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Como uma luta de séculos, pelo orgulho e honra, pode pôr em causa a aliança mais velha do Mundo

 



    Luís Rodrigues, ao longo do texto, faz uma descrição do conflito que envolve as Ilhas Malvinas. Para além da contextualização histórica, é feito um apanhado das motivações dos dois países, a importância da descoberta de petróleo na área e o papel de Portugal nesta história.

    Primeiramente, antes de falar da situação atual e onde se encontra Portugal no meio desta guerra de influências, é preciso fazer uma contextualização histórica relativamente ao conflito entre Argentina e o Reino Unido pelas Ilhas Malvinas.

    Começar por referir que a Comunidade científica, até aos dias de hoje, ainda não conseguiu saber ao certo quem descobriu primeiro as ilhas Malvinas, se os espanhóis, se os ingleses. Por um lado, a Argentina defende que foram os espanhóis e que, deste modo, desde a independência argentina entre 1810 e 1818 que o território lhes pertence. Por outro, a Grã-Bretanha afirma que as ilhas foram descobertas através de uma expedição financiada por um inglês, o Lord Farlkland, o que lhes confere legitimidade e soberania face às ilhas. 

    Desde 1766 que as Ilhas Malvinas são palco de uma disputa entre países, inicialmente entre Espanha e Grã-Bretanha, e hoje entre Argentina, desde a sua independência, e a Grã-Bretanha. Para ser mais fácil a compreensão dos conflitos entre o século XVIII e o XX, e não ocupar diversos parágrafos nessa explicação, abaixo incluo uma cronologia dos acontecimentos, retomando na guerra que teve origem no final do século XX. 


Cronologia dos acontecimentos entre 1764 e 1982:

1764 - Primeira povoação fundada em Falkland Oriental (lado Oriental das Ilhas Malvinas), por um navegador francês.

1765 - Os britânicos instalam-se no lado Ocidental.

1770 - Os britânicos são expulsos pelos espanhóis.

1771 - Os britânicos voltam a regressar, ignorando a soberania espanhola. Em 1774 acabam por se retirar de novo.

1820 - Com a independência da Argentina, este proclama a soberania relativa às Ilhas Malvinas.

1831 - Um navio de guerra norte-americano destrói a colonização argentina, vingando-se da detenção de 3 navios norte-americanos que caçavam focas.

1833 - Inglaterra volta à carga e expulsa os restantes militares argentinos das Ilhas e instala um governador.

1965 - A resolução da ONU baseia-se na discussão entre os dois países de modo a encontrar uma solução pacífica.

1982 - A Argentina invade as Ilhas Malvinas e provoca umas guerra.

1990 - A Argentina e a Grã-Bretanha restabelecem relações diplomáticas.

2013 - Os ilhéus votam para continuar a ser um território britânico ultramarino, com 99,8% dos votos. 


    As Ilhas Malvinas apresentam um ponto fulcral em termos estratégicos e geográficos, ou seja, no que toca à Geopolítica. Daí ser um território que a Grã-Bretanha não deixou escapar e lutou para o obter. Para além disso, é uma forma de Inglaterra manter a sua reputação da hegemonia ultramarina. A verdade, é que nos últimos anos várias descobertas fizeram despertar a atenção de muitas potências ocidentais, com os Estados Unidos à cabeça, e também com que fosse reforçada a presença militar nas Ilhas. Mas, antes de falar disso, retomar à questão da guerra de 1982.

    Pois bem, em 1982, depois de desistir das negociações, o General Leopoldo Galtieri lança uma invasão às Ilhas Malvinas que, na altura, eram solo britânico. Esta decisão, mais do que a sua veia de soberania e legitimidade do território, foi uma decisão política. O povo argentino estava desagradado devido à má gestão económica no país e a constantes violações dos direitos humanos, deste modo, a invasão das Ilhas e a sua recuperação, foram um movimento para unir os argentinos e de estes apoiarem o Governo. No entanto, a festa durou pouco. No início foi bastante simples e fácil, pois havia pouca presença militar nas Ilhas para 10,000 tropas argentinas. A verdade, é que apesar dos números, a maioria dos soldados eram pouco experientes e não tinham condições para permanecer no território. Piorando ainda mais a situação argentina, a grande maioria das potências apoiaram a Grã-Bretanha que, com ajuda americana, facilmente retomou ao território. Esta guerra, ainda que curta e não muito sangrenta, não chegaram a mil mortos, mostrou de que a Grã-Bretanha é capaz de tudo para demonstrar a sua supremacia ultramarina. 

    Atualmente, com a descoberta de petróleo nas Ilhas Malvinas em 2010, houve um retomar de movimentações em torno do território. Deixou de ser uma alvo de estratégia geográfica e de soberania nacional, para uma mais valia económica. Mesmo com o fim da guerra e com as "tréguas" entre os países, os conflitos e discórdias parecem inevitáveis à luz da história das Ilhas. Com a recente descoberta petrolífera na área, houve uma mobilização de tropas britânicas para a região e um pedido de diálogo por parte da Argentina, relativamente à soberania das Ilhas, à ONU. Mais, com esta novidade, houve também uma mobilização de potências ocidentais, nomeadamente os Estados Unidos, para a zona.

    A Falkland baseia-se na exportação de recursos energéticos e gás natural, contudo, as reservas de petróleo estão a diminuir rapidamente, a exploração está extremamente acelerada. Desde que foi encontrado petróleo nas Ilhas, que a Grã-Bretanha se tem aproveitado da situação para retirar o máximo de proveito económico possível. Hoje, o petróleo é a principal razão pela luta das Ilhas, deixou de ser um motivo de estratégia de um lado e de soberania do outro, para motivos unicamente económicos. 

    Recentemente, com a Presidência portuguesa da União Europeia, houve uma reunião entre ministros dos Negócios estrangeiros de Portugal e Argentina. Nesta, a Argentina pediu a Portugal considerar as Malvinas uma "zona de litígio" nas negociações com o Reino Unido, de modo a não ser considerado território ultramar da Grã-Bretanha. A verdade é que desde que aconteceu o Brexit, a Argentina tem procurado obter apoio e influência na Europa para ajudar à sua causa. Esta reunião foi mais um exemplo disso mesmo, mas com um entrave no meio, é que a Argentina atualmente também é Presidente da Mercosul e, como tal, ambos os lados têm de zelar pelas relações entre a União Europeia e a Mercosul, especialmente depois do acordo de mercado livre entre as duas instituições. Deste modo, Portugal não tem muitas opções face à questão das Ilhas Malvinas. É uma jogada arrojada por parte da Argentina, mas que pode dar frutos. Para juntar à "festa", este ano é comemorado o bicentenário de uma decisão estratégica que envolve os dois países, Portugal foi o primeiro país a reconhecer a independência da Argentina a 28 de julho de 1821. A esta nota, o Ministro dos Negócios Estrageiros argentino disse: "Em 2021, se a situação epidemiológica permitir, estão previstas celebrações nos dois países".

    Basicamente, e concluindo, Portugal foi apanhado numa guerra que já dura há seculos entre a Argentina e o Reino Unido. Cabe agora à Presidência Portuguesa tomar uma decisão face ao assunto, sabendo que está sob pressão dos dois lados. 

    


Fonte das imagens: SIMANCA & Latuff Cartoons


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