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Portugal e a extensão da ZEE, os novos descobrimentos ou o novo mapa cor-de-rosa? por Filipe Galvão

 


Filipe Galvão analisa a tentativa de expandir a Zona Económica Exclusiva (ZEE) por parte de Portugal e da sua diplomacia, como forma de aumentar a sua influência geopolítica através da via legal e da política externa, será aceite pela comunidade internacional? Até porque como afirmou outrora Napoleão “A política dos Estados está na sua geografia”.

    As zonas económicas exclusivas, doravante ZEE´s, foram instituídas em 1982 na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar na localidade de Montego Bay e que Portugal ratificou em 1997. Nesta Convenção ficou consagrado, no artigo 55, que as ZEE´s são zonas situadas além do mar territorial com uma extensão máxima de 200 milhas, artigo 57, tendo os estados soberanos de cada ZEE o direito de usufruir dos seus recursos naturais presentes no leito do mar e no seu subsolo, investigação científica, colocação de infraestruturas e exploração de recursos energéticos, artigo 58.

    Numa tentativa de ir além do disposto na Convenção das Nações Unidas Sobre o Direito do Mar, o estado português, em 2009, formulou junto da ONU um pedido de alteração à extensão da ZEE portuguesa, extensão essa que seria baseada na potencialidade de existirem riquezas minerais, e não só, no solo e subsolo além da ZEE actual.

    A actual proposta pretende aumentar a ZEE de 1.8 milhões de quilómetros quadrados existentes, para sensivelmente o dobro, o que seria até hoje algo inédito para a história da política externa portuguesa recente, ver uma grande reivindicação sua aceite pela comunidade internacional.

    Sendo o atlântico um dos seis “principais vectores” de política externa esta “projecção de soberania” coaduna com o que se tem vindo a fazer nos últimos anos e se pretende fazer no futuro, nomeadamente como resposta à recente pandemia de covid-19, que é uma viragem cada vez maior em direcção ao atlântico.

    Esta é uma oportunidade de ouro para Portugal se afirmar nas relações internacionais e começar a representar um papel de relevo nas mesmas, embora na teoria todos os estados sejam iguais perante o direito internacional, sabemos que na prática isso não se verifica, e esta extensão da ZEE pode contribuir para que Portugal tenha um papel mais preponderante em questões importantes para a humanidade tais como por exemplo a questão ambiental, pesca ilegal e uma maior acção de vigilância do Atlântico norte, assumindo assim um papel “mais igualitário” em relação aos estados mais preponderantes.

    É também uma oportunidade para o país conhecer melhor as suas posses marítimas e os recursos existentes, o que acarreta o desenvolvimento de parcerias e recursos aumentando dessa forma as competências no campo científico.

    Não obstante, a esta extensão estão inerentes grandes responsabilidades, responsabilidades essas que consistem numa maior fiscalização, patrulhamento e o necessário investimento para tal efeito, o que talvez a nível interno não seja tão consensual, basta recordar a polémica aquisição dos submarinos durante o governo de Durão Barroso. Estes factores internos podem colocar em causa o futuro deste vector atlântico.

    Esta seria também uma forma de Portugal tomar a dianteira em assuntos de política externa e geopolíticos importantes, não ficando apenas com os resquícios que lhe forem atribuídos. Este assunto é de tal forma preponderante que a Espanha, França, Reino Unido e Irlanda já apresentaram propostas semelhantes à ONU, e se num primeiro momento a Espanha contestou o estatuto de ilhas que as ilhas selvagens possuem, posteriormente optou pela colaboração e passou a aceitar esse mesmo estatuto, encetando uma cooperação que no futuro poderá bastante proveitosa aos dois países, especialmente para Portugal que vê assim a sua reivindicação aceite pelo seu maior rival geopolítico.

    Tendo em conta que conhecemos tão pouco dos oceanos, seria inconsciente e “short sighted” por parte dos governantes portugueses não investirem no nosso maior recurso que é a nossa posição geográfica extraordinária, e de fazer do nosso país uma plataforma internacional na cooperação de assuntos relacionados com os oceanos e fazer o país de um “play maker” nesta matéria em vez de um seguidor de políticas formuladas em outros centros nevrálgicos, contribuindo assim para o aumento do conhecimento e ao mesmo tempo diversificar a nossa economia e criar fontes de riqueza para o futuro.

    Cabe a todos nós auxiliar os nossos políticos a responder à pergunta de partida desta analise, será que vamos repetir os feitos dos nossos antepassados e partiremos para uma nova época de descobrimentos, não dando ouvidos aos velhos do restelo e arautos da desgraça, ou será que vamos ceder a um novo ultimato imposto por nós próprios? A resposta apenas o futuro nos dirá.


Fonte da imagem: https://twitter.com/JurnalMaritim/status/1213416985448443904/photo/1


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