ANDRÉ PEREIRA destaca o
posicionamento neutro da Suécia no Sistema Internacional. Relativamente aos
países nórdicos, ora surgem juízos que roçam a contestação, ora nascem
cultivações de admiração. Dialogante e solidária, eis a Suécia: O Pêndulo.
O ordenamento jurídico sueco é sinónimo de um poder histórico-mundial de conformidade. Para os ignorantes na matéria, a conceção estratégica sueca, de ação no panorama internacional, poderá parecer petulante, um pouco à imagem daquele presságio que rotulamos nos países nórdicos, onde assumimos um caráter frio, distante e pretensioso.
No entanto, emito que a minha ótica sobre esta idealização, é ligeiramente distinta. A Suécia concentra na sua esfera de intervenção, uma recetividade, uma diversidade e uma eficiência assinalável. Talvez seja com base neste espírito acolhedor, que a Suécia adota vértices diplomáticos, humanistas e neutrais na sua política externa. Este cenário, edifica uma proeminência na imaginação do mundo: a Suécia é uma sociedade de muita confiança. Ora, se esta conjuntura exalta um palco de egocentrismo, ou de pura humildade, isso é uma questão que deixo à consideração de cada um, visto que, dependendo dos lados da análise, tal situação poderá ser interpretada, tanto como uma força, quer como uma fraqueza. Um aspeto que retiro, e que para mim é fundamental, assenta no seguinte: os suecos sabem como se devem comportar e esperam que todos os outros se comportem da mesma fórmula.
Mas vejamos, conformismo ou arrogância? Bom, em termos de política externa, a Suécia, em vários momentos da sua história, tem sido um exemplo de como o idealismo pode ser colocado em marcha nas Relações Internacionais. Olof Palme, em tempos primeiro-ministro sueco, foi umas das primeiras personalidades, a denunciar o apartheid na África do Sul, corriam os anos 70. Sensivelmente a partir desta época, a Suécia surge como uma peça altruísta dominante, no que concerne aos valores morais, sociais e de cooperação.
A Suécia deve ser entendida como um equilíbrio, ou melhor, mais do que isso, como uma referência à escala global. Forneço quatro indicadores. Primeiramente, um olhar sobre o ranking que apresenta a classificação geral dos melhores países do planisfério. A Suécia ocupa o 8ª lugar. Seguidamente, espaço para uma dedução, perante os índices de corrupção em todo o mundo, um estudo que data de 2020. A Suécia emerge como o 3º país mais transparente do mundo. Em termos de competitividade, a Suécia está mais uma vez, no topo. É o 2º posicionado em todo o mundo, em termos de inovação, apenas atrás da congénere Suíça. Noutra perspetiva, e rematando este capítulo, a Suécia está em 3º lugar, no ranking mundial de melhores sistemas de saúde pública.
Em traços gerais, a Suécia fixa-se no cume da hierarquia, em múltiplos sustentáculos, daquilo que é a vida em comunidade. Uma vez mais: sobranceria e show-off, ou uma habilidade pacífica e conciliadora? Sinceramente, acredito num país vocacionado para o rendimento, para a produtividade e para a convivência pacífica no seu aglomerado humano, tentando transportar esse vínculo saudável de comunhão, para lá das suas fronteiras. Será coincidência os políticos suecos não terem assessores? Será uma eventualidade, todos os funcionários públicos na Suécia, terem de permitir o acesso aos seus apetrechos digitais e pessoais, de comunicação, para uma fiscalização sempre que um cidadão pretenda? A resposta é nítida, é clarinha como a água, e é um rechonchudo não. Porquê? Cogito que a resposta a esta interrogação, pauta-se pela perceção atempada, de como se deve planificar e construir uma relação entre Estado e Sociedade. Para explanar melhor este ponto de vista, devo introduzir outro objeto de partida, e relatar, que a Suécia dispõe de uma das primeiras leis do mundo de comunicação e de liberdade de imprensa, e a legislação mais antiga do mundo de transparência, com mais de 250 anos.
Em 1766, em plena segunda metade do século XVIII, a Suécia legalizou o acesso público aos documentos do Parlamento e do seu órgão executivo. Resultado? A eficiência e um dos países que atualmente, proporciona uma melhor qualidade de vida. Humanista, diplomática, neutra e solidária, a Suécia define-se neste domínio e para com este domínio. Localizando este período no tempo, é importante denotar, o auge da difusão dos ideais iluministas. Se verificarmos alguns dos seus pressupostos, esbarramos no interesse do bem-estar coletivo e no estímulo do desenvolvimento, por meio da cooperação. Relembro o leitor, que nos primórdios desta análise, identifiquei a política externa sueca como idealista. Deste modo, comprovo esse facto, e sinalizo que a Suécia, uma engrenagem e um motor de um Sistema Internacional mais cooperativo, foi no passado, uma autêntica “câmara de ordenamento do território” e um “instituto de responsividade e fiscalização”, capaz de prever uma sociedade célere, idónea e cosmopolita no futuro.
