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Tibete: um teste à força da religião como fonte de Diplomacia



ANA MADALENA LEITÃO expõe o papel do Dalai Lama na defesa de um Tibete livre e autónomo, através do uso da arma da Diplomacia Religiosa.


 

    Com 2020 a ser um ano extremamente violento em relação à disputa indo-chinesa e com o primeiro confronto de 2021 a já se ter verificado em Janeiro, a realidade é que este choque já apresenta um passado longínquo, representando o Tibete um confronto fronteiriço e o seu líder religioso, o Dalai Lama, um defensor da solução contrária à apresentada pela China.
    O exílio do Dalai Lama na Índia é um dos fatores relevantes face à análise em causa,  mantendo o povo tibetano a sua aliança perante o líder  religioso e, desta forma, sustentando uma confrontação direta entre uma China imperialista e uma Índia receosa dessa expansão. Mantendo a Índia uma posição firme na defesa do seu interesse nacional, mas também demonstrando uma oposição fervorosa ao genocídio cultural ocorrente no Tibete por parte do Governo Chinês.
    Desta forma, devemos dar relevância ao papel do Dalai Lama na manutenção da esperança tibetana, demonstrando a pertinência do papel da Diplomacia Religiosa. Esta Diplomacia confronta-se diretamente com a base marxista do Partido Comunista Chinês, isto é, com uma base ideológica que olha para a religião como o ópio das massas, agregando aos desejos imperialistas da China o desejo de erradicar as minorias étnicas – desde os uighurs, até aos budistas.  
    Assim, conseguimos analisar a perspetiva da Diplomacia Religiosa através de duas lentes:
        Por um lado, o atual Dalai Lama, defensor de um estatuto de autonomia para o Tibete, representa um símbolo de esperança para os tibetanos, que mantêm as eleições do seu Governo mesmo exilados, demonstrando veemente a sua oposição ao Governo Chinês. Além disso, é também graças ao discurso pacifista do líder religioso que os tibetanos mantêm uma posição pacífica no que aos seus protestos diz respeito, excetuando-se as 156 pessoas que, como forma de manifestação, se queimaram vivas
        Por outro lado, a China, que já demonstrou a sua vontade de usar esta Diplomacia a seu favor, através do rapto de Gendun Choekyi Nyima, quando este tinha apenas 6 anos. 
    Gedhun Choekyi Nyima havia sido identificado como a reencarnação de Panchen Lama, isto é, enquanto a reencarnação da segunda autoridade espiritual budista, imediatamente depois do Dalai Lama. Desta forma, o Governo Chinês, ao raptar a criança e ao obrigar um conjunto de monges a identificar outra criança, Gyaltsen Norbu, enquanto a reencarnação de Panchen Lama, posicionou-se na linha da frente do futuro da Diplomacia Religiosa, instrumentalizando, desta forma, a criança, bem como as próprias tradições budistas. Além do mais, durante a infância de Gyaltsen Norbu, este foi afastado das tradições, no que à forma de educação das reincarnações diz respeito, tendo sido mantido longe do público, sem viajar ou estudar em diferentes instituições, e, consequentemente, não lhe tendo sido dado a conhecer uma realidade além daquela apresentada pelo próprio Governo chinês. 
    Atualmente, este Governo já começou a posicionar o futuro líder religioso em eventos público-políticos, demonstrado a paridade de visões  entre ambos, tendo instrumentalizado a criança através da sua educação, bem como a própria religião, pretendendo, com esta jogada, a defesa, por parte do futuro líder religioso, da integração total do Tibete na China.
    Perante uma China que tem vindo a isolar o Tibete, proibindo os seus visitantes de circular livremente, bem como a sua população; e uma China que tem, ano após ano, sido confrontada com violações, cada vez mais graves, dos Diretos Humanos, resta-nos a questão do que acontecerá ao Tibete quando esta tiver nas suas mãos a Diplomacia Religiosa que o tem protegido. Assim, apresentando esta Diplomacia um papel de elevada relevância, como  optarão as grandes potências mundiais de agir aquando da morte do presente Dalai Lama?
    Os Estados Unidos da América (doravante EUA), já haviam aprovado, em 2018, o Ato de Acesso Recíproco ao Tibete, como forma de obrigar o Governo Chinês a permitir o acesso a esta zona, apesar do sinal enviado por parte do então Presidente Donald Trump, ao optar por ser  o único presidente americano a não se encontrar com o Dalai Lama. 
    Atualmente, no papel do seu recente Presidente, Joe Biden, os EUA voltaram a posicionar-se pela defesa dos tibetanos, referindo o Presidente que se irá encontrar com o Dalai Lama e que apelará à procura das condições necessárias, em Beijing, para que se torne possível negociar a paz.
    Por sua vez, a União Europeia recebeu, em Março de 2019, ativistas tibetanos, e mantem um papel na defesa do direito de acesso livre ao Tibete, sendo que esta defesa representa um passo urgente e necessário no caminho em direção à liberdade. Tendo também exposto a sua expectativa face ao respeito Chinês no que à sucessão do Dalai Lama diz respeito, advogando pela não intromissão do Governo num assunto religioso. 
    Podemos concluir que a Diplomacia Religiosa tem tido um papel extremamente relevante face ao genocídio cultural que a China tem tentado cometer no Tibete, estando demonstrado que essa importância se poderá virar contra o próprio Tibete caso a China consiga a ascensão de Gyaltsen Norbu a Dalai Lama. Dependendo, desta forma, o futuro da região da posição adotada pelas potências mundiais, que poderão manter a sua aliança ao Dalai Lama e às tradições budistas, optando por não virar a cara à ingerência chinesa; ou que poderão ignorar o desenrolar dos acontecimentos, permitindo a perpetuação do comportamento do Governo Chinês.

Fonte  imagem - NY Times

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