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O profundo branqueamento das Relações Internacionais




Kyara Barros defende que a mudança dos conceitos e práticas da Disciplina, Relações Internacionais, pode conduzir à abolição das políticas internacionais racializadas, e consequentemente auxiliar ao alcance da justiça racial.  

 

O racismo sistémico tem um legado histórico de duradouras desigualdades ainda fortemente sentidas. O problema em causa é o fato das Relações internacionais, enquanto disciplina abordarem com lentidão, o papel central do colonialismo e da descolonização na criação da ordem internacional contemporânea.

A esta altura é escusado questionar o fato relações internacionais contornarem esta grave sucessão de desigualdades e crimes de ódio.  É necessário o estabelecimento de diálogos sobre como a política externa deve focar os seus esforços em mudar o ensino e a prática das relações internacionais. Caso contrário, os atuais estudantes de relações internacionais e futuros profissionais, estariam a contribuir para a perpetuação deste sistema altamente desigual desumano.  

Assume-se que a análise das questões raciais é doméstica. Mas o cerne da questão, é o modo como são negligenciadas as diferenças raciais produzidas através dos processos internacionais, que vêm desde há muito tempo, a provar que os Estados são racializados desde o momento da sua emergência, por politiquices imperiais que reproduzem hierarquias raciais até os dias de hoje.  Por isso é levantada a questão de haver uma enorme urgência que os académicos e profissionais das relações internacionais atribuam a devida importância, às histórias coloniais que constituem na formação dos Estados Modernos.

É necessário abordar que a negligência destas questões, é a nível intelectual, e que constituí um grave erro que acarreta consequências profundas para a política no presente. É necessária uma reformulação nos papéis que os atores políticos e as sociedades não ocidentais desempenham, para que o futuro seja diferente.

Um perfeito exemplo é o caso das abordagens que percecionam os africanos comuns apenas como peças de um jogo, que podem ser movidos e agidos. Isso ofusca as suas estratégias, envolvimento e resistência, formando fluxos de poder no sistema internacional. Mas apontar o problema não basta, é preciso apresentar soluções. Prova-se necessário que as Relações Internacionais enquanto prática, abandonem a noção arcaica de ajuda, e comecem a abordar as reparações ao racismo sistémico a nível de políticas externas. E enquanto disciplina, é necessária uma discussão sobre uma modificação nos manuais de RI.  

Outra solução a este problema complexo, seria estipular uma verdadeira uma política externa ética, onde as intervenções a serem feitas por atores internacionais, não sejam somente lideradas pelo ocidente. Há uma tendência de prevalência do ocidente, mas não existem provas históricas de que a presença ocidental tenha melhorado o bem-estar do mundo anteriormente colonizado.

O mainstream das Relações internacionais é silencioso sobre racismo e a colonização, na altura provou-se um maior envolvimento (financeiro, político e técnico) como um dado ético. Conceber um maior envolvimento das RI sobre o racismo e a colonização deveria ser uma regra há muito tempo, e não deve ser concebido como um dado ético da política externa. O que prova como as relações internacionais, baseiam-se num profundo branqueamento da história e no apagamento das contribuições de pessoas previamente colonizadas para a riqueza e os avanços no ocidente. Com o pretexto de ajudar outro Estado, mas com este estudo, prova-se que de fato, toda a noção de ajuda é obscena e racista.

Uma outra solução seria repensar fundamentalmente o propósito da disciplina. Se deve ser feita como uma ciência de status quo, ou como uma ciência da responsabilidade de vida, começando pelas vidas sistematicamente aniquiladas, como as vidas negras.

Começar a levantar estas questões é apenas um começo tardio de uma conversa sobre reparações extremamente necessárias, e não ajudas. Conversa essa, que o atual mainstream das relações internacionais não foi capaz de expandir.

A raça e o império ainda assombram as relações internacionais. E o movimento social Black Lives Matter, fez o que as relações internacionais não puderam fazer, ampliaram a noção da importância que as ideologias de raça têm na dinâmica da política mundial como disciplina das relações internacionais. O movimento demonstrou o quão produtivo o poder da ação coletiva pode ser, ao demonstrar as possibilidades de repensar a história ao serviço de um futuro mais equitativo. Embora seja incontestável o quão vital teria sido o esforço do mainstream das Relações Internacionais, ao abordar questões de domínio imperial e racial e forma mais efetiva.

É factual como os cientistas sociais tornaram legítimo, um mundo estruturado pela exploração imperial e hierarquias raciais. E as Relações Internacionais negligenciaram as questões raciais por muito tempo, com requintes de ignorância e desprezo, devido à compreensão eurocêntrica da história, provinda do ocidente e imposta a todos. O triunfo do ocidente nessa questão importante da estrutura das Relações internacionais, enquanto disciplina e prática, resultou da catástrofe racial que não cessa em assombrar o mundo.  Para que no futuro o cenário mude, é necessária uma condenação à forma como a disciplina ignora as questões raciais a nível de política externa. 



Fonte imagem: Foreign Policy Illustration/1897 Map of the British Empire/Getty Images






 

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