MARTA PEREIRA analisa a relação instável entre a China e Taiwan e a intervenção dos Estados Unidos da América enquanto aliados do Estado insular de forma a combater o crescimento da China enquanto potência mundial.
De modo a entender a relação entres estes
dois Estados é essencial conhecer um pouco da sua história que acaba por moldar
a dinâmica que atualmente é conhecida. A instabilidade entre estes dois atores inicia-se em 1949, aquando do fim da Guerra Civil entre as forças comunistas chinesas e as forças nacionalistas
de Taiwan, também conhecida por República da China. Deste confronto, a China (ou
República Popular da China) saiu vencedora, mandando as forças de Taiwan de volta
ao Estado insular.
Posta a vitória das forças comunistas, os nacionalistas deixaram de assumir o
Governo chinês como legítimo, apelando à sua independência. Enquanto isso, a
China recusa o apelo da ilha, afirmando que a mesma faz parte da China.
Embora
os desacordos e confrontos, que tiveram como palco o estreito que separa dos
dois Estados, foi assinado o Consenso de 1992. O acordo, assinado por o partido Koumintang de Taiwan e o Partido Comunista
Chinês, afirma a existência de “One China, Two Systems”. Indiretamente, acaba
por autenticar a premissa de que Taiwan pertence à China, no entanto, sob
regime de um sistema de governo diferente daquele que é praticado no
continente.
Contudo, os conflitos entre os dois atores
apenas acalmaram temporariamente, agravando ainda mais o clima de tensão sempre que existia uma mudança de partido a governar Taiwan. Exemplo disso é o
DPP (Democratic Progressive Party) que não aceita o Consenso feito
anteriormente e, é um forte defensor da independência de Taiwan. Consequentemente,
desde 2019 que assistimos a uma relação cada vez mais oscilante entre Taiwan,
com a sua vontade de independência do território continental chinês, e a China,
uma potência que continua a insistir na ideia de que o território insular é seu
e não está disposto a abdicar.
Tanto
Taiwan como a China têm o interesse e a convicção em conseguir alcançar os seus
objetivos de forma predominante, no entanto, os interesses de cada um são
divergentes e apenas existe a possibilidade de concretizar a vontade de um dos
Estados. Neste contexto, podemos relacionar com a teoria realista exposta por
Stephen Walt em International Relations: One World, Many Theories.
Neste contexto, ambos os Estados têm interesses e motivações divergentes, e
tendo consciência que ambas não são realizáveis simultaneamente, procuram levar
a sua vontade a bom porto, ainda que seja necessário recorrer a meios
militares, levando a conflitos, ou até a uma guerra civil. A teoria realista
apresenta uma abordagem mais pessimista do funcionamento do sistema
internacional, em que os atores não reconhecem uma entidade soberana a eles, e
por esse motivo, o único limite existente para atuação dos Estados é o seu
poderio militar e de influência em relação a outros Estados.
Podem
ainda fazer uso de instrumentos pacíficos, mais concretamente o contacto
unilateral, como a espionagem e propaganda. Como exemplo de espionagem existe o
caso de Taiwan,
em que as suas redes de inteligência de espiões foram denunciadas em direto por
um programa nacional chinês. Já a China aposta na utilização de propaganda belicista contra Taiwan e todos os seus aliados.
Neste
paradigma é também importante dar destaque ao papel dos Estados Unidos da
América como interveniente nesta relação entre Taiwan e a China, como um aliado
com extrema importância para Taiwan. O apoio dos Estados Unidos da América
traduz-se principalmente através de ajuda bélica,
nomeadamente a venda de armas a Taiwan. Esta mesma ajuda nunca foi bem vista
pela China, pois representa uma ameaça à soberania militar que, por norma, o
Estado chinês tem em relação a Taiwan. Neste seguimento, e devido ao
descontentamento perante a constante venda de armas, a China sempre se mostrou
publicamente contra, retaliando através de “sanções contras as empresas norte-americanas envolvidas na venda de armamento a Taiwan”.
No
entanto, o auxílio dos Estados Unidos da América não é desprovido de segunda
intenções. A China tem o objetivo, a longo prazo, de tornar-se a maior potência
mundial, sendo que é nesse mesmo contexto que surge o interesse de manter a
ilha de Taiwan sobre o seu domínio. De maneira a impedir que a China ganhe tal
poder e substitua o lugar dos Estados Unidos, é do interesse da potência
americana tomar o lado taiwanês.
Com
o decorrer das administrações de Obama e de Trump, o apoio a Taiwan sempre foi
claro e garantido. Todavia, com a nova administração de Biden, pairava no ar a
dúvida sobre a posição dos Estados Unidos enquanto aliados de Taiwan, e se a
potencia americana continuaria a apoiar a independência da ilha. Em janeiro de
2021, essa mesma respostas foi obtida quando as frotas norte-americanas
circularam pelo mar do Sul da China de modo a “promover a liberdade das águas”,
transmitindo a ideia de que os Estados Unidos da América, mesmo com a nova
administração de Joe Biden, continuará a ser um aliado ativo na luta pela
independência de Taiwan.
Desde 1949 que a instabilidade reina
na relação entre a China e a ilha de Taiwan, não existindo data provisória para
a conclusão deste conflito entre os dois atores. A China tem o sonho
de alcançar a hegemonia mundial, enquanto Taiwan quer a sua independência
territorial e governamental, apresentando-se os dois fortemente convictos em
concretizar os seus interesses. As intervenções dos Estados Unidos da América
são um elemento provocante, principalmente aos olhos da China, que tem
consciência que o auxílio à ilha é apenas um meio para a atingir um fim, o
crescimento da China enquanto potência mundial.
Fonte do cartoon: Defence Point
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