RITA DE BRITO explica como a Ordem Mundial, estabelecida no pós-Guerra Fria, poderá estar sob significativas mudanças, como consequência da amizade entre o Irão, China e Rússia.
Os três Estados constituintes desta amizade triangular são conhecidos por rejeitar os valores liberais do Ocidente, e, encarar o declínio da hegemonia económica dos Estados Unidos como a sua grande oportunidade para subir nos quadros internacionais. É importante perceber, antes demais, que a amizade entre estas três potências é fruto das boas relações entre os países, mas, acima de tudo, da oposição aos Estados Unidos que só teve tendência a aumentar com o recente mandato de Donald Trump.
As relações entre o Irão com a China e a Rússia têm sido de crescente aproximação desde a revolução Islâmica de 1979, quando Pequim e Moscovo se aproveitam do então isolamento internacional de Teerão para poder espalhar livremente a sua influência em todos os setores do país.
Nas décadas seguintes, a China manteve-se como um parceiro fundamental para o Irão, pois, durante o período da Guerra Irão-Iraque, era esta quem fornecia a venda de armas e equipamento militar, tendo ocupado ainda, um papel central na reconstrução do país após a guerra. Já a Rússia, mantém-se como um fundamental parceiro para o Irão devido ao seu envolvimento nas indústrias nucleares e aeroespaciais do país.
Para a República Popular da China, a sua dependência energética e a sua
recente iniciativa intitulada “um cinturão, uma rota”,
fazem do Irão um parceiro cada vez mais interessante e atraente.
Em 2015, a dinâmica internacional em que o Irão se inseria sofre uma
grande mudança, quando Donald Trump, numa tentativa de controlar os avanços
feitos em termos da estratégia nuclear iraniana, retira os Estados Unidos do
Acordo Nuclear que detinha com o Irão desde 2013, e aplica uma ronda de sanções
económicas ao mesmo. Posto isto, os outros dois elementos da amizade triangular foram, naturalmente,
ao auxílio de Teerão, de modo a certificar-se que o acordo nuclear continuariaem presença mesmo com a saída dos Estados Unidos.
Em Agosto de 2020, a China e a Rússia reuniram esforços novamente, mas,
desta vez, para convencer os restantes membros do Conselho de Segurança da ONU
para suspender as sanções impostas por Washington a Teerão.
Ao longo dos últimos anos, a China e a Rússia têm aumentado a sua
presença no, estrategicamente importante, Oceano índico, e ainda, ir juntando lentamente
o Irão à equação. Aliás, Dzhagaryan,
embaixador russo, anunciou, no passado dia 9 de Fevereiro, que a China e a
Rússia se iriam juntar ao Irão num exercício naval conjunto nas águas do Índico
em meados de Fevereiro. Este exercício é semelhantes às manobras marítimas que
já tinham acontecido nos finais de 2019 entre as três potências.
É percetível que, apesar dos EUA terem retirado o seu apoio ao Irão, a
China e a Rússia lutam para que o seu importante parceiro estratégico não fique
internacionalmente isolado. Teerão conta com poderosos aliados, que fazem
frente aos Estados Unidos.
O grande objetivo da amizade triangular será substituir o sistema
unipolar dominado pelos Estados Unidos, instaurando um sistema multipolar. Deste
modo, é nos percetível que, as relações de cooperação, entre a Rússia, China e
Irão demonstram seguir a teoria liberalista, já o motivo pela qual esta amizade
se formou atribuímos à teoria neorealista defendida por Kennet Waltz, que
afirma que as várias potências buscam sobreviver no largo sistema
internacional. Jervis, Quester e Evera refinam a teoria de Waltz, acrescentando
que a única forma das pequenas potências sobreviverem no sistema internacional
seria criar alianças entre si.
As manobras marítimas, acima mencionadas, foram anunciadas precisamente
na altura em que Joe Biden busca soluções para remediar a saída americana do
acordo nuclear com o Irão. No entanto, apesar de dar sinais de querer regressar
novamente a um acordo nuclear conjunto, a Administração Biden rejeita ser a
primeira a avançar com as negociações, reforçando que o primeiro passo seria
Teerão cumprir a sua parte anteriormente estabelecida no Tratado, mais
concretamente, que o país pare o seu processo de enriquecimento de Urânio. Já o Estado Iraniano, exige que as sanções sejam aliviadas antes de começar
qualquer conversa formal com os EUA.
Eventualmente algum dos lados terá de ceder, provavelmente através de pressão internacional dos outros participantes do Tratado Nuclear, veremos como a Rússia e a China irão agir. Certo é, que, desde que, os Estados Unidos se mantenham como um inimigo comum para estas três potências, esta amizade triangular não demonstra quaisquer sinais de abrandamento, aliás, as interações entre estes três Estados poderá mesmo configurar o sistema internacional das próximas décadas.
Imagem retirada de: https://signsofthelastdays.org/russia-iran-china-in-1st-ever-war-drill-in-message-to-the-world/
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