ANA MADALENA LEITÃO argumenta pela necessidade de trazer até à Diplomacia Climática o Smart Power, pelo risco da sua falta de eficácia.
É importante, antes de mais, esclarecer que, ao longo desta análise, iremos considerar a existência de uma Diplomacia Climática, decisão sustentada pelo largo impacto mundial do aquecimento global, que traz consigo diversas questões, tanto locais como geopolíticas, como é o caso de novas migrações com consequentes refugiados climáticos.
O Acordo de Paris apresenta-se como um condutor necessário no que à Diplomacia Climática diz respeito, garantindo a existência de objetivos comuns e responsabilização mútua entre os Estados, com a finalidade de limitar o Aquecimento Global.
Desta forma, este é um Acordo que respeita e transparece a Teoria Liberal face à Política Externa, mostrando que os Estados são capazes de cooperar tendo em vista um bem comum. Indo além desta teoria, focar-nos-emos, ao longo desta análise, na existência e uso dos diversos tipos de poder por parte dos Estados envolvidos nessa mesma cooperação. No entanto, a referência a esta teoria torna-se pertinente pela relação de cooperação, mencionada anteriormente, relação essa que acaba por levar à existência de um desprezo face à importância do desenvolvimento de um hard power no que à Diplomacia Climática se refere, deixando os Estados envoltos numa estratégia baseada apenas em soft power.
Antes de mais, devemos analisar o papel de países preponderantes enquanto atores de política externa, bem como o impacto do seu próprio soft power na temática em causa.
· A União Europeia apresenta-se enquanto um poderoso ator no que a esta Diplomacia se refere, mantendo um punho cerrado na manutenção da sua estratégia, indo além do Acordo de Paris e aplicando o Green Deal.
· Os Estados Unidos da América – responsáveis por 15% da totalidade das emissões de gases de estufa - de Trump, e os Estados Unidos da América de Biden, apresentam relações distintas face a esta Diplomacia. Tendo Donald Trump posto em causa o Acordo de Paris, abandonando-o, e fazendo uso do seu soft power com a intenção de diminuir a popularidade do Acordo e aumentar a sua junto do seu próprio eleitorado. Consequentemente, o então presidente norte-americano, criou um receio internacional face à possível perda de confiança na estratégia adotada, dependendo o sucesso desta, por sua vez, da existência dessa mesma confiança. Em oposição, o atual presidente, Joe Biden, apresentou como uma das suas primeiras medidas o regresso a este Acordo, ressalvando a sua importância.
· A China, fazendo uso da posição de Trump e aproveitando-a para seu próprio benefício, assumiu, junto da ONU, o cumprimento do objetivo da neutralidade carbónica até 2060, juntando-se à luta pela sustentabilidade ambiental. Desta forma, a China posicionou-se enquanto um ator internacional cooperante, distraindo o resto do mundo das suas ofensas no que aos Direitos Humanos se refere e procurando ocupar o papel dos EUA enquanto condutor da política internacional.
· Já em 2020, tanto o Japão como a Coreia do Sul – também eles membros do G20 e, consequentemente, países responsáveis por mais de 80% das emissões mundiais – se juntaram a este compromisso climático, contribuindo para o isolamento americano face ao desprezo pela questão.
Sendo, portanto, possível concluir que, atualmente, o sucesso da Diplomacia Climática, e consequentemente do Acordo de Paris, é, largamente dependente da existência de um soft power, poder esse que tem sido capaz de manter a sua estratégia em andamento.
No entanto, esta dependência extrema da popularidade, e o consequente cumprimento dos seus objetivos por parte dos diversos atores, poderia ter tido um fim devastador se, com a saída dos Estados Unidos da América, outros países o tivessem acompanhado e, desta forma, contribuído para a descredibilização da problemática.
O Acordo de Paris, apesar de estabelecer objetivos comuns e específicos, não estabelece qualquer sanção para o não cumprimento desses mesmos objetivos. Não se revestindo, portanto, dos poderes necessários à sua própria atuação e falhando no desenvolvimento de um hard power, o que poderá, a qualquer momento, pôr em risco os resultados já alcançados.
Resta-nos uma pergunta: poderá uma questão tão frágil sobreviver sem se revestir de uma capacidade de smart power? Isto é, sem uma estratégia desenvolvida de forma completa, conjugando a atuação do soft power com o hard power?
Como já foi possível compreender, os diversos atores parecem aceitar, ao momento atual, a necessidade do trabalho conjunto como forma única de evitar o aumento dos desastres ambientais e as suas consequências políticas, económicas e sociais. No entanto, e tal como já referido nesta análise, os acontecimentos derivados da presidência de Trump, obrigam-nos a questionar se o Acordo de Paris e a Diplomacia Climática teriam sobrevivido a um abandono coletivo.
Concluo esta análise refletindo face à necessidade de revestir a Diplomacia Climática dos meios necessários para o seu proprio desenvolvimento, especialmente enquanto ator investido de smart power, pondo término à sua própria fragilidade, permitindo-lhe a atuação necessária para a concretização do seu objetivo final: a proteção das gerações futuras.
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