ANA RITA GONÇALVES explora como as políticas de imigração americanas afetam a relação entre os Estados Unidos da América e o México.
Apesar de a relação entre os Estados Unidos e o México ser forte e vital para o funcionamento do continente americano, esta tende a demonstrar-se instável devido às tensões que rodeiam o tratamento dos imigrantes mexicanos nas instalações de detenção americanas ao longo da fronteira e às políticas de imigração vigentes. Posto isto, é necessário ter presente que a relação entre estes estados afeta as vidas de milhares de americanos e mexicanos, quer seja a nível da reforma económica, controlo de drogas, migração, tráfico humano, inovação ou saúde pública. Os objetivos da relação bilateral estabelecida entre os EUA e o México são vastos e vão para além das relações burocráticas; estes objetivos passam pelo fortalecimento de laços comerciais, culturais e educativos- devendo, ainda, lutar por políticas de imigração justas e por um controlo fronteiriço pacífico e eficaz.
O México é o segundo maior parceiro económico dos EUA, enquanto é, também, o segundo maior mercado de exportação dos produtos americanos- em 2018, cerca de 80% das exportações mexicanas tinham como destino os Estados Unidos e, em 2019, o México era o principal destino de combustíveis petrolíferos e gás natural oriundos dos Estados Unidos.
Há décadas que a imigração é um dos grandes temas do debate político americano. Apesar dos esforços para implementar uma reforma na política de imigração americana, esta nunca teve sucesso no Congresso devido a desacordos relacionados com a atribuição da cidadania americana aos mais de onze milhões de imigrantes indocumentados residentes nos EUA- sendo a vasta maioria originária do México e restantes países da América Central. Tais acontecimentos retratam a sociedade americana como xenófoba e racista enquanto os serviços de imigração dificultam a obtenção de vistos por indivíduos latinos ao passo que, tal não se verifica com imigrantes caucasianos. Os entraves à obtenção de vistos, segundo a maioria dos americanos deve-se a dois fatores: os imigrantes são um fardo para as finanças do governo e diminuem os salários dos nativos- que, em termos práticos, não só são falaciosos como inválidos.
A reforma das políticas de imigração é fundamental para a segurança económica e social dos Estados Unidos, assim como para a manutenção das relações económicas com o México, de modo que esta deve passar pelas seguintes áreas: reforçar as políticas de imigração através de programas sociais e da garantia das liberdades e direitos das classes imigrantes; criação de apoios legais para a obtenção de vistos de residência, entre outras. Todavia, é necessário ter presente que o controlo da imigração ilegal é uma tarefa bilateral que deve ser desenvolvida não só pelos EUA, mas também pelo México. Neste contexto, em junho de 2019, a potência latina comprometeu-se a assegurar um melhor controlo da fronteira- apoiando os Migrant Protection Protocols (MPP) ao longo da fronteira que partilha com os Estados Unidos-, tal como aumentou a oferta laboral, a qualidade dos serviços de saúde e educação. Consequentemente, o controlo da imigração requer o controlo da fronteira partilhada pelos dois Estados, por isso, a 4 de março de 2020, foi aprovada uma nova estratégia que visa adotar novos modelos de cooperação que permitam explorar o potencial económico da fronteira de forma frutífera para ambos os países.
Portanto, podemos considerar que esta relação bilateral pode ser explicada pela teoria liberal, esta enuncia que a relação entre os dois estados se estabelece através da consideração e respeito mútuo. Naturalmente, a partilha da proteção dos Direitos Humanos das vítimas das políticas de migração vigentes poderá levar os protocolos referidos previamente a ter o sucesso desejado e necessário. Em suma, estes Estados estabeleceram uma cooperação efetiva e, em simultâneo, aceitaram a interdependência e a gestão cooperativa da segurança, através de uma redução autonómica por ambas as partes.
Em conclusão, apesar de os EUA serem um país que aceita o trabalho migrante, não aceita a comunidade que o desempenha- tal reside no racismo profundamente enraizado nos tecidos da sociedade. Pois, os imigrantes latinos, africanos e asiáticos são, constantemente, tratados como bodes expiatórios, explorados para trabalho não qualificado e tratados como cidadãos de segunda classe. Assim, a conservação das relações existentes é essencial para o futuro não só dos países em questão, mas também para o futuro do continente americano e, para conservar as relações existentes, os EUA e o México têm o dever de se organizar e trabalhar em conjunto para garantir melhores políticas de imigração e um controlo fronteiriço eficaz.
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