Ana Bento analisa a preocupação de Joe Biden com as alterações climáticas e critica Jair Bolsonaro quanto à situação da floresta da Amazónica pois é certo que nada fazem nem pretendem fazer.
Joe Biden, atual Presidente dos Estados Unidos da América, recebeu no dia 3 de fevereiro um dossier que recomendava a suspensão de acordos entre os EUA e o governo de Jair Bolsonaro no Brasil. Quatro meses depois de fazer críticas públicas contra o desmatamento no Brasil, o presidente Joe Biden e membros do alto escalão do novo governo dos EUA são então confrontados com um documento que condena a aproximação destes dois países nos últimos dois anos. Tanto Biden quanto a vice-presidente Kamala Harris, além de ministros e diretores de diferentes áreas do novo governo, já criticaram abertamente o presidente brasileiro, que desde a derrota de Trump na última eleição assiste a um derretimento em negociações em andamento entre os dois países.
"O governo Biden-Harris não deve de forma nenhuma buscar um acordo de livre-comércio com o Brasil", frisa o dossier, que está organizado em dez grandes eixos: democracia e estado democrático de direito; direitos indígenas, mudanças climáticas e desmatamento; economia política; base de Alcântara e apoio militar dos EUA; direitos humanos; violência policial; saúde pública; coronavírus; liberdade religiosa e trabalho. É sabido que Biden revela preocupação com as alterações climáticas e pelas críticas feitas a Bolsonaro decido às mesmas, nomeadamente à situação na floresta da Amazónia. Posto isto, no conteúdo do dossier é defendido que Biden retire o apoio atual dos EUA para a adesão do Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e questione a participação do Brasil no G7 e G20 enquanto Bolsonaro for presidente.
Sendo que acordos diplomáticos são mais importantes no plano internacional do que o próprio ambiente, a reação por parte do Governo dos EUA foi fraca na minha opinião, pois para mim, é claro de que existem sim relações entre diferentes atores internacionais, mas que estamos longe de atingir a plenitude de uma Sociedade Internacional. Os EUA pretendem continuar a fortalecer os laços económicos e comerciais com o país sul-americano, afirmou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, Secretária de Imprensa da Casa Branca, no dia 8 de fevereiro. "Não vamos nos abster em áreas em que discordarmos, seja quanto ao clima, os direitos humanos ou outra questão", disse Psaki. Existe claramente uma relação económica a ser mantida, daí a cooperação dos EUA. "Somos de longe o maior investidor no Brasil, inclusive em muitas das empresas brasileiras mais inovadoras e focadas no crescimento, e continuaremos a fortalecer nossos laços econômicos e aumentar nosso grande e crescente relacionamento comercial nos próximos meses", afirmou.
Segundo a APEX-Brasil os EUA investiram biliões de dólares
no Brasil e os investimentos brasileiros nos EUA aumentaram 356% entre os anos
de 2008 e 2017.
Durante a campanha eleitoral, Biden pronunciou-se quanto àdestruição da floresta da Amazónia e disse que, caso fosse eleito, pretendia
organizar um pacote de ajuda de 20 biliões de dólares para que o Brasil
preservasse a floresta. Disse também que se o governo brasileiro continuasse
com as mesmas práticas, as consequências económicas seriam significativas, o
que parece ser uma contradição com a situação atual.
Jair Bolsonaro reagiu, dizendo que não aceitava subornos, como se de tal se tratasse, demonstrando a sua falta de preocupação para com o assunto. Afirmou proteger a Amazónia e desmente a corrida à mesma dizendo que se trata apenas de uma cobiça por parte dos países aos recursos lá existentes. Como todos sabemos até agora a situação da floresta da Amazónia só piorou sob o mandato presidencial de Jair Bolsonaro. Exemplo disso é a rede de origem francesa, Carrefour, que aderiu ao programa Adote um Parque (programa do Ministério do Ambiente brasileiro, lançado dia 9 de fevereiro de 2021), enquanto financia simultaneamente o desmatamento das suas árvores, e pior será afirmar que foi a primeira empresa a aderir ao programa no governo de Jair Bolsonaro.
O objetivo seria preservar 75,9 mil hectares de floresta por
ano, mas no fundo assistimos a um fenómeno apelidado de greenwashing, que
consiste em dissimular más práticas enquanto se devia fazer exatamente o
oposto, enquanto agente protetor.
Dia 14 de fevereiro o mundo ficou a saber do encontro que sevai dar entre os dois atores internacionais, Bolsonaro e Biden. Vão reunir-se de forma virtual, num evento global com a participação de vários líderes mundiais, no dia 22 de abril, Dia da Terra. Reunião esta organizada pelos EUA. Ironicamente o tema será precisamente a Amazónia, o que poderá advir de tal evento? Talvez um pequeno teatro com o tema fulcral da preocupação, que nada mais é do que mais uma forma de proteger as interações, especialmente as interações económicas, destes dois países e uma forma de mostrar aos líderes mundiais o que estes já sabem, mas fingem não saber, pois também participam no esquema mediático.
O dossier que Biden recebeu não passou de mais uma tentativa
falhada de salvar o que resta da Amazónia. Esta vai continuar a ser vista como
uma fonte de lucro e jamais como o pulmão do planeta, pelo menos aos olhos das
elites e dos grandes atores internacionais.
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