que significa que a população chilena vive em condições de precariedade tendo que pagar para obter bens essenciais para viver com qualidade. Assim, desde 2018 com o início das manifestações feministas pelo fim da violência contra as mulheres e depois, a partir de 2019, com os protestos dos estudantes, o Chile tem sido palco de manifestações gigantes contra a constituição que impera desde Pinochet.

A vida externa do Chile começa a ficar manchada ao ver que o sistema internacional condena fortemente a repressão que os manifestantes têm sido alvo. Tem-se assistido a uma onda brutal de violência (manifestantes mortos, mutilados, violações), porém a comunicação social prefere ser cúmplice do imperialismo americano ao não noticiar estes crimes cometidos pela cobaia neoliberal dos EUA. O povo chileno continua na rua a lutar contra o “modelo económico imposto” e pelo referendo que poderá aprovar uma nova constituição.

No dia 25 de outubro escreve-se uma nova página na história chilena ao decidirem “que a nova lei fundamental fosse redigida por uma Convenção Constitucional em que todos os seus membros são eleitos pela população”. Porém, no meio deste tumulto interno como ficará a política externa chilena? Uma vez que a constituição nova será redigida de acordo com os interesses chilenos e de forma a representar todos os grupos da sociedade muitos dos seus objetivos e interesses irão mudar. Será este o momento decisivo para se assistir à capacidade de agir chilena? Ao pegar neste acontecimento e utilizá-lo como uma oportunidade de procura de uma nova vida internacional e novas relações interativas.

Terá o Chile uma nova realidade no sistema internacional?

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