MADALENA GONÇALVES enfatiza que a relação diplomática observada entre a China e os Estados Unidos tem vindo a demonstrar sinais de fragilidade, verificando uma constante disputa entre as duas maiores potências estatais a nível mundial.
Verifica-se,
na relação destes dois Estados, referências a uma nova Guerra Fria, em particular, durante a presidência de Donald Trump. Deste modo, à disputa comercial e tecnológica, ao conflito diplomático e ideológico já existentes, acrescenta-se ainda o reavivar das tensões relativamente à questão da autodeterminação de Taiwan,
foco desta análise. Desta forma, e segundo um nível de análise bilateral, irei
discorrer no âmbito da ação da política externa internacional relativamente à
tensão existente entre estes dois Estados, onde Taiwan ocupa o centro da rivalidade.
Desde
sempre que a relação entre a China e Taiwan se demonstrou complexa, uma vez que, sendo a ilha democraticamente
autogovernada, a China constitucionalmente mantem a sua posição de
reivindicá-la como parte do seu território, dificultando todos os esforços
exercidos pelo mesmo relativamente à sua integração na sociedade internacional, dada a importância económica e geopoliticamente
estratégica de Taiwan.
Em 2016, após a subida à liderança de Tsai Ing-wen, defensora do movimento pró-independentista, a China adota uma posição mais rígida, no que diz respeito à observação e controlo das eleições de Taiwan. A independência da ilha e do estabelecimento de relações diplomáticas com outros Estados não se demonstra favorável à China optando esta por assegurar o isolamento de Taiwan com dada relevância para a sua agenda que procura a liderança à escala mundial. Assim, seguindo-se pela tentativa de isolar Taiwan na perda de aliados permite à China a perspetiva de que o sistema político de Taiwan poderá vir a colapsar, inviabilizando tentativas independentistas . No entanto, a realidade é que Taiwan, funcionando enquanto um país democrático, demonstra-se atrativo no fomento de relações com outros atores internacionais de especial relevância na conjuntura atual, nomeadamente os Estados Unidos. Estes consagram-se antigos apoiantes na luta contra o comunismo em Taiwan, e verificam a sua importância ao nível da sua cooperação económica, fator crucial e que pode influenciar a constante disputa económica, diplomática e ideológica, comprometendo a agenda chinesa. Assim, os Estados Unidos veem em Taiwan como um meio para atingir um fim. Fim esse que visa o enfraquecimento do poder hegemónico da China, atingindo a sua influência global, através da subversão dos seus aliado. Deste modo, vida poder garantir vantagem sobre a República Popular, no entanto, o retrair das fronteiras chinês não consta nos planos do presidente chinês, Xi Jinping.
Posto isto, é fácil antever o objetivo dos Estados Unidos, no modo de como este país pretende influenciar a política externa da China a seu favor. Neste sentido, posteriormente à eleição de Donald Trump em 2016 testemunhou-se uma rutura nas relações formais entre estes dois países e a tensão aumentou. Os Estados Unidos possuem um acordo de fornecimento de armas defensivas para Taiwan, enfatizando “grande preocupação” no caso de um ataque por parte da China.
Após a intenção do Departamento norte americano em vender três lotes de armas a Taiwan, incluindo um sistema de mísseis, não tardou a reação por parte da China que garantiu não recear um confronto militar perante esta possível ameaça de ajuda por parte dos Estados Unidos na autodeterminação de Taiwan, uma vez que advoga o controlo sobre o mesmo. Desde então que a China tem demonstrado uma postura austera, dando ênfase a uma retórica e propaganda bélica relativamente ao comportamento hostil americano e a Taiwan, pelo controlo total da ilha, não deixando de adiantar também recados a outras potências regionais, no que diz respeito às suas alianças com os Estados Unidos, com quem cortou relações diplomáticas.
Esta constante competição pela vantagem entre os Estados
Unidos e a China na prossecução dos seus próprios interesses, marcada pelo
desprezo acerca dos assuntos internacionais, como a questão de Taiwan, leva ao
surgimento de um potencial de conflitos armados que vai de encontro à tradição
teórica do realismo. O mesmo fornece explicações acerca de obstáculos à
cooperação entre atores internacionais, propícios à guerra, sendo pessimista
relativamente à eliminação do conflito. Deste modo, verificada a forte rivalidade
entre estes dois países, a teoria realista mostra-se consistente na explicação
das ações tomadas por parte destes dois países
Contudo, a recente eleição do Presidente americano, Joe Biden que, apesar de adotar, até hoje, uma postura mais judiciosa, afirma que o seu compromisso perante Taiwan é “sólido como uma rocha” face ao relato do mesmo após uma incursão de aviões de guerra chineses no sentido de testar o apoio de Biden a Taiwan, cuja reação por parte da ilha se verificou na implementação de sistemas de misseis de defesa.
Por fim, é clara a tensão entre estes Estados e a iminência de um conflito militar cujo coloca em causa a ordem e a paz internacional. Numa perspetiva bilateral verifica-se uma constante supremacia dos interesses de cada Estado em garantir vantagem sobre o outro na disputa económica e diplomática, mesmo que isso signifique uma ameaça à paz internacional, o que leva à minha condenação. De salientar que Taiwan é utilizado por ambos os Estados como meio para atingir o adversário nesta competição constante pela detenção de mais poder relativamente ao outro, dado se mostrar um ponto fulcral estratégico ao comando de interesses específicos. Num nível de análise regional, é facto que, apesar do “apoio” demonstrado pelos Estados Unidos, o possível conflito por Taiwan, leva a que esta região se veja subjugada ao mesmo, o que pode colocar em causa, não só a estabilidade do país, como também a sua própria independência. Necessita assim, de atenção por parte das entidades internacionais competentes, na medida em que um conflito armado entre estes dois Estados trará consequências graves para a estabilidade da política internacional, uma vez que Pequim afirma estar "pronta para a guerra" com os Estados Unidos pelo controlo da Ásia.
Referências adicionais:
Walt, Stephen M. (1998). International Relations: One World, Many Theories. Foreign Policy, No. 110, Special Edition: Frontiers of Knowledge.
Ilustração por: Kyoko Nemoto.
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