A partir do vocábulo “cosmopolita”, avanço para uma rápida análise, da concreta política externa da Suécia, plasmando alguns dos seus pilares estruturais. Começo pelo “nordismo”, um suporte da política externa sueca excecionalmente internacionalista. A Suécia segue uma linha internacionalista, pois geralmente, é considerada como a inventora do modelo social da região. Esta realidade, é o que equaciono constituir, a base da neutralidade sueca, e a sua retórica e iniciativa política, substantivamente congruente para com o associativismo. Friso, que projeto o modelo sueco enquanto criador do modelo nórdico ou escandinavo, pelo argumento anterior que utilizei: o facto da Suécia se preparar para ser uma potência humanitária desde o século XVIII. Concluo esta parte, discorrendo que, sendo a Suécia um país relativamente pequeno, o seu lema estratégico, agrega o internacionalismo do poder médio, com o intuito de equilibrar os pequenos Estados (norte da europa/ Escandinávia).
Outra temática da política externa sueca, prende-se com o seu gesto soberano e cosmopolita. A política externa sueca, visa claramente, um compromisso para com os princípios éticos, de inclusão, de segurança humana e de cooperação empática.
Neste prisma de fatores, salientaria ainda, a abordagem feminista na política externa da Suécia. O governo sueco, tem vindo a adotar desde 2014, uma política externa feminista, enfatizando os seus aspetos positivos e as implicações da sua nova política inovadora. É minha profunda convicção, que o avanço da igualdade de direitos é um imperativo moral, mas também é um imperativo operativo do que deverá ser o espaço político, sendo as mulheres imprescindíveis para o progresso, e mais uma vez, a Suécia está bem firmada nesse âmbito.
Realizada esta breve síntese, sobre as matérias decifráveis da política externa sueca, apraz-me transmitir, que o último alicerce, o da via feminista, impulsiona uma política setorial do Estado. A política externa feminista sueca, recebeu uma certa dose de ceticismo, todavia, cingindo-me aos escritórios do governo sueco, esta abordagem continuará a ser um pilar protetor da política externa da Suécia.
O governo sueco, compreendeu naturalmente, a agenda política ousada, à qual deu procedimento desde 2014, contudo, a Suécia continua imparável no topo dos rankings. Prova disso, é a posição de destaque que ocupa no Serviço Europeu para a Ação Externa e o seu segundo lugar, que mantém desde 2015, no scorecard da Política Externa Europeia.
Com efeito, a Suécia é um vestígio poderoso, de uma nova esperança para a União Europeia. É a continuação da troca de juízos entre os povos e as nações e de uma norma ativista em inúmeras áreas. É a transversalidade do mundo interconectado, do equilíbrio dos preceitos ideológicos, é a cápsula exímia e perfeita, da harmonia política de segurança e defesa. É a busca da cooperação, recorrendo ao “modus operandi” isento e imparcial.
Nem realista, nem construtivista, nem liberal, a Suécia assume-se como o elemento que norteia o Sistema Internacional, assimilando e agindo, com a dimensão, com a relevância e com a urgência e a necessidade do Soft Power. A Suécia, é quiçá, o melhor protagonista no jogo político, a perceber o fenómeno impactante das estratégias e dos preceitos low-profile, isto, na minha modesta opinião, claro.
Escavando o internacionalismo, e unindo o idealismo e o funcionalismo (enquanto spiil-over effect), a Suécia arrumou a sua casa. Costuma-se dizer, no desporto rei, que os ataques ganham jogos e as defesas conquistam campeonatos. A Suécia, virando-se para dentro, observou as suas potencialidades, percebeu este “gameplay” na perfeição, e reconhece, que a defesa da Suécia, começa na Suécia. A partir daqui, é a magia a atuar, entende-se facilmente como se conduz e como se direciona a autoridade e o controlo. Decifra-se a matriz, a matriz do poder.
Terão todos esta capacidade? Não! Para técnica quase infalível, uma tática resistente. Para uma tática resistente, só um ator com bagagem e muita rodagem, só um verdadeiro pêndulo, só a Suécia.
Fonte da Imagem:
Jornal Económico - https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/suecia-pais-vence-tudo-119663
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