Salvador
Allende, eleito em 1970, presidente da esquerda socialista e defensor do regime
cubano tornou-se num obstáculo para os EUA. Desta forma, a CIA impulsiona a oposição
a realizar um golpe de Estado a 1973, encabeçado pelo General Pinochet, que
instaurou uma ditadura
brutal durante dezasseis anos. Este regime tinha como
objetivo pôr em práticas
as políticas neoliberais de Milton Friedman e da Escola de
Chicago que eram espalhadas pelo imperialismo americano.
Este
regime chega ao fim em 1990, o que levará a uma democratização do país e mudanças
na forma como este se relaciona e se posiciona internacionalmente. Desta forma,
surgem novos
atores ligados aos assuntos externos, como também, os temas
internacionais ganham novas feições: o Chile assina tratados de comércio,
integra organizações mundiais, cria relações multilaterais e bilaterais. Assim,
a política externa chilena assenta em três
princípios: respeito pelo direito internacional, promoção da
democracia e respeito pelos direitos humanos e a responsabilidade de cooperar.
Posto
isto, o Chile para interagir no sistema internacional tem que esclarecer as
suas prioridades
de relacionamento e ação. Começa, pois, por fortalecer as suas relações junto
dos países vizinhos cimentando relações bilaterais com a Argentina sendo um dos
principais parceiros económicos, com a Bolívia apostando numa diplomacia de
cooperação na educação e na cultura e com o Peru em termos económicos,
históricos e culturais. De forma mais regional, tem um grande foco na América
Latina onde possui laços históricos, culturais e económicos materializando estas
relações através da diplomacia cultural, reuniões, cimeiras e tratados como o “tratado
da Aliança do Pacífico com o Peru, o México e a Colômbia”.
Este,
também, age no contexto europeu estabelecendo ligações com a UE com o propósito
de promover a “coesão
social o fortalecimento das instituições democráticas e a estabilidade
económica da região”. No contexto asiático foi adotada a
estratégia de política de Estado através da instalação de embaixadas e
consulados. Por sua vez, esta política conduziu à integração em organizações
económicas regionais como a APEC. O Chile também interage com países africanos
através da abertura
de embaixadas em território chileno e através da
cooperação em variados temas que são imperativos para o desenvolvimento
sustentável.
Com
uma política externa focada e empenhada no desenvolvimento, o Chile na
estrutura internacional, continuava a ser elogiado “pelo FMI e pelo
Banco Mundial” devido ao seu modelo económico
neoliberal implementado por Pincohet e aprofundando ao longos dos anos com
sucessivas privatizações. Uma vez que, o Chile está nas mãos de multinacionais,
por exemplo 90%
da água pertence a transnacionais como a Endesa
(empresa espanhola). Vemos um país moldado pela forma que o sistema
internacional, assim o deseja, que sobre a pressão de ser considerado um milagre
económico esquece-se que a política externa devia ser um “continuum”
da política interna.
Isto
porque, os interesses chilenos apresentados na vida internacional representam
uma minoria
rica que explora maioria chilena. O que significa que a população chilena vive
em condições de precariedade tendo que pagar para obter bens essenciais para
viver com qualidade. Assim, desde 2018 com o início das manifestações
feministas pelo fim da violência contra as mulheres e depois, a partir de 2019,
com os protestos dos estudantes, o Chile tem sido palco de manifestações
gigantes contra a constituição que impera desde Pinochet.
A
vida externa do Chile começa a ficar manchada ao ver que o sistema
internacional condena fortemente a repressão que os
manifestantes têm sido alvo. Tem-se assistido a uma onda brutal de violência
(manifestantes mortos, mutilados, violações), porém a comunicação social
prefere ser cúmplice
do imperialismo americano ao não noticiar estes crimes
cometidos pela cobaia neoliberal dos EUA. O povo chileno continua na rua a lutar
contra o “modelo
económico imposto” e pelo referendo que poderá aprovar uma
nova constituição.
No
dia 25 de outubro escreve-se uma nova página na história chilena ao decidirem “que
a nova lei fundamental fosse redigida por uma Convenção Constitucional em que
todos os seus membros são eleitos pela população”.
Porém, no meio deste tumulto interno como ficará a política externa chilena?
Uma vez que a constituição nova será redigida de acordo com os interesses
chilenos e de forma a representar todos os grupos da sociedade muitos dos seus
objetivos e interesses irão mudar. Será este o momento decisivo para se
assistir à capacidade de agir chilena? Ao pegar neste acontecimento e
utilizá-lo como uma oportunidade de procura de uma nova vida internacional e
novas relações interativas.
Terá
o Chile uma nova realidade no sistema internacional?
